No mundo existem três tipos de alerta: o amarelo, que significa uma situação potencialmente perigosa; o laranja, no qual o perigo é real; e o vermelho, que indica perigo real e imediato. A relação entre EUA e China entrou nesta quinta-feira (04) em alerta laranja.
A luz amarela acendeu quando a presidente da Câmara dos Deputados norte-americana, Nancy Pelosi, resolveu visitar Taiwan — a peça que falta para a reunificação da China.
Antes da chegada de Pelosi à ilha, na terça-feira (02), caças chineses intensificaram os sobrevoos nas proximidades do espaço aéreo de Taiwan em um sinal das possíveis consequências da viagem.
Vale lembrar que uma visita desse quilate não acontecia em um quarto de século e foi considerada por Pequim como uma provocação.
Pelosi não ficou nem 24 horas em Taiwan, mas foi o suficiente para despertar a ira do presidente chinês, Xi Jinping — que respondeu com os maiores exercícios militares já realizados até então sobre a região.
Japão, o efeito colateral da crise entre EUA e China
A China anunciou na terça-feira, dia em que Pelosi chegou a Taiwan, que realizaria alguns de seus exercícios militares de maior escala, incluindo lançamentos de mísseis balísticos.
Nesta quinta-feira (04), o Ministério da Defesa do Japão informou que cinco mísseis balísticos lançados pelos militares chineses durante os exercícios em torno de Taiwan caíram na zona econômica exclusiva (ZEE) do Japão — uma área que se estende a 370 quilômetros da costa do país — pela primeira vez.
De acordo com os relatos de Tóquio, os cinco mísseis caíram em águas a sudoeste da ilha de Hateruma, na província de Okinawa. O governo japonês fez um protesto diplomático contra Pequim por conta dos mísseis.
Mas o que o Japão tem a ver com a crise entre EUA e China? A primeira coisa a se ter em mente é que os japoneses são aliados dos norte-americanos na Ásia.
Além disso, Taiwan é uma importante fabricante de semicondutores que fica em rotas marítimas cruciais que fornecem grande parte da energia ao Japão.
Autoridades japonesas de alto escalão — incluindo o falecido ex-primeiro-ministro, Shinzo Abe — disseram que um ataque chinês à Taiwan também representaria uma emergência para Tóquio.
Por isso, mesmo que os recentes exercícios de mísseis chineses estejam ostensivamente focados nos EUA e em Taiwan, eles também são um aviso claro para o Japão, segundo especialistas, que chamam atenção para algumas ilhas distantes do sudoeste imprensadas entre as zonas de exercício.
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O histórico dos exercícios chinês
A China enviou repetidamente navios de guerra e aviões de guerra para essa área nos últimos anos como parte do que diz ser operações de treinamento de rotina.
Pequim também realizou exercícios militares perto de Taiwan durante o que é conhecido como a Terceira Crise do Estreito de Taiwan, em 1995-1996.
Mas os exercícios anunciados na terça-feira (02) abrangem uma área muito maior do que essas manobras e incluem grandes áreas ao nordeste e leste de Taiwan, de onde as forças norte-americanas e japonesas provavelmente chegariam no caso de serem enviadas para ajudar Taipei após qualquer invasão chinesa.
G-7 e China, um novo embate
Uma declaração conjunta dos ministros das Relações Exteriores do G7 (grupo formado por Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão e Reino Unido) alertou que a resposta escalada da China arrisca aumentar as tensões e desestabilizar a região.
O G7 também justificou a visita de Pelosi a Taiwan dizendo que é rotina para os legisladores de seus países viajarem internacionalmente.
A China não gostou do que leu. O ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, rejeitou a declaração e repreendeu o G7 por ignorar a provocação que veio do lado dos EUA.
"Crítica sem fundamento à China por tomar tais medidas, que são medidas razoáveis e legítimas para salvaguardar sua soberania e integridade territorial", disse Wang em comunicado divulgado por seu ministério.
Em resposta à reação do G7, o Ministério das Relações Exteriores chinês informou nesta quinta-feira que (04) o cancelamento de uma reunião entre Wang e seu colega japonês à margem dos eventos da Associação dos Países do Sudeste Asiático (Asean), no Camboja.
*Com informações da Reuters e do Japan Times