Criado em 2013 a partir de um investimento de US$ 3 milhões e a ideia de um cartão de crédito roxo na cabeça, o Nubank pode atingir um feito inimaginável até bem pouco tempo atrás: deixar para trás os gigantes do setor bancário e se tornar a instituição com maior número de clientes do país. Tudo isso com apenas uma década de vida.
As projeções foram feitas pela XP, em um detalhado relatório que trata do avanço das novas empresas de tecnologia financeira (fintechs) sobre os bancos tradicionais.
Com 33 milhões de usuários no fim de 2020, o Nubank já deixou o Santander Brasil comendo poeira. A unidade local do banco espanhol encerrou o ano passado com 28 milhões de clientes, de acordo com os dados compilados pela XP.
“À medida que o banco aumenta sua base de clientes em mais de 1 milhão de clientes por mês (7 milhões de clientes no 2S20 vs. quase estabilização dos operadores históricos), o Nubank deve atingir o líder de mercado de 200 anos no seu décimo ano de vida”, escreveram os analistas Marcel Campos e Matheus Odaguil, que assinam o relatório.
O líder de mercado, no caso, é o Banco do Brasil. A instituição fundada em 1808 após a vinda da família real portuguesa para o país contava com 74 milhões de clientes no ano passado.
O crescimento acelerado do Nubank ocorre ainda sob uma base muito menor de custos. A fintech não possui nenhuma agência física e conta com um quadro de menos de 4 mil funcionários, contra uma rede da ordem de 4 mil pontos de atendimento e mais de 90 mil empregados dos maiores bancos.
E qual a receita para o avanço do Nubank? Aparentemente, fazer o mesmo que os bancos tradicionais, só que muito melhor e mais barato para os clientes. O índice de satisfação dos detentores do cartão roxo, medido pelo NPS (Net Promoter Score) era de 87 em 2019, contra apenas 23 da média do setor bancário.
Além do crescimento na base de clientes, o Nubank já tem uma representatividade considerável no mercado de crédito, uma das grandes barreiras históricas para os concorrentes dos bancões.
A empresa conta com uma participação de mercado de 4% em empréstimos rotativos com cartão de crédito e de 5% no volume total de pagamentos (transações com cartão), segundo o relatório da XP. “A fintech já está avançando em outros mercados, como crédito, investimentos e seguros, ampliando a ameaça ao setor”, escreveram os analistas.
Leia também:
- Nubank recebe aporte de US$ 400 milhões em nova rodada de investimento
- Nubank compra Easynvest e entra na disputa das plataformas de investimento
- Os planos da Creditas depois de alcançar o status de “unicórnio”; ter lucro, por enquanto, não está entre eles
E o lucro?
O Nubank conseguiu todos esses feitos com outra característica bem peculiar: jamais deu um centavo de lucro. No ano passado, o prejuízo da fintech até diminuiu, mas ainda assim ficou em R$ 230 milhões.
O avanço da empresa vem sendo financiado durante todo esse período por aportes de investidores, como fundos de investimentos estrangeiros.
O Nubank justifica os sucessivos prejuízos como "dores do crescimento". Ou seja, a base de clientes aumenta em um ritmo mais rápido do que o tempo necessário para que eles gerem lucro para a empresa.
Ainda assim, parte do mercado ainda se questiona se o Nubank seria capaz de sobreviver com as próprias pernas sem a entrada de dinheiro novo.
Falta de recursos, contudo, não deve ser um problema. No início deste ano, a companhia recebeu um aporte de US$ 400 milhões e foi avaliada em US$ 25 bilhões, o que tornou a fintech mais valiosa que a própria XP.
A avaliação do Nubank colocou David Vélez, um dos fundadores da fintech, na lista de novos bilionários da revista Forbes.