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Ibovespa contorna queda do PIB e fecha o dia em alta, mas dólar e juros refletem cautela do mercado com o futuro

Paulo Guedes em frente ao gráfico do Ibovespa

O ex-ministro da Economia, Paulo Guedes

O saldo final do Ibovespa pode ter até sido positivo, mas ele não muda a decepção que o mercado financeiro sentiu nesta quarta-feira (01). Foi um começo e tanto para o mês de setembro — com frustrações vindas de todos os lados, até de onde menos se esperava. 

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Durante a madrugada, a economia chinesa apresentou mais um dado que aponta para uma desaceleração do gigante asiático mais uma vez pressionando o setor de commodities. Pela manhã, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro do segundo trimestre surpreendeu negativamente, e os dados da economia americana também vieram aquém do esperado. 

A sopa de letrinhas é confusa. Sem saber se a recuperação da economia brasileira será em V, L, W ou U, a decepção do mercado com o recuo de 0,1% no PIB ante a expectativa de crescimento de 0,2% pôde ser sentida no câmbio e na curva de juros, que mais uma vez teve um dia de inclinação expressiva. 

Além de a recuperação econômica e o cenário fiscal preocuparem, a inflação também não dá folga, com o novo aumento da tarifa de energia pressionando ainda mais as projeções para os índices de preços. Confira as taxas de fechamento dos principais vencimentos:

O dólar à vista até ensaiou uma queda de 0,57% após os dados abaixo do esperado nos Estados Unidos, mas não conseguiu manter o ímpeto e fechou em alta de 0,20%, a R$ 5,1849, na contramão do comportamento da divisa frente a outras moedas emergentes. 

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O Ibovespa subiu 0,52%, aos 119.395 pontos, mas, para os analistas, o comportamento do principal índice da bolsa brasileira é apenas uma recuperação diante das quedas recentes. As reformas seguem travadas, sem muita perspectiva de andamento e, agora, o mercado tem um crescimento econômico revisado para baixo para digerir. 

No noticiário corporativo, o principal destaque fica com a Eletrobras, que deu mais um passo rumo à capitalização, mas tivemos mais novidades. A Jereissati fez uma nova proposta para a fusão com o Iguatemi, e a Oi anunciou o nome da sua nova diretora financeira e de relações com investidores

O grande balde de água fria

Por aqui, o dia começou com um balde de água fria. Enquanto a mediana de expectativas do mercado era de um avanço de 0,2% no PIB do segundo trimestre, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou um recuo de 0,1%.

Ao comentar sobre o resultado do PIB, o ministro da economia, Paulo Guedes, não mostrou grande preocupação. Para ele, a queda de 0,1% mostrou estabilidade, e o país segue na trajetória de uma recuperação em V. Mas o mercado encara as coisas de outra forma, e a recepção negativa aos números logo no começo do pregão dão uma boa ideia disso. 

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Tendo em vista que o segundo trimestre foi marcado pelo afrouxamento das medidas de isolamento social para o combate à pandemia após a segunda onda da doença no país, o esperado era que a demanda reprimida e a maior oferta de bens e serviços puxassem a recuperação, o que poderia levar a um “V” no longo prazo. Mas não foi isso o que aconteceu. 

Para Fabrício Voigt, especialista de investimentos da Warren, o desemprego alto - ainda que menor do que o projetado pelo mercado - e a variante delta trazem incertezas ao cenário, o que explica o grande volume de aplicações na poupança no período. Ou seja, a demanda seguiu reprimida. 

O analista da Warren acredita que o cenário ainda não é tão preocupante, já que o desrepresamento da demanda pode se confirmar, levando a uma trajetória de crescimento com formato muito mais próximo ao de um U, ou um V, tão sonhado por Guedes. Mas o mercado já começa a revisar para baixo as expectativas de crescimento. 

Já Alexandre Almeida, economista da CM Capital, é menos otimista. Ainda que a queda tenha sido na margem das expectativas, existiu uma piora considerável na qualidade da atividade econômica - principalmente quando se olha para o setor industrial, que não só sofreu com a falta de insumos, como deve encontrar um cenário mais complicado para realizar investimentos no futuro diante da alta dos juros. 

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Um dos pontos mais sensíveis para o PIB é o consumo das famílias, que apresentou variação nula no segundo trimestre. Segundo Almeida, ainda que a perspectiva de crescimento para este ano siga relevante, é preciso levar em consideração a situação inflacionária cada vez mais dramática. 

“Mais importante do que saber se o formato da curva será um V ou W no longo prazo, é saber qual vai ser a qualidade desse crescimento. Não adianta nada o setor agrícola ir bem, a balança comercial ir bem, se a nossa indústria não apresentar um crescimento equivalente."

- Alexandre Almeida, CM Capital.

Pé no freio global

Importante termômetro para as empresas de commodities brasileiras, a economia chinesa também mostra sinais de enfraquecimento. O índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) industrial recuou de 50,3 para 49,2, indicando uma contração da atividade.

No começo da semana, o PMI composto já havia mostrado uma desaceleração da economia chinesa. As perspectivas negativas, aliadas ao avanço das restrições à produção de aço no país, levaram o minério de ferro a cair mais de 6%. No mês passado, a commodity acumulou um tombo de 15%.

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Nos Estados Unidos, alguns indicadores vieram abaixo do esperado, mas isso não altera significativamente a visão positiva que o mercado tem para a economia americana.

Mais cedo, o relatório da ADP, considerado uma prévia do payroll (que será divulgado na próxima sexta), mostrou que o setor privado americano gerou 374 mil novos postos de trabalho em agosto. O número veio abaixo das 600 mil vagas esperadas pelos analistas consultados pelo The Wall Street Journal. As bolsas americanas fecharam o dia com sinais mistos.

Sobe e desce do Ibovespa

Durante a maior parte do dia, as ações da Eletrobras lideraram as altas do Ibovespa, após o Conselho Nacional de Política Energética aprovar e confirmar o valor dos novos contratos de concessão da estatal que serão pagos após a conclusão do processo de capitalização. O passo era esperado para dar sequência à operação, que agora aguarda a avaliação do BNDES para definir os valores e como o processo de capitalização será feito. 

Ao fim do dia, no entanto, os principais destaques ficaram com as empresas exportadoras, favorecidas pela alta do dólar, e as distribuidoras de energia, com a perspectiva de mais uma elevação na tarifa de energia elétrica. Confira as maiores altas do dia:

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CÓDIGONOMEVALORVAR
MRFG3Marfrig ONR$ 21,424,54%
CPLE6Copel PNR$ 7,103,80%
AMER3Americanas S.AR$ 42,933,80%
BRFS3BRF ONR$ 24,102,90%
CMIG4Cemig PNR$ 13,882,74%

Confira as maiores quedas do dia:

CÓDIGONOMEVALORVAR
TIMS3Tim ONR$ 12,07-3,13%
PRIO3PetroRio ONR$ 18,62-2,87%
CIEL3Cielo ONR$ 2,79-2,79%
HYPE3Hypera ONR$ 34,60-2,73%
BIDI11Banco Inter unitR$ 66,04-2,58%

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