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‘Alívio’ fiscal segura supresa negativa com a inflação de outubro e Ibovespa fecha em alta – mas cenário preocupante mexe com dólar e juros

Cristo Redentor olhando assustado para a elevação da inflação, com gráficos do Ibovespa ao fundo

Talvez seja hora de o Banco Central começar a levar em conta os desejos do deus Cronos, comandante do tempo, em seu balanço de riscos. Dá para quase encher uma mão com o número de vezes em 2021 que o Comitê de Política Econômica (Copom) teve que fazer uma alteração no plano de voo - e quase sempre depois de afirmar que desvios não aconteceriam.

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Na última reunião, há apenas 15 dias, o Banco Central decidiu elevar a taxa básica de juros em 1,5 ponto percentual, a 7,75%. Dessa vez, a ata mostrou que o BC está disposto a agir de forma mais dura se necessário - mas será que esperava colocar isso em prática tão rápido?

O próximo encontro para decidir o futuro da política monetária do Brasil acontece na segunda semana de dezembro e põe na mesa o seguimento das manobras do governo com as contas públicas e uma inflação de outubro mais salgada do que o esperado – alta de 1,25%. Como o tempo é perverso, não são mais os limites da meta de inflação de 2021 que estão em jogo.

Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, aponta que, mais do que um indicador alto, o número esconde algumas características ainda mais preocupantes, já que os grupos de bens e serviços não essenciais seguem pressionados. Além disso, passado o pior momento das restrições de mobilidade, os impactos da retomada já foram absorvidos, mas se mostram persistentes.

Com isso, até mesmo horizontes mais longos como 2023 e 2024, cujas projeções de inflação assumidas geralmente são o centro do regime de metas estabelecido, já começam a mostrar uma desancoragem.

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A economista lembra que o tempo médio para que a decisão de política monetária seja sentida na economia é de pelo menos seis meses. Isso significa que o que for decidido em dezembro só deve gerar resultados no segundo semestre de 2022.

Em resumo: quanto mais lenta for a reação do BC, menos o mercado acredita que será possível cumprir a meta por mais um ano. O que não é nada legal para a imagem e a credibilidade do Banco Central.

A inflação nos Estados Unidos também surpreendeu negativamente, mas o movimento mostra algumas distinções do cenário brasileiro. Enquanto Nova York voltou a realizar lucros após os recentes recordes, o Ibovespa conseguiu ignorar durante a maior parte do dia os números preocupantes do IPCA.

Um dia negativo para as commodities e o cenário externo impediram que a bolsa fechasse nas máximas, mas o Ibovespa avançou 0,41%, aos 105.967 pontos, puxado principalmente pelo setor financeiro. O dólar à vista encerrou a sessão em alta de 0,10%, a R$ 5,5001.

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A bola está mais uma vez no pé do Copom e, com os números de hoje, as apostas de uma elevação de 2,0 pontos percentuais na Selic na próxima reunião estão cada vez maiores.

A repercussão da aprovação de uma solução para o teto de gastos mascarou a surpresa negativa, e o mercado de juros futuros mostrou uma tendência de inclinação da curva ao longo do dia, ainda que suave, mas os próximos dias devem ser de ajustes.

Confira alguns dos destaques do noticiário corporativo:

Entusiasmo de Taubaté

A PEC dos precatórios ainda precisa passar pelo Senado - e deve ter uma vida complicada pela frente, mas a evolução do tema trouxe algum alívio na sessão de hoje e permitiu que o Ibovespa fechasse o dia em alta. 

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O texto reduz as incertezas, mas está muito longe de agradar. Para Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, se a proposta encontrada pelo governo tivesse sido apresentada em março, quando a preocupação ainda era com o Orçamento de 2021, o mercado teria “surtado”. “Não é aceitável de forma alguma. Só foi possível aceitar porque diante da situação que estamos foi vendido como dos males o menor”. 

Na visão da economista, existe uma diferença grande entre como os investidores locais e os estrangeiros digerem essa proposta. O mercado doméstico encara como a única manobra possível no momento, beirando o positivo, mas lá fora a leitura é de que o Estado deu um calote para manter uma regra, no caso o teto de gastos, criada para impedir um calote, o que não é nada otimista. 

Sobe e desce da bolsa

O dia começou agitado no front corporativo. A Petz (PETZ3) anunciou que realizará uma nova oferta primária composta por 41 milhões de novas ações ordinárias. A operação pode movimentar cerca de R$ 854 milhões, que serão utilizados para acelerar o ritmo de crescimento da companhia. 

A varejista animal foi um dos destaques, mas teve que dividir os holofotes com as ações do setor financeiro. 

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Diante de uma maior expectativa de crescimento da taxa Selic e o alívio no cenário fiscal, com alguma previsibilidade trazida pela PEC dos precatórios, o setor teve forte alta na sessão desta tarde. O gerente de research do Pagbank, Marcio Lórega, lembra que os grandes bancos tiveram bons resultados no terceiro trimestre, mas os números acabaram ficando ofuscados pelos atritos do campo fiscal, o que deu espaço para a recuperação vista hoje. Confira as maiores altas do dia:

CÓDIGONOMEVALORVAR
BBDC4Bradesco PNR$ 20,395,65%
PETZ3Petz ONR$ 21,895,09%
BBDC3Bradesco ONR$ 17,534,72%
MRVE3MRV ONR$ 12,274,69%
BBAS3Banco do Brasil ONR$ 30,794,59%

A maior queda do dia ficou por conta da Braskem. A empresa divulgou o seu balanço na noite de ontem, mas trouxe projeções mais modestas para o próximo trimestre, o que azedou o humor dos investidores.

Os balanços também ficaram no radar, mas com a inflação salgada e a perspectiva de novos choques no horizonte para conter a escalada dos preços, os setores de consumo foram prejudicados. Confira também as maiores quedas:

CÓDIGONOMEVALORVARIAÇÃO
BRKM5Braskem PNAR$ 49,61-11,88%
VIIA3Via ONR$ 7,05-6,50%
AZUL4Azul PNR$ 26,44-4,82%
RADL3Raia Drogasil ONR$ 23,45-3,81%
CRFB3Carrefour Brasil ONR$ 16,88-3,71%
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