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Problemas de Ambipar (AMBP3) e Braskem (BRKM5) podem contaminar títulos de dívida de outras empresas, indica Fitch

Caminhão da Ambipar e instalações da Braskem

Os problemas de crédito e alto endividamento de Ambipar (AMBP3) e Braskem (BRKM5), seguidos da forte desvalorização das ações e títulos de dívida dessas empresas, dominaram as manchetes nas últimas semanas e motivaram agências de classificação de risco a cortar as notas de crédito (ratings) das duas companhias.

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E, na visão da Fitch, esses dois exemplos podem indicar apenas o começo de uma piora mais generalizada no mercado de crédito corporativo brasileiro.

Segundo a agência de rating, companhias brasileiras podem enfrentar problemas de liquidez e acesso ao financiamento nos próximos meses "se os recentes eventos de crédito erodirem a confiança dos investidores", ampliando a aversão a risco aos títulos de dívida de certas empresas — debêntures, por exemplo.

Para a agência, os ratings podem se deteriorar à medida que o acesso ao capital encolher. "Companhias com necessidade de refinanciamento iminente e acesso limitado aos mercados internacionais, que correspondem a cerca de 10% do portfólio avaliado pela Fitch, podem ser as mais vulneráveis", diz a agência.

Segundo a Fitch, "diversos desenvolvimentos negativos ameaçam o mercado local de dívida brasileiro, que teve condições de liquidez fortes nos últimos 12 a 18 meses".

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A agência cita então os dois rebaixamentos de nota de crédito que efetuou no fim de setembro: o da Braskem (para CCC+), depois que a companhia contratou assessores financeiros para buscar alternativas para a sua estrutura de capital, e o da Ambipar (para C), depois que a companhia entrou repentinamente em um processo similar ao de calote, buscando uma proteção judicial contra credores. Ambas as empresas podem estar em vias de entrar em recuperação judicial ou extrajudicial.

A Fitch cita ainda, como evento problemático, a rejeição, por parte do Banco Central, da compra do Banco Master pelo BRB, "revivendo preocupações quanto à estabilidade do financiamento do Master e capacidade de geração de lucros."

A agência observou ainda que o Master tem um papel-chave no mercado brasileiro de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), importante fonte de financiamento para algumas companhias, principalmente nos setores de varejo e consumo.

Em resumo, se tais eventos, que evidenciam a dificuldade dessas empresas de pagar suas dívidas, contaminarem a confiança do investidor de renda fixa corporativa, outras empresas brasileiras podem ser arrastadas, ficando com dificuldade de acessar crédito, além de verem os preços dos seus títulos recuarem no mercado. No caso do Master, as empresas que se financiam via FIDCs também poderiam ter problemas de acesso a financiamento.

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Ameaça é maior a empresas que têm dívidas de curto prazo

Segundo a Fitch, um declínio drástico em acesso a capital poderia ser uma ameaça às empresas com necessidade de financiamento de curto prazo. Embora a maior parte das empresas cobertas pela agência tenha uma boa variação de vencimentos das suas dívidas, cerca de 10%, como já mencionado, podem vir a enfrentar problemas caso as condições de liquidez no mercado de dívida piorem.

"Essas companhias têm razões de caixa e dívida de curto prazo abaixo de 1 vez, e dívidas de curto prazo que excedem 30% da dívida total. Muitos desses emissores são empresas de saúde pequenas e pouco diversificadas, estando os demais espalhados por diferentes setores", diz a Fitch.

Investidores podem buscar títulos de dívida empresas de maior qualidade

A Fitch diz que em junho deste ano, cerca de 23% da dívida local das empresas cobertas pela agência venciam em 2025 e 2026, mas fortes condições de liquidez possibilitaram a essas companhias refinanciarem seus débitos, com emissões de títulos que superaram os R$ 39 bilhões no terceiro trimestre.

"A reação do mercado continua limitada, com as blue chips de altos ratings mantendo forte acesso a financiamento. No entanto, vemos potencial para uma virada para a qualidade, que pode apertar as condições para créditos mais fracos", diz a agência.

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Em outras palavras, as empresas consideradas high grade (grandes empresas com boas avaliações de crédito) continuam bem e seus títulos de dívida podem vir a ser ainda mais buscados num futuro próximo, caso o humor dos investidores com os emissores mais high yield (mais arriscados e com menores notas de crédito) de fato vire.

O risco de liquidez no mercado de dívida corporativa, no entanto, é mitigado pela alocação de capital conservadora das empresas brasileiras nos últimos dois anos, em resposta às elevadas taxas de juros, lembra a Fitch.

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