Na esteira dos anúncios de política monetária dos bancos centrais pelo mundo, o Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês) adotou uma postura pouco comum neste momento entre as economias mais desenvolvidas do mundo, que lutam contra a inflação — mas não sem uma reação do governo japonês ao câmbio.
O BoJ manteve os juros inalterados na sua mais recente decisão, à taxa de 0,1% negativo ao ano — ainda que a inflação tenha atingido as máximas em oito anos.
Entretanto, o governo japonês enfrenta uma forte desvalorização do iene frente ao dólar e interveio no câmbio pela primeira vez em 24 anos.
De acordo com dados do Investing, o iene levou um tombo de 3,47% nas primeiras horas do pregão desta quinta-feira (22) frente ao dólar, partindo de 145,75 para 140,69 nas mínimas, mas recuperou parte da queda.
A valorização acontece em um momento tenso para o Japão. O iene já perdeu cerca de 23% do valor ante o dólar em 2022, o que dificulta as exportações japonesas e a retomada da economia local.
Iene e dólar: décadas de estabilidade
Para entender como funciona a dinâmica de uma moeda frente ao dólar, tomemos como exemplo o Brasil.
O dólar forte — cada moeda norte-americana compra cerca de R$ 5,20 — é benéfico para as exportações, mas dificulta a importação de produtos, além de encarecer alguns itens do cotidiano.
O caso do Japão
Do contrário, com o dólar relativamente mais fraco, os produtores tendem a privilegiar o mercado doméstico com menos exportações.
O problema é que o Japão atingiu um platô de desenvolvimento econômico em que esse deságio no câmbio não gera tantos benefícios como em outros países.
Até os anos 1980, a economia japonesa vivia com certa instabilidade, algo que foi resolvido nas décadas seguintes. Na sequência, BoJ tenta gerar inflação desde essa época para movimentar os negócios — sem muito sucesso: desde 2016, os juros por lá seguem entre 0% e -0,1%.
BoJ deixa tudo como está
Haruhiko Kuroda, presidente do BoJ, reiterou que espera manter as taxas de juros em níveis baixos e disse que considera "apropriada" a atual postura da entidade.
Em coletiva de imprensa, Kuroda disse que o BoJ monitora cuidadosamente a recente desvalorização do iene. Ainda assim, ele ressaltou que poderá até ampliar a dose de relaxamento caso a economia exija. "Não planejamos subir juros neste momento", disse.