Já dizia o ditado: vingança é um prato que se come cru. Não à toa, o presidente russo, Vladimir Putin, esperou seis meses desde que os EUA e aliados impuseram uma enxurrada de sanções para frear a invasão da Ucrânia — e só agora começa a dar o troco na Europa.
O líder russo vem usando o gás para forçar a suspensão das sanções em um momento de proximidade do inverno no velho continente — e os europeus estão acusando o golpe.
Nesta sexta-feira (09), os cortes no fornecimento da Gazprom, a gigante do gás da Rússia, forçaram um segundo fornecedor alemão a pedir um resgate ao governo.
O contragolpe russo
Tradicionalmente, os gasodutos russos entram em fase de manutenção em julho. Só que os europeus passaram a achar que Putin usaria esse aperto de parafusos para retaliar as sanções do Ocidente, freando o reabastecimento dos estoques na Europa.
Dito e feito: desde então, a Rússia tem segurado a retomada do fornecimento para a Europa sob várias alegações, incluindo falta de material para os reparos, atrasos no cronograma e até mesmo a decisão deliberada de não enviar o gás até que as sanções sejam suspensas.
E a estratégia de Putin vem abalando uma das maiores economias da Europa: a Alemanha. Mais cedo, a empresa alemã VNG informou que sofreu perdas substanciais devido aos cortes da Gazprom desde o início da invasão da Ucrânia pela Rússia.
A companhia alega impossibilidade de repasse total do aumento dos preços do gás para seus clientes e afirmou que um resgate financeiro era necessário para honrar os contratos existentes.
"As quantidades de gás afetadas por interrupções no fornecimento russo, em alguns casos a preços fixos acordados, agora precisam ser adquiridas a preços mais altos devido à guerra", disse a VNG em comunicado.
A VNG também informou que um contrato existente com a Gazprom Export para 35 terawatts-hora de gás por ano não será cumprido, e que precisou arcar com a perda que custará 1 bilhão de euros (R$ 5,1 bilhões) este ano.
Para se ter ideia do tamanho do problema, a VNG é uma das maiores importadoras de gás natural da Alemanha — e se juntou à Uniper na busca de ajuda do governo para mitigar os efeitos colaterais da guerra entre Ucrânia e Rússia.
A Uniper recebeu inicialmente uma ajuda no valor de 15 bilhões de euros (R$ 77,7 bilhões), que subiu para 19 bilhões de euros (R$ 98,5 bilhões) à medida que a crise de energia na Europa se agrava.
O que Putin quer com isso
E, ao que tudo indica, essa queda de braço entre Putin e os europeus não tem data para acabar.
Na semana passada, a Gazprom informou que os fluxos de gás para a Europa não serão retomados até que as sanções ocidentais sejam levantadas.
Na ocasião, após meses de oferta reduzida, a gigante do gás russo disse que interromperia completamente os envios através do Nord Stream 1, o gasoduto que abastece a Europa Ocidental.
Os europeus, por sua vez, não dão sinais que irão ceder às pressões de Putin — pelo menos até agora.
*Com informações da Bloomberg e do Financial Times