Os efeitos do choque do coronavírus não são sentidos apenas na bolsa e no dólar. O mercado de juros futuros vem passando por um forte ajuste nos últimos dias, com a redução das apostas de cortes mais agressivos na taxa básica de juros (Selic).
Na última semana, as taxas do contrato DI com vencimento em 2021 saltaram de 3,76% para 4,175%. O ajuste é ainda mais forte nos DIs mais longos. O contrato que vence em 2025 saiu de 5,79% para 6,83% desde a última quarta-feira.
Esse movimento no mercado de juros futuros diminui a margem para o Banco Central combater os efeitos do coronavírus na economia com cortes na Selic, segundo Wladimir Caramaschi, estrategista-chefe do Indosuez Wealth Management.
Ele credita esse movimento à alta do dólar, que pressiona os índices de inflação e, mais recentemente, do indicador de risco-país.
“O Banco Central não pode operar com uma Selic muito baixa e com risco-país subindo, senão coloca uma pressão enorme no câmbio.” – Wladimir Caramaschi, Indosuez Wealth Management
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A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) está marcada para a semana que vem. Caramaschi ainda acredita que o BC vai promover uma redução de 0,25 ponto percentual nos juros, para 4% ao ano. Mas tem dúvidas sobre a possibilidade de novas reduções.
“O mercado deu como certo que os países podem fazer políticas anticíclicas para combater crises, mas nem sempre essa é uma verdade para os emergentes”, afirmou o estrategista.
Para um gestor de fundos com quem eu conversei, a alta dos juros futuros tem mais relação com o pânico que se instalou nos mercados do que com apostas mais concretas sobre a trajetória da Selic.
Ele diz que a situação no mercado pode mudar dependendo dos estímulos de outros Bancos Centrais para tentar evitar uma recessão com a pandemia do coronavírus.
Na madrugada de hoje, o BC inglês reduziu a taxa de juros em 0,50 ponto porcentual, para 0,25%, e anunciou um programa de financiamento para apoiar pequenas e médias empresas.
A grande expectativa agora fica para a reunião do Banco Central Europeu (BCE), que acontece amanhã cedo.