Após uma série de sanções econômicas impostas à Rússia pelos países ocidentais, o governo Putin tenta contra-atacar na mesma moeda. A partir de agora, nações consideradas ‘hostis’ pelo Kremlin precisarão pagar pelo gás russo em rublos — dólares ou euros não serão mais aceitos.
A medida tem como objetivo conter o derretimento da moeda russa, que já amarga uma desvalorização de 30% no ano — apenas no dia em que foram anunciadas as medidas mais drásticas contra o governo Putin, o rublo chegou a cair 20%.
O crescente isolamento da economia russa levou Putin a dar um ultimato: governo e banco central teriam de encontrar uma solução para o problema em uma semana. A saída encontrada foi passar a exigir pagamentos em moeda local, dando a volta nas sanções com a ajuda dos próprios países que decidiram adotá-las.
A Rússia se aproveita de ser responsável pelo fornecimento de 40% de todo o gás utilizado na Europa, o que significa um consumo diário na faixa entre 200 e 800 milhões de euros.
Quem quiser comprar esse gás terá de comprar rublos primeiro, o que garantiria à Rússia acesso à euros e dólares.
A fala teve desdobramentos imediatos no mercado de hidrocarbonetos: o barril de petróleo Brent voltou a valer mais de 120 dólares, e o gás natural também disparou.
Do lado russo, o rublo ganhou alguma força, beirando 6% de ganho até às 14:25. Mesmo assim, desde o início da guerra a moeda russa já recuou quase 17%.
Problemas para a Europa
Mas… quem a Rússia considera como nação hostil? A lista inclui importantes compradores do gás russo, como toda a União Europeia e a Grã-Bretanha. O grupo concentra aproximadamente 70% do gás que a Rússia exporta.
A Alemanha, principal economia da UE e dependente do gás vindo da Rússia, ainda não se pronunciou sobre a decisão. Mas o segundo maior comprador de gás da Europa, a Itália, não gostou nada da ideia.
O conselheiro para assuntos econômicos do primeiro-ministro italiano, Francesco Giavazzi, disse, em evento da Bloomberg, que pagar em rublos enfraqueceria o regime de sanções adotado pelos países europeus.
Interrupção no fornecimento
E os problemas não param por aí: quem compra gás diretamente da Gazprom, estatal russa que detém o monopólio para exportação do combustível, também poderá enfrentar grandes desafios.
A exigência de pagamento em rublos pode levar a renegociações contratuais — o que poderia culminar numa interrupção no fornecimento, mesmo que temporária. Isso agravaria a crise energética na Europa, já que aproximadamente 58% de todo gás exportado pela Gazprom é pago em euros, e 39% em dólares.
Nos primeiros 15 dias deste mês, a empresa exportou diariamente uma média de 384 milhões de metros cúbicos de gás para toda a Europa.
*Com informações da Bloomberg e da Al Jazeera