A compra do Banco Master pode render um lucro de R$ 1,5 bilhão para o Banco de Brasília (BRB) nos próximos cinco anos. Pelo menos, é o que indicam as projeções iniciais da estatal.
De acordo com o BRB, a aquisição da fatia do Master pode permitir que o banco estatal alcance um resultado superior a R$ 2,7 bilhões em 2029. Para colocar em perspectiva, em 2024, o lucro líquido recorrente do banco somou R$ 282 milhões.
Para este ano, a expectativa do BRB é chegar a R$ 1,2 bilhão. Já para 2026, a projeção sobe para R$ 1,251 bilhão; R$ 2,375 bilhões em 2027; e R$ 2,639 bilhões em 2028.
Essas informações foram antecipadas pelo Valor Econômico. Após a repercussão, o BRB precisou se explicar junto à CVM, afirmando que os números divulgados eram sigilosos e “possivelmente extraídos de reunião reservada” na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) nos últimos dias.
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Segundo a instituição, as projeções apresentadas aos deputados distritais são apenas estimativas no plano de negócios, baseadas em premissas de mercado e cenários macroeconômicos.
“Tais projeções podem não se concretizar, total ou parcialmente, em razão de fatores externos, conjunturais ou de mercado, alheios ao controle da instituição”, escreveu o BRB, em comunicado enviado ao mercado.
Ou seja, não se trata de um guidance formal, mas de um plano de viabilidade econômico-financeira elaborado para avaliação do Banco Central sobre a compra da fatia do Master pelo BRB, afirmou o banco estatal.
O que vai ficar de fora da compra do Banco Master pelo BRB
Nesta sexta-feira (22), o BRB também revelou quais ativos do Master realmente passarão para o banco estatal. Inicialmente, a expectativa é que, dos R$ 75,2 bilhões em ativos do Master, o Banco de Brasília fique com apenas R$ 23,9 bilhões.
Isso significa que R$ 51,2 bilhões não entrariam na aquisição — boa parte composta por fundos de investimento em direitos creditórios e ações considerados “não aderentes” às políticas do BRB, totalizando cerca de R$ 19,5 bilhões.
Outros ativos excluídos incluem:
- R$ 12,28 bilhões em créditos, incluindo recebíveis de ativos judiciais;
- R$ 9,43 bilhões em precatórios;
- R$ 7,59 bilhões em operações de crédito concentradas ou sem garantias reais; e
- R$ 2,47 bilhões em certificados de recebíveis imobiliários (CRIs).
Além disso, do lado do passivo, além de depósitos interfinanceiros entre empresas do conglomerado Master, o BRB também excluiu cerca de R$ 33 bilhões em depósitos a prazo.
Com isso, o banco ficará apenas com R$ 4,6 bilhões em CDBs da instituição comandada por Daniel Vorcaro.
De acordo com o com o fato relevante enviado à CVM, o trabalho de auditoria também destacou ajustes de R$ 601,9 milhões no patrimônio líquido do Master, concentrados em exposições tributárias, trabalhistas e valores a receber, que serão liquidados antes do fechamento da venda para o BRB.
Além disso, os acionistas do Master reforçaram as provisões de crédito em cerca de R$ 2 bilhões, o que elevou a cobertura sobre a carteira de crédito do banco.
Outros detalhes da compra do Banco Master
Dessa forma, o ativo de partida do Banco Master na operação foi estabelecido em cerca de R$ 24 bilhões. Somado ao BRB, isso dará origem a um conglomerado prudencial com aproximadamente R$ 100 bilhões em ativos, disse o BRB.
O BRB pagará pelo Banco Master um valor equivalente a 75% do patrimônio líquido consolidado, ajustado pelas baixas de ativos.
Segundo o banco, metade do pagamento será feito à vista na data de fechamento da operação.
Já os 50% restantes serão retidos em conta escrow, por um período de seis anos, para garantir eventuais indenizações previstas no contrato.
Além disso, se o valor retido for inferior a 50%, a diferença será paga no segundo aniversário da conclusão da transação.
Assim que a compra for concluída, o BRB e os acionistas vendedores assinarão um acordo de acionistas para regular a governança do Master — visto que as instituições manterão suas estruturas próprias, mas compartilharão governança para garantir um alinhamento estratégico e eficiência operacional.
O acordo também estabelecerá a formação de um novo grupo de controle, que definirá que os atuais controladores do Master não poderão deter poderes políticos nem participarão da gestão do banco.
O que falta para a operação sair do papel
Nesta semana, a CLDF aprovou o projeto de lei que dá aval para o BRB comprar o Master. O governador Ibaneis Rocha também sancionou o texto nos últimos dias.
Segundo o UOL, a saída de Augusto Lima, ex-sócio do Master, e sua aquisição do Banco Voiter (agora Banco Pleno) foram cruciais para fechar o acordo.
Com o sinal verde, o Banco de Brasília foi autorizado a adquirir 58% do capital social do Master, sendo 49% das ações ordinárias e 100% das preferenciais.
Agora, a operação depende da aprovação final do Banco Central. Além disso, ainda pende a finalização da reorganização societária do Banco Master e a realização de auditoria para confirmar o preço no momento do fechamento.
É importante lembrar que, como o BRB não assumirá a totalidade da operação, Daniel Vorcaro ainda precisará garantir liquidez para os compromissos que não serão absorvidos pelo banco estatal.
A expectativa do mercado é que Vorcaro precise de uma nova ajuda do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para honrar com os passivos que não forem comprados pelo BRB.