A cena no mercado norte-americano parece contraditória: enquanto o dólar perde fôlego, Wall Street segue cravando novos recordes. Vale lembrar que, só na última semana, o Dow Jones e o S&P 500 atingiram novas máximas históricas, na esteira do corte de juros anunciado pelo Federal Reserve (Fed, Banco Central dos EUA).
Durante o evento Macro Day BTG Pactual, os gestores Luis Stuhlberger, sócio-fundador da Verde Asset; André Jakurski, sócio-fundador da JGP; e Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX Capital, analisaram o cenário atual dos EUA.
Segundo os gestores, há uma entrada gigantesca de dinheiro nas bolsas mundiais, impulsionada pelo boom da inteligência artificial (IA), o que motiva o aumento das cotações, especialmente nos setores com vantagem competitiva.
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Enquanto isso, o risco fiscal dos Estados Unidos pesa sobre o dólar. Porém, Stuhlberger ressalta que, apesar da desvalorização em 2025, a moeda norte-americana partiu de patamares elevados no fim do ano passado.
“Acho que esse movimento todo que a gente está vendo não tem cara de que vai parar. Na minha opinião, acho que estamos no meio dele”, disse Stuhlberger, durante o painel.
Dólar entre a pressão fiscal e a pressão de Donald Trump
Na visão do sócio-fundador da Verde Asset, o presidente Donald Trump também vem exercendo sua pressão sobre a moeda norte-americana. “O mercado sabe que o Trump quer desvalorizar o dólar, porque ele acredita que é benéfico para os Estados Unidos, e ele normalmente consegue o que quer”, afirmou o gestor.
Segundo Stuhlberger, a lógica do presidente norte-americano é que, como o governo não consegue controlar o déficit fiscal, e o país enfrenta os chamados déficits gêmeos — ou seja, déficit fiscal e o déficit em conta corrente —, a ideia seria tentar reduzir este último por meio da imposição de tarifas e da desvalorização da moeda.
Apesar de reconhecer que o pensamento de Trump não faz sentido no cenário macroeconômico, Stuhlberger acredita que a queda do dólar será ainda maior.
Porém o sócio-fundador da Verde Asset ressalta que a política fiscal dos Estados Unidos segue em trajetória preocupante e que não é possível imaginar o país recorrentemente nos próximos 5 a 10 anos com um déficit de 7% nas contas públicas.
A política de gastos descontrolados, na visão de Stuhlberger, marca o “fim do excepcionalismo norte-americano”.
“Isso é um negócio inacreditável e, hoje, os Estados Unidos têm déficit dessa natureza. E aí, é ver o que o Fed vai fazer: se ele vai conseguir ou não restaurar a credibilidade”, disse.
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Porém, o gestor avalia que o cenário econômico do país não indica o fim do excepcionalismo das empresas dos Estados Unidos, em especial as big techs.
“Esse excepcionalismo da tecnologia, inovação, ganho de produtividade da economia americana está aí para ficar. Por isso eu não aposto contra a bolsa”, completou.
Por trás do paradoxo: “O maior medo do investidor é perder dinheiro”, avalia Stuhlberger
Além do excepcionalismo das big techs, o gestor da Verde Asset também avalia que o principal motivador por trás da alta dos índices de Wall Street em meio à desvalorização do dólar é o medo.
“O maior medo de qualquer investidor é perder dinheiro com dólar na renda fixa”, afirma.
Com isso, Stuhlberger avalia que os participantes do mercado estão em busca de proteção contra a inflação, em ativos reais. “A bolsa se enquadra nisso, então o investidor compra tudo que aparece”, disse.