Em 2010, quando era responsável pela gestora britânica Actis no país, Chu Kong investiu R$ 100 milhões para comprar uma participação de 20% na XP Investimentos.
Foi o primeiro aporte de capital recebido pela corretora, que na época tinha apenas 70 mil clientes e ainda nem havia criado o modelo do “shopping center financeiro”.
Essa é a essência dos negócios de private equity, como são conhecidos os fundos que compram participações em empresas, em geral de capital fechado.
Trata-se de um investimento bastante arriscado, mas que rende grandes tacadas quando dá certo, capazes de multiplicar o capital em várias vezes.
No caso da XP, um investidor que desejasse hoje ter a mesma participação que a Actis comprou dez anos atrás teria de desembolsar algo como R$ 20 bilhões.
Ao longo da carreira, Chu também descobriu negócios como a rede de planos odontológicos Odontoprev e a empresa de meios de pagamento e maquininhas de cartão Stone.
Depois de vender a participação na XP com um belo lucro, o gestor resolveu pendurar as chuteiras – no auge, como fez questão de frisar na conversa que teve comigo. Mas a aposentadoria durou pouco.
No ano passado ele foi provocado por Guilherme Benchimol, o sócio-fundador da XP, a voltar para o jogo. A ideia era lançar um fundo de private private equity para os clientes de grandes fortunas da corretora, do segmento private. Mas Chu recusou a proposta original.
“Se o DNA da XP é democratizar o acesso aos produtos financeiros, por que não ousar?”, me disse o gestor, em uma entrevista por videoconferência.
Em vez de restringir a captação aos clientes institucionais e mais endinheirados, ele propôs que a XP oferecesse o fundo a uma base mais ampla de investidores, aproveitando a rede construída pela corretora.
Com aplicação mínima de R$ 150 mil, o fundo acabou captando R$ 1,3 bilhão de 5,4 mil pessoas físicas, em um processo que levou duas semanas.
O private equity é o que chamamos de investimento alternativo, porque tem características bem peculiares. Os investidores comprometem seus recursos por longos períodos e não podem pedir o resgate, como num fundo tradicional.
No caso do fundo da XP, esse período é de oito anos, mas a estrutura foi criada para permitir a possibilidade de resgate de uma parte do dinheiro após quatro anos.
O que ajudou a convencer os investidores a abrir mão da liquidez e entrar no fundo foi a expectativa de retornos, que podem chegar à casa dos 30% ao ano.
“A pessoa física acostumada aos 15% ao ano da renda fixa perdeu o chão com a queda dos juros” – Chu Kong, XP Investimentos
As candidatas a XP
Com o dinheiro captado, o experiente gestor tem agora o desafio de encontrar “novas XPs”. Ou seja, empresas em crescimento e capazes de serem vendidas no futuro por um valor bem superior ao do investimento.
A primeira candidata surgiu na semana passada. O fundo de private equity da XP investiu R$ 200 milhões e adquiriu o controle do Centro Brasileiro de Visão (CBV), em Brasília (DF).
Chu me disse que já tentava investir no segmento de oftalmologia desde 2007, quando ainda estava na Actis. “Existem mais de 5 mil clínicas no país, o que representa um prato cheio para uma consolidação.”
Com a injeção de capital, o CBV deve justamente partir para aquisições de clínicas menores. Trata-se ainda de um mercado que cresce 15% ao ano e ainda possui baixa penetração.
O que pesa contra é a alta informalidade, por isso era preciso encontrar o ativo certo para comprar. Ele acredita ser esse o caso do CBV, a quem chamou de “XP da saúde oftalmológica”.
Na cara do gol
O fundo de private equity deve fazer até oito investimentos em empresas de médio porte como o CBV. Os negócios serão concentrados em quatro setores: saúde, educação, serviços financeiros e consumo.
As empresas iniciantes (startups) estão fora do radar por envolverem maior risco, segundo o gestor. O fundo também deve entrar como sócio apenas de companhias que demandem recursos para crescer.
O objetivo é proporcionar saídas mais rápidas dos investimentos do que nos fundos de private equity tradicionais, mas sem abrir mão do retorno.
“Quem vai ao estádio quer ver gol”, disse Chu ao se referir aos investidores que ainda não conhecem a dinâmica do mercado de private equity.
A saída das empresas investidas deve acontecer principalmente com a venda da participação para outra companhia do ramo.
Pelo porte das companhias do fundo, ele vê pouco espaço para uma saída com a venda das ações em uma oferta pública inicial na bolsa (IPO, na sigla em inglês).
Efeito coronavírus
A XP fechou a captação do fundo em fevereiro, na véspera do choque nos mercados provocado pela pandemia do coronavírus, o que proporcionou uma invejável condição de contar com um ativo que praticamente todas as empresas estão em busca hoje: dinheiro em caixa.
O gestor poderia se aproveitar dessa situação para barganhar os preços na hora de investir, mas disse que não vai fazer isso.
“Quando eu vejo crescimento sustentável e acredito na tese de investimento eu pago. Então não vou me aproveitar da covid para jogar o preço para baixo.”
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O coronavírus pode não ter mexido na expectativa de preço, mas afetou a forma como Chu e sua equipe devem atuar. Nesse cenário, ele disse que as empresas do setor de consumo perdem um pouco da atratividade.
Antes de encerrar a conversa, perguntei se o fundo já tem outro negócio no radar depois do investimento no CBV. Chu me respondeu que o fluxo de oportunidades que tem chegado é grande, e mais uma vez graças à marca da XP. “Então não me surpreenderei se encaixar um novo negócio proximamente.”