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QBTC11: B3 ganha primeiro ETF 100% Bitcoin da América Latina

Com o QBTC11, o Brasil ganha a primeira forma regulada de exposição direta à negociação de Bitcoins. Por ser um ETF Monoativo, comprar e vender cotas do QBTC11 é quase como operar o criptoativo.

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23 de junho de 2021
10:06 - atualizado às 11:41
Imagem: Imagem: Shutterstock, com intervenção de Luiza Dadoorian

Investidores brasileiros agora podem ganhar exposição direta à negociação de bitcoins através do QBTC11, o primeiro ETF 100% bitcoin da América Latina. Autorizado pela CVM e listado na bolsa brasileira, a B3, o ETF utiliza o mesmo índice de referência dos contratos futuros de Bitcoin da CME Group, o CME CF Bitcoin Reference Rate.

O ETF 100% Bitcoin da QR Asset Management, gestora de recursos do grupo QR Capital, iniciou sua oferta primária no último dia 8. Com o BTG Pactual como coordenador líder, o Sindicato da oferta contou também com a participação da Easynvest, Órama, Vitreo, ModalMais e Banco Inter.

Tendo iniciado a livre negociação de cotas na Bolsa de Valores nesta quarta (23), o QBTC11 se torna o quarto ETF 100% Bitcoin do mundo, lançado com apenas quatro meses de diferença para os três ETFs canadenses que o antecederam. Em comparação análoga, a diferença entre o primeiro ETF de ouro do mundo e o primeiro ETF de ouro do Brasil é de 18 anos.

A celeridade na aprovação de um produto disruptivo coloca o país na vanguarda do mercado de criptoativos. Com o aval da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o Brasil se torna o segundo país no mundo a ter um ETF 100% Bitcoin, logo após o Canadá.

Além disso, o ambiente regulatório positivo atrai olhares internacionais para o Brasil. Como a CVM é uma autarquia filiada a International Organization of Securities Commissions (IOSCO), associação responsável por definir padrões utilizados nos mercados de capitais em mais de cem países, a negociação do ETF brasileiro pressiona as demais agências reguladoras filiadas à IOSCO a aprovarem produtos similares em seus países.

O fenômeno, chamado na literatura de Benchmark Regulation, se intensifica ainda mais à medida que a Ontario Securities Commission (OSC), reguladora do mercado financeiro canadense também filiada à IOSCO, permitiu a negociação de ETFs 100% Bitcoin no país.

Poucas semanas após a enxurrada de aprovações, Hester Peirce, Comissária da Securities and Exchange Commission (SEC), afirmou à Bloomberg que “a aprovação de um ETF de Bitcoin pela SEC está muito atrasada”. A reguladora do mercado financeiro americano, também filiada à IOSCO, recebeu seis pedidos de ETFs 100% Bitcoin após a aprovação dos produtos canadenses e brasileiros.

QBTC11. Uma nova forma de negociar Bitcoins

Com o QBTC11, o Brasil ganha a primeira forma regulada de exposição direta à negociação de Bitcoins. Por ser um ETF Monoativo, comprar e vender cotas do QBTC11 é quase como operar o criptoativo.

A ideia por trás de um ETF 100% bitcoin é ancorar a segurança jurídica ao melhor desenho de produto possível e oferecer uma opção segura, fiscalmente eficiente e completamente regulada a todo tipo de investidor que deseja exposição direta ao Bitcoin. 

Apesar da facilidade de se utilizar corretoras de ativos digitais não reguladas, muitos investidores institucionais não podem alocar o criptoativo comprado nessas corretoras especializadas diretamente em suas carteiras por conta de restrições operacionais e legais.

Como nenhuma corretora de criptoativos é certificada por reguladores brasileiros, grandes investidores, gestores de fundo e family offices evitam operar Bitcoin de forma direta.

Além disso, por mais disruptivo que o bitcoin seja, sua custódia não é tão simples. Para muitos investidores do chamado “varejo”, o criptoativo ainda é uma tecnologia distante. Apenas na tarefa de adquirir um Bitcoin, o investidor precisa comprar o ativo digital na corretora que mais confia, escolher qual o tipo de carteira que melhor condiz com sua necessidade, transferir os Bitcoins da sua corretora para sua carteira através de uma chave privada criptografada e, por fim, realizar a custódia do próprio BTC.

Para Fernando Carvalho, CEO da QR Capital, o QBTC11 universaliza a adoção do Bitcoin à medida que remove barreiras na operação do criptoativo: “Por ser um ETF listado na B3, o produto é amplamente acessível nas plataformas das corretoras tradicionais brasileiras. Basta digitar o ticker “QBTC11” no terminal/home broker da sua corretora de preferência para ganhar exposição direta à negociação de Bitcoins”.

O 1º  ETF 100% Bitcoin da América Latina também tem alta liquidez, já que é possível negociar as cotas do fundo “em tela” com celeridade, facilidade e com a mesma liquidação financeira, em dois dias úteis, do mercado acionário tradicional. Estas características são  possíveis graças à aderência do QBTC11 ao mesmo índice que referencia os contratos futuros negociados na maior bolsa de derivativos do mundo, a CME (Chicago Mercantile Exchange).

O índice de referência adotado pelo QBTC11, o CME CF Bitcoin Reference Rate permite ao ETF ser aderente a um dos índices mais longevos, seguros e amplos do mercado. O CME CF Bitcoin Reference Rate foi elaborado pelo CME Group em conjunto com a CF Benchmarks e realiza a precificação do bitcoin seguindo uma média entre os valores spots negociados nas maiores exchanges reguladas de Bitcoin do mundo.

Dessa forma, a marcação de preço do índice mitiga eventuais problemas de menor liquidez em corretoras específicas, tendo como referência uma média. Com isso, a depender da oferta e demanda, surge a possibilidade de negociar o valor das cotas do fundo com prêmio ou desconto.

Por fim, com taxa de administração de 0.75% ao ano e uma tributação mais amigável do que fundos multimercado, o QBTC11 é atraente porque é, também, a forma mais barata de conseguir exposição ao Bitcoin de maneira regulada. Sem come-cotas, IOF ou tarifas escondidas em operações offshore.

QBTC11. Uma proteção ao risco cambial

Apesar do resultado empolgante de alta de 1,2% no PIB do 1º trimestre de 2021, a economia brasileira ainda está extremamente fragilizada devido às medidas emergenciais de combate à pandemia e vem se recuperando do maior déficit primário de sua história, de R$ 702,9 bilhões. O Brasil caminha a passos largos para seu segundo maior déficit primário em 2021.

Estimativas do Instituto Fiscal Independente (IFI) sugerem um rombo de R$ 266,6 bilhões neste ano. Além disso, simulações realizadas pelo Instituto apontam que apenas voltaremos a apresentar superávit primário em 2031. Caso a previsão se concretize, o Brasil deve passar por 17 anos seguidos de déficit.

A inflação também não demonstra sinais de cansaço. Com o IPCA acumulando 8,06% em 12 meses em maio, quase 3 pontos percentuais acima do centro da meta, e o IGP-M acumulando alta de 37,04% nos últimos 12 meses, o poder de compra do brasileiro vem reduzindo de forma dramática.

A verdade é que a inflação não foi embora, ela sempre acompanhou nossa moeda. Desde o começo do Plano Real, em julho de 1994, o poder de compra do brasileiro já reduziu em pouco mais de 85%.

O cenário fica ainda mais nebuloso quando observamos a trajetória do câmbio. Após ser negociado a quase R$ 6,00 em maio de 2020, o dólar reduziu sua escalada. O motivo está na mudança da orientação da política monetária do Banco Central, com subsequentes aumentos na Taxa Selic. Mesmo assim, atualmente a moeda americana troca de mãos a aproximadamente R$ 5,00, uma alta de 25% desde o começo de 2020.

Apesar da mudança na orientação da política monetária ser necessária, ainda corremos o risco de uma nova desvalorização cambial caso o Federal Reserve (FED) se predisponha a iniciar a redução dos estímulos e a sinalizar mais fortemente a elevação dos juros.

Se considerarmos as consequências das últimas vezes que o FED decidiu aumentar os juros, um cenário negativo para o preço dos ativos surge no horizonte. Em 2015 vivenciamos uma grave crise. Em 2004 e 1999 sofremos com o câmbio. Em 1989, 1984 e 1980 pavimentamos o caminho para uma década perdida. Por que agora, depois da maior expansão do balanço da história americana em tempos de paz, seria diferente?

Apesar de um aumento nos juros ainda neste ano ser improvável, o Consumer Price Index (CPI) já alcança 5% nos últimos doze meses e vem levantando dúvidas sobre a condução da política monetária pelo FED. Um número que assusta pode ser encontrado no gráfico abaixo:

Segundo dados do Federal Reserve of St. Louis, considerando os Ativos Totais do FED, 37% foram adicionados desde o começo da Pandemia. Os demais 63% foram adicionados entre 1913 e 2019. Uma inflação de ativos desta magnitude deve, muito provavelmente, pressionar a inflação americana ao longo de 2021 e induzir o Banco Central americano a mudar sua condução da política monetária.

QBTC11. Um ativo descorrelacionado em sua carteira

Neste novo cenário, o bitcoin ganha uma vantagem comparativa ao dólar, visto que possui uma política monetária estabelecida no próprio protocolo que é imutável, portanto verdadeiramente escassa. Da sua oferta máxima de 21 milhões de unidades, 89% já foi minerada e até 2140 os demais 11% entrarão em circulação. Após isso, é impossível ampliar o número de Bitcoins na rede.

Essa escassez e a anti-fragilidade do ativo tem levado grandes investidores e antigos críticos a chamarem o bitcoin de “Ouro Digital”. Segundo o JPMorgan, um dos maiores questionadores do BTC, o criptoativo pode alcançar o preço de R$ 730 mil caso investidores institucionais continuem acreditando na tese de substituição do ouro. Além disso, Paul Tudor Jones, lendário investidor de Wall Street, recentemente comentou que “o Bitcoin é a expressão da consistência matemática. É uma escolha racional em relação à fé na confiança e consistência da natureza humana”.

Em pesquisa realizada pela deVere, quase 70% dos chamados “Millennials” preferem o bitcoin ao ouro quando o assunto é reserva de valor. À medida que a geração da internet envelhece e ganha poder aquisitivo para ditar o mercado, o criptoativo pode observar uma onda de adoção ao longo das próximas décadas.

Além disso, por ser um ativo relativamente novo, o Bitcoin tem baixa correlação com as demais classes de ativos. Isso, do ponto de vista da elaboração de portfólio, é uma das maiores vantagens do criptoativo. Um exemplo claro disso se encontra abaixo.

A QR Capital realizou uma simulação com três carteiras entre janeiro de 2015 e junho de 2021. A primeira é 50% alocada em Ibovespa e 50% alocada em CDI. A segunda carteira tem 49% de CDI, 49% de Ibovespa e 2% em Bitcoin. Por fim, a terceira carteira tem 47,5% de CDI, 47,5% de Ibovespa e 5% de Bitcoin.

A carteira sem Bitcoin demonstrou um amargo resultado de 112% ao longo dos últimos seis anos. Enquanto isso, a carteira com 2% de Bitcoin alcançou 569% e a carteira com 5% de Bitcoin alcançou 1256% no mesmo período.

Ter 5% de Bitcoin em sua carteira pode ampliar consideravelmente seus ganhos sem alterar muito o seu perfil de risco. No fim do dia, a maior ameaça que o Bitcoin pode representar ao seu portfólio é o fato de você não ter nenhuma exposição ao ativo.

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