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As ações na bolsa que ganham e as que perdem com a alta dos juros

Imagem conceitual retrata incertezas nos mercados

A PEC dos Precatórios, juntamente com o Auxílio Brasil (o novo Bolsa Família), acendeu o alerta de alta nas taxas de juros do país. 

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Isso porque, além da inflação desencadeada pela ruptura das cadeias produtivas (como reflexo da pandemia), mais gastos do governo, por sua vez possibilitados pela PEC dos Precatórios, também podem ser um fator de aumento de preços. Se isso acontecer, o Banco Central precisaria subir ainda mais os juros para controlar os preços.

Os investidores, futurologistas que são, já anteveem esse movimento desde que o Ministério da Economia encaminhou a PEC para revisão do Congresso, no início deste mês. A publicação da Medida Provisória do Auxílio Brasil, na última quarta-feira (11), intensificou o movimento. Com efeito, o Ibovespa cai 1% neste mês.

Mas qual a relação de uma coisa com a outra? Por que o Ibovespa cai quando a perspectiva de juros aumenta?

O potencial aumento de juros atinge em cheio a precificação das empresas. Para precificar uma ação, os investidores fazem uma soma de todo o fluxo de caixa que a empresa pode gerar no futuro. Em seguida, descontam esse fluxo à taxa de desconto apropriada para chegar no valor presente desse montante — já que é sempre preferível receber dinheiro hoje que no futuro.

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Com o aumento dos juros, essa taxa de desconto aumenta e, por conseguinte, faz diminuir o valor presente das empresas. Em outras palavras, um aumento de juros reduz o preço justo das empresas.

Mas isso não vale para todas as ações.

Nesse movimento, levam a melhor as empresas que:

  1. têm a capacidade de repassar preços, vantagem importante em um cenário inflacionário, o que implica que
  2. devem ser líderes em seus mercados, o que garante a capacidade definida no ponto 1; e
  3. têm seus fluxos de caixa concentrados em um futuro próximo, e não em um futuro distante.

Isso nos leva a nomes como Natura &Co (NTCO3), Petrobras (PETR4) e Hapvida (HAPV3), que sobem, respectivamente, 1%, 10% e 7% no mês de agosto.

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Isso não significa, contudo, que as empresas de tecnologia estarão de todo prejudicadas. Veja o caso de Mercado Livre, cujo resultado comentei na semana passada. No mês, a BDR da companhia (MELI34) sobe 19%.

É um belo caso de qualidade de execução superando o vento macroeconômico desfavorável.

Ou, ainda, BTG Pactual (BPAC11) e Santander Brasil (SANB11), que têm frentes de digitalização relevantes, que inclusive já rendem frutos no presente. Os papéis dos dois bancos sobem 1% e 2% no mês, respectivamente.

Por outro lado, sofrem as empresas de tecnologia que vão mais na linha startup, com fluxos de caixa muito alongados no futuro.

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Como, por exemplo, Méliuz (CASH3), uma empresa espetacular, mas com uma trajetória de crescimento que caminha a se perder no futuro. No mês, esse papel cai 17%.

Ou mesmo Infracommerce (IFCM3), também uma empresa com fundamentos sólidos, mas com crescimento mais alongado à frente. No mesmo período, as ações caem 4%.

Não estou dizendo para você vender suas ações de alto crescimento e comprar as geradoras de caixa. Busquei apenas clarear o cenário ao leitor nos parágrafos anteriores.

Uma das virtudes de um investidor de sucesso é a sobriedade analítica. Será que o movimento de expansão fiscal (governo gastando mais) é para valer? E, se sim, até quando dura? Até as eleições de 2022? Ou somente neste ano, em que o governo de fato gastou mais por causa da pandemia?

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No curto prazo e até o governo implementar as medidas relacionadas à agenda eleitoral, acredito que o cenário é de expansão fiscal, sim.

Depois de um tempo, o descontrole fiscal começa a afetar a economia, o que é inevitavelmente penalizado pelos votos (vide o impeachment de Dilma Rousseff em 2016). Aqui, nós sabemos que se a economia não vai bem, o governo não vai bem.

Portanto, no curto prazo, as ações de geradoras de caixa e líderes de mercado devem levar a melhor. Mas, passado o furor da narrativa do expansionismo fiscal, a situação deve se normalizar.

Porque o mercado é assim: basta uma sinalização para os investidores reagirem – afinal, quem investe não quer chegar sempre antes, para colher os frutos antes dos demais?

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Importante lembrar, também, que as reações de mercado, via de regra, vêm exageradas no início. Para depois corrigir.

Então, frieza. E paciência.

Um abraço,

Larissa

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