Não é novidade para ninguém que os últimos meses têm sido movimentados na Americanas (AMER3): a empresa passou por uma enorme reestruturação interna, de modo a simplificar sua organização, aumentar a liquidez de seus papéis e destravar valor aos investidores. E, agora que essa etapa foi concluída, a gigante do e-commerce anunciou um novo passo que mexe diretamente com o interesse de seus acionistas.
Como diz o seu slogan, "relaxa, na Americanas você acha" — inclusive ações AMER3. A companhia dará início a mais um programa de recompra de ações envolvendo até 17,5 milhões de papéis; a quantia representa 2,8% do total em circulação no mercado.
"O objetivo da operação é dar continuidade ao plano de aquisição de ações para maximizar a geração de valor para os acionistas, por meio de uma administração eficiente da estrutura de capital", diz a Americanas, em fato relevante enviado à CVM.
Os papéis, no entanto, não poderão ser encontrados num marketplace por aí: segundo a própria Americanas, as ações recompradas poderão ser usadas nos programas de remuneração, mantidas em tesouraria, canceladas ou vendidas posteriormente, em operações no mercado.
AMER3 e o inferno astral do e-commerce na bolsa
O anúncio da Americanas não chega a causar espanto, considerando o mau desempenho de suas ações. Os papéis AMER3 até exibem um ligeiro tom positivo em 2022 mas, em um ano, amargam perdas de mais de 60%.
Ela, no entanto, não está sozinha nesse barco. Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3), outras duas gigantes do e-commerce nacional, acumulam baixas ainda mais intensas no mesmo período de tempo. Tudo por causa da percepção negativa do mercado em relação ao futuro do setor.
Com a reabertura gradual da economia, a demanda pelo e-commerce começou a mostrar uma tendência de desaceleração no país — o comércio online ainda cresce, mas num ritmo bem mais lento que o visto no auge da pandemia. Em paralelo, as lojas físicas dessas empresas não têm tido um desempenho tão forte quanto o imaginado.
A Selic cada vez mais alta também prejudica o segmento, uma vez que juros elevados desestimulam o consumo e diminuem a concessão de crédito. Por fim, a concorrência crescente dos grandes players globais do e-commerce no mercado brasileiro — Mercado Livre, Amazon, Shopee e Aliexpress são alguns dos nomes fortes por aqui — também pressiona as ações da Americanas, Magalu e Via.
Americanas: o que mudou?
A reorganização societária da Americanas foi feita para simplificar a estrutura organizacional da companhia: antes, ela era dividida entre a holding Lojas Americanas (LAME3 e LAME4) e a controlada Americanas S.A. (AMER3), que concentrava as operações das lojas físicas e dos canais digitais.
Ou seja: eram duas companhias de capital aberto, com perfis semelhantes e nomes quase idênticos — uma situação com potencial para gerar enormes confusões na cabeça dos investidores.
Pois bem, agora tudo está mais direto: a Lojas Americanas foi incorporada à Americanas S.A., e suas bases acionárias foram unificadas; os papéis LAME3 e LAME4 foram tirados de circulação, restando apenas AMER3. Cerca de 30% da companhia segue nas mãos dos megainvestidores Jorge Paulo Lemann, Carlos Sicupira e Marcel Telles, com os 70% restantes permanecendo em circulação no mercado.
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