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EXCLUSIVO: Após fim de casamento com a Caixa em seguros, Wiz vai atuar com crédito imobiliário

Heverton Peixoto, CEO da Wiz

Heverton Peixoto, CEO da Wiz

O fim de um casamento de 47 anos naturalmente surpreende a todos. Depois de tanto tempo de união, é inevitável que surjam dúvidas sobre o que aconteceu e o que será das partes a partir de agora.

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Os questionamentos são pertinentes. Casais há tanto tempo juntos podem encontrar dificuldades para recomeçar. Mas alguns conseguem superar o momento e encaram isso como uma oportunidade de se reinventar, experimentar novas coisas, crescer.

Essa foi a experiência que a Wiz (WIZS3) enfrentou quando a Caixa chegou e pediu para rediscutir a relação. Assim como pessoas, companhias criam hábitos, rotinas, ficam acostumados a uma determinada forma de ser e se comportar. Quando vem uma ruptura do tipo, também acabam ficando perdidos.

Não é tarefa simples para ninguém ter que recomeçar após tantos anos de história. No caso da Wiz, a questão é ainda mais complexa. Ela nasceu em 1973 como uma corretora que prestava serviços exclusivamente para a Caixa, intermediando a venda de seguros dentro do banco. Nunca teve experiência lidando com outras companhias e produtos.

Tudo mudou a partir de agosto de 2018, quando o banco estatal resolveu abrir um processo competitivo para alterar a relação com o prestador de serviços da Caixa Seguridade.

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Não é spoiler para ninguém (pelo menos para aqueles que acompanham o setor) que a Wiz não foi selecionada para seguir como co-corretora no balcão de seguros do banco. Mas ao invés de entrar numa crise existencial, ficar chorando o fim desse longo relacionamento, a empresa passou por um processo de diversificação de negócios, abrindo novas frentes de negócios com novos parceiros.

Dizem que há males que vêm para o bem. Para a Wiz, o fim da parceria com a Caixa abriu novas perspectivas que a administração agarrou com força e seguiu em frente. Livre das limitações que o acordo impunha, a empresa está direcionando sua atuação para além do segmento de seguros.

E um mercado que a Wiz está preparando sua chegada é o mercado imobiliário, com direito a crédito, como adiantou para mim, em primeira mão, o CEO da companhia, Heverton Peixoto.

Novo capítulo

O fim da parceria com a Caixa foi bem lamentado pelos acionistas da Wiz, como podemos ver no desempenho das ações – no acumulado deste ano, os papéis da companhia registram queda de 14,8%. Em 2020, o recuo foi de 43,6%.

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A preocupação é compreensível, porque quase 70% da receita da companhia vinha do balcão da Caixa. A possibilidade de fim da parceria já estava dada, porque o contrato mais recente estava marcado para expirar justamente em 2021. Depender de um único cliente, com um acordo com prazo para acabar, foi algo que prejudicou o valuation da companhia desde 2015, quando realizou sua oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês).

Então quando veio a notícia que a Caixa abriria um processo competitivo, um sinal de que a renovação do contrato de serviços não seria tão fácil como se esperaria, e com termos não favoráveis, Peixoto sabia que seria preciso se mexer, e assim o fez.

Nos últimos dois anos, a Wiz abriu novas frentes de atuação, fechando seis novas parcerias, dentro da estratégia de alavancar a distribuição de produtos financeiros e seguros em balcões de parceiros e terceiros.  

No começo deste ano, a empresa firmou uma joint venture com a rede de concessionárias Caoa, que terá exclusividade de 20 anos na exploração para a oferta, distribuição, promoção e comercialização de seguros e produtos financeiros, e outra com o Itaú (ITUB4), por meio da Itaú Administradora de Consórcios, para a comercialização de produtos de consórcios.

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Há ainda a parceria firmada com o Banco Inter (BIDI11), em 2019, em que oferece uma série de produtos na parte de seguros, de seguro para pet à compra de imóvel, até os tradicionais residencial, automóveis e vida, mais planos de previdência privada e consórcios.

E tem também o acordo estabelecido com o Banco BMG (BMGB4), no ano passado, para exploração da distribuição de seguros, e que já agregou para o resultado da companhia – no quarto trimestre, a parceria resultou na incorporação de mais R$ 24,2 milhões à receita da companhia, que somou R$ 262,5 milhões, alta de 28% em relação ao mesmo período de 2019.

A Wiz BPO, que atua com soluções para toda a cadeia do mercado segurador e de crédito – da pré-venda, venda e pós-venda, com serviços como regulação de sinistros, execução de esteira de produtos e gestão eletrônica de documentos –, passou a representar 10,7% na receita bruta total da companhia, mesmo tendo pouco mais de dois anos de atividade. A Wiz Parceiros, que engloba de acordos como o do Itaú, respondeu por outros 7,3%.

“Tudo isso foi feito após agosto de 2018”, diz Peixoto. “A gente vem nesses últimos três anos investindo no amadurecimento das soluções da Wiz e agora elas estão dando retorno.”

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Novo mercado

Diante do bom desempenho destas empreitadas, a Wiz parte para uma nova empreitada. Com exclusividade para o Seu Dinheiro, Peixoto anunciou a entrada da empresa no mercado imobiliário, em que passará a oferecer financiamento, refinanciamento, seguros e até fiança locatícia.

O projeto, segundo ele, consiste em construir uma plataforma que conecte as imobiliárias ao mercado de seguros imobiliários e ao mercado de crédito, tanto para financiamento quanto para refinanciamento. Os recursos para os financiamentos virão da Wiz Capital, gestora de ativos da empresa, junto a investidores institucionais.

"Quando a pessoa for para a imobiliária, ela vai ter toda a solução lá. Ela já vai conseguir abrir conta corrente, financiar a casa dela, não vai precisar ir a uma instituição financeira ou até na Caixa. Ela já vai conseguir fazer o seguro residencial, já consegue fazer a vistoria, o seguro fiança locatícia, que substitui o velho fiador. Tudo isso dentro de uma plataforma unificada, que consegue transformar a imobiliária em um banco"

Aos interessados, um aviso. A plataforma ainda está em fase de desenvolvimento, e Peixoto não quis dar um prazo de quando será lançada, nem informou quanto está sendo investido no projeto. Ele afirmou que por priorizar o desenvolvimento interno tecnológico, e para garantir um lançamento bem-sucedido, a Wiz não possui pressa de lançar produtos.

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“A gente criou a Wiz Conseg [distribuidora de seguros e produtos financeiros em concessionárias] em abril do ano passado, e a gente passou nove meses desenhando ela como ela é hoje, para ser a melhor plataforma que conecta a concessionária de veículo com o mercado segurador”, disse.

Dois anos até recuperar

Peixoto demonstrou muito otimismo com o futuro e o retorno potencial desses projetos na nossa conversa, mas admitiu que a Wiz ainda sentirá as consequências do fim da parceria com a Caixa.

“Tem muitos projetos já engrenando. Agora, é difícil quando você perde a maior parte da sua receita, demora um tempo para recuperar. Não vai ser esse ano que a gente vai recuperar tudo aquilo que foi impactado pela Caixa”, disse.

A Wiz seguirá prestando serviços à Caixa Seguridade até agosto, ajudando na transição à corretora proprietária e às co-corretoras selecionadas no processo competitivo. Nessa fase, haverá redução gradativa e limitada a 50% dos comissionamentos referentes às vendas de produtos de seguros, previdência e consórcio, sob uma base de 90% dos negócios concretizados.

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Isso não significa que a empresa perderá de uma vez a receita oriunda da Caixa. Peixoto explicou que Wiz tem assegurada as comissões das carteiras até a extinção natural dos acordos com os clientes, sem redução da remuneração. Os seguros de vida e habitacional possuem prazos médios de duração de quatro a 13 anos, sendo que o produto habitacional se estende a 35 anos. Em conjunto, eles representam 86,6% do valor que a Wiz tem a receber a longo prazo.

"A receita em seguros demora a vir, porque ela é um produto diferido. Aquelas vendas que a gente fez ainda vão permanecer. Quase metade dos 70% da receita é fluxo futuro, então não vai embora no próximo ano"

A expectativa dele é que, com os projetos amadurecendo, os efeitos do fim do acordo com a Caixa serão mitigados em “menos de dois anos”. “A gente imagina que muito brevemente a gente vai conseguir recuperar toda a receita perdida pela Caixa. Ao mesmo tempo que a receita da Caixa vai começar a nos afetar, esses novos projetos vêm surgindo”, afirmou.

Até lá, o CEO da Wiz garante que a companhia continuará rentável, tendo como meta manter a margem do lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) dentro da média histórica, entre 40% e 50%.

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“Continuaremos sendo uma empresa que tem como viés distribuir dividendos e dar retorno aos nossos acionistas”, afirmou.

Passivo sendo resolvido

A Wiz pode estar inaugurando uma nova fase, mas ela ainda tem consigo uma situação pouco agradável para lidar.

Em novembro, a Polícia Federal deflagrou a operação Canal Seguro para investigar fraudes envolvendo a empresa. Na ocasião, a corporação informou ter identificado uma organização dedicada à gestão fraudulenta e ao desvio de valores de instituição financeira, além de crimes contra a ordem tributária e lavagem de ativos. 

Segundo a PF, nesse período, três dirigentes teriam praticados atos de gestão fraudulenta e desviado até R$ 28,3 milhões, mediante diversas transferências a título de pagamento por prestação de serviços, que foram superfaturados ou que nem chegaram a ser realizados. Por conta do episódio, três membros do conselho de administração acabaram renunciando.

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A empresa informou à época que foi surpreendida que a investigação se referia a atividades entre 2014 e 2016, em gestão anterior. Ela também criou um comitê especial para apurar as denúncias da operação.

Sobre os desdobramentos do caso e o trabalho do comitê especial, a empresa enviou uma nota reforçando o que disse, que é não é alvo das investigações e tampouco existe decisão judicial que a aponte como autora de ato ilícito. Ele também declarou que os fornecedores e os administradores envolvidos não têm mais qualquer relação com a empresa e informou que o trabalho do comitê especial segue em andamento.

“Temos uma estrutura de governança robusta e pautada na não tolerância a qualquer irregularidade, assim damos sequência com segurança aos negócios baseados nos princípios esperados por todos os nossos públicos de relacionamento", diz trecho do comunicado.

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