Tenso com a tributação de dividendos? Para o BTG, a Vale segue atraente e pode pagar mais no curto prazo
Para o BTG Pactual, a taxação de dividendos não deixa a Vale menos atrativa — na verdade, o banco acha que os proventos até podem subir
A proposta de reforma do IR trouxe dor de cabeça aos investidores. A possível tributação de dividendos, afinal, lança uma sombra sobre as boas pagadoras de proventos na bolsa, como a Vale. Mas, para o BTG Pactual, é preciso ter calma: no curto prazo, as ações da mineradora seguem atrativas.
E não apenas isso: para os analistas Leonardo Correa e Caio Greiner, a Vale pode até aumentar o ritmo de pagamento de dividendos nos próximos períodos.
"O impacto da reforma no valor de mercado da Vale seria de cerca de US$ 8,5 bilhões, com base em nossos cálculos", escreve o BTG, ressaltando que a cifra representa perto de 8% do market cap atual. "Se os preços do minério de ferro no longo prazo subirem cerca de US$ 3 por tonelada, o efeito da proposta seria completamente compensado".
E, é bom lembrar: o texto apresentado pelo governo ainda vai ser amplamente debatido na Câmara e no Senado — e é de se esperar que ocorram diversas mudanças e reduções nas taxas, além de um longo prazo até que uma proposta final seja votada.
Os analistas, no entanto, vão além. Eles lembram que, num cenário de tributação de dividendos, é comum que as empresas promovam recompras de ações, de modo a postergar os pagamentos — especialmente quando há diferença entre a taxação sobre o ganho de capital e os dividendos.
"Em nossa visão, a recompra só deve ser evitada caso a liquidez seja um problema, o que não é o caso para a Vale", escrevem Correa e Greiner.
Vale e os dividendos
A Vale já anunciou em abril um programa de recompra de até 270 milhões de ações, o que representa 5,3% do total de papéis em circulação no mercado. Essa operação irá durar um ano, mas nada impede uma companhia de anunciar outras em paralelo ou aumentar o escopo do programa já em andamento.
Há vários motivos para uma empresa promover a recompra de suas ações. Pode haver a percepção de que o preço está baixo demais; assim, ao tirar uma certa quantia de papéis de circulação, a tendência é de valorização.
A medida também pode ser adotada para que a companhia forme um "estoque" em tesouraria, para ser distribuído aos administradores e executivos como bônus contratual. Enfim, há inúmeras possibilidades.
Mas, independente da motivação, a recompra afeta positivamente a geração de valor ao acionista: o lucro por ação (LPA) — a relação entre o lucro da companhia e o total de papéis em circulação — aumenta automaticamente.
Também melhora a distribuição de proventos aos acionistas: afinal, se há menos papéis, o montante a ser pago por ação fica maior.
Dito isso, a Vale já anunciou o pagamento de R$ 2,189 por ação em dividendos referentes ao primeiro trimestre deste ano — originalmente, seria pago R$ 2,177, mas justamente pela redução da base acionária por causa do programa de recompra, o valor foi revisado para cima.
"Estimamos que a Vale poderá distribuir cerca de US$ 15 bilhões em 2022, o que implica num dividend yield (a relação entre os dividendos por ação e o preço unitário das ações) de 13%", escrevem os analistas, concluindo que, mesmo num cenário com taxação de 15% a 20%, o rendimento continuaria na casa dos dois dígitos.
Em outras palavras, essa ainda seria uma tese atrativa de pagamento de dividendos
Leonardo Correa e Caio Greiner, analistas do BTG Pactual
Atração na bolsa
Mesmo sem entrar na discussão sobre os dividendos e a taxação, as ações da Vale continuam atrativas em termos de valuation. Atualmente, a relação entre o valor da firma (EV) e o Ebitda projetado para 2022 gira em torno de três vezes — o que, para o BTG, representa um desconto excessivo, de até 35% em relação aos pares.
As ações ON da Vale (VALE3) fecharam hoje em alta de 1,73%, a R$ 112,51. Desde o começo do ano, acumulam ganhos de mais de 26%.
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