A Amazon era vista como um dos eventuais elos fracos entre as big techs: com uma recessão econômica rondando os EUA, inflação nas alturas e menor demanda do e-commerce no pós-pandemia, muitos duvidavam da empresa de Jeff Bezos. Mas, ao menos no segundo trimestre, a companhia deu um sinal de força, com vendas acima do esperado.
O balanço, divulgado há pouco, mostra que a Amazon teve uma receita líquida total de US$ 121,2 bilhões entre abril e junho deste ano, alta de 7,1% em relação ao mesmo período do ano passado. A cifra superou a média das projeções de analistas consultados pela Bloomberg, que apontava para vendas de pouco mais de US$ 119 bilhões.
Como resultado, as ações da Amazon disparam no after market em Nova York: por volta de 17h08 (horário de Brasília), tinham forte alta de 11,84%, a US$ 136,90; no pregão regular, os papéis AMZN subiram 1,08%, a US$ 122,28.
Amazon: vendas fortes, mas com prejuízo grande
Apesar da reação amplamente positiva do mercado, nem tudo foi positivo no balanço da Amazon. A empresa teve prejuízo líquido de US$ 2 bilhões, revertendo parte dos ganhos de US$ 7,8 bilhões reportados há um ano; o prejuízo por ação foi de US$ 0,76, muito pior que a previsão da Bloomberg, de lucro de US$ 0,52.
Esse resultado negativo, no entanto, é explicado por fatores não-recorrentes, em especial os gastos não-operacionais de quase US$ 4 bilhões com o investimento feito na fabricante de veículos elétricos Rivian — cotadas atualmente a US$ 33,85, as ações dessa empresa já recuaram mais de 80% desde as máximas nas últimas 52 semanas.
O ambiente macroeconômico mais complexo também foi sentido no balanço: a linha de custos operacionais, por exemplo, saltou 11,9% em um ano, para US$ 118 bilhões. Como resultado, o lucro operacional da Amazon no segundo trimestre foi de US$ 3,3 bilhões, baixa de 56,9% entre os períodos.
E quase todos os componentes dessa linha tiveram um aumento entre abril e junho deste ano: os custos dos produtos vendidos cresceram, os gastos com tecnologia e conteúdo avançaram, as despesas com vendas e marketing ficaram maiores e assim em diante.
É um reflexo da inflação elevada e dos custos maiores associados ao varejo — gastos com logística e frete ficaram maiores, em meio à disparada dos combustíveis, entre outras questões. E esse salto nos custos, associado às perdas com a Rivian, colocaram a Amazon no vermelho.
"Apesar da continuidade nas pressões inflacionárias, estamos fazendo progressos nos custos mais controláveis, melhorando em particular a produtividade de nossa rede", disse Andy Jassy, CEO da Amazon, em mensagem aos acionistas.
Computação em nuvem é destaque
Em termos de unidade de atuação, destaque para a Amazon Web Services (AWS), responsável pelos serviços de computação em nuvem. A divisão teve receita líquida de US$ 19,7 bilhões, ficando ligeiramente acima do projetado pela Bloomberg, de US$ 19,4 bilhões.
Mais que isso: as atividades da AWS geraram, sozinhas, um lucro líquido de US$ 5,7 bilhões, alta de 36,3% em relação ao segundo trimestre de 2021. Ao longo do período, a Amazon conquistou clientes como a Delta Air Lines, a Riot Games, a BT e o Jefferies à lista de usuários de seus serviços em nuvem.
O bom desempenho da AWS contrasta com o das demais divisões da Amazon. As atividades de varejo nos EUA tiveram receita líquida de US$ 74,4 bilhões (+10% a/a), mas prejuízo de US$ 627 milhões; o braço internacional de e-commerce teve vendas de US$ 27,1 bilhões (-11,9%) e perdas de US$ 1,8 bilhão.
Amazon: o que vem por aí?
A companhia também forneceu algumas projeções para o resultado do terceiro trimestre, com destaque para a receita líquida que deve ficar na faixa de US$ 125 bilhões e US$ 130 bilhões — um crescimento de 13% a 17% em relação ao mesmo período do ano passado, e acima do que foi visto entre abril e junho.
Vale ressaltar que a Amazon também antevê um impacto negativo da ordem de 4% na receita líquida do terceiro trimestre em função do fortalecimento do dólar em escala global, e que a faixa fornecida já contempla esse efeito. Ou seja: mesmo com as questões cambiais, a empresa vê espaço para crescer.
Há, também, uma segunda informação relevante: as projeções da Amazon assumem que a companhia não fará novas fusões e aquisições até setembro — na semana passada, foi anunciada a compra da One Medical, por US$ 3,9 bilhões, num movimento para expandir a atuação do grupo no setor de saúde.
*Atualiza às 17h26: ao contrário do informado originalmente, a Amazon teve prejuízo de US$ 2 bilhões. O lucro de US$ 7,8 bilhões a que o texto original fazia menção foi reportado no segundo trimestre de 2021. A matéria já está corrigida — pedimos perdão pelo erro.