Tarifas, negociações e trocas de farpas. Todos elementos recorrentes nos noticiários, principalmente quando o assunto são as relações comerciais entre os Estados Unidos e a China. Por trás da montanha-russa de acordos e desacordos entre as duas maiores potências do mundo — que inclui mais uma vez tarifas de 100%... ou mais — está o controle dos recursos naturais e, consequentemente, da economia global.
Nesta segunda-feira (20), a bolsa de valores dos EUA entrou na onda da disputa e segue o dia em clima de alta, impulsionada pelas tentativas do presidente norte-americano, Donald Trump, de romper o domínio chinês sobre as chamadas “terras raras”.
Companhias do setor, como USA Rare Earth e Lynas, da Austrália, dispararam no início desta semana, depois de já terem mais do que dobrado de valor em 2025. Mas os planos vão além das empresas norte-americanas: eles miram o reposicionamento dos Estados Unidos no cenário global.
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A valorização se estendeu também a produtores de minerais estratégicos, como lítio, cobalto e germânio. Esses recursos, assim como as terras raras, são essenciais para a fabricação de tecnologias que vão de smartphones e painéis solares a carros elétricos e equipamentos militares.
Relembrando, as terras raras são um grupo de 17 elementos químicos de difícil extração, essenciais para a indústria de alta tecnologia, energia renovável e defesa. Hoje, esses elementos são amplamente controlados pela China, que domina a produção e o refino mundial.
A investida de Donald Trump na disputa por terras-raras
Na tentativa de desafiar o controle chinês, somente no mês passado, os EUA adquiriram participações na Lithium Americas e na Trilogy Metals, duas mineradoras canadenses, com o objetivo de reforçar seu poder financeiro. Desde então, as ações das companhias dobraram e triplicaram de valor, respectivamente.
Mas o cenário é feito de jogadas e contra-jogadas. A disputa entre as duas maiores potências econômicas do mundo pelo controle das terras raras ganhou novo fôlego neste mês, após Pequim anunciar restrições adicionais à exportação desses minerais estratégicos.
As novas regras chinesas obrigam empresas estrangeiras a obter autorização prévia para vender ímãs que contenham até mesmo traços de terras-raras de origem chinesa.
Já o governo dos EUA planeja criar uma reserva estratégica e estabelecer um piso de preço para esses minerais, em uma tentativa de blindar o setor contra as oscilações bruscas em um mercado ainda pequeno e altamente concentrado em produtores estatais chineses.
Washington também acelera licenças e flexibiliza regras ambientais para destravar projetos de mineração e de processamento doméstico. As medidas fazem parte da política do país apelidada de “mine, baby, mine”, um trocadilho com o antigo slogan pró-petróleo do país.
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China fecha o cerco
Pequim, por sua vez, sinalizou que vai ampliar ainda mais o cerco, incluindo cinco novos elementos — hólmio, érbio, túlio, európio e itérbio — na lista de controle de exportações.
Na semana passada, o Ministério do Comércio da China chegou a acusar os EUA de alimentar o pânico global acerca do controle chinês sobre terras raras ao interpretar mal as restrições, e afirmou que aprovaria licenças de exportação destinadas ao uso civil.
Mesmo assim, analistas temem que a China possa novamente envolver usuários comerciais civis em medidas que buscam restringir o acesso de empresas de defesa norte-americanas a materiais essenciais.
Em setembro, as exportações de terras-raras para os EUA caíram 28,7% em relação ao mês anterior, enquanto as vendas para o Vietnã aumentaram 57,5% no mesmo período, segundo dados oficiais.
O presidente Xi Jinping deve se encontrar com Trump na Coreia do Sul no fim deste mês. Porém, economistas alertam que o atrito comercial entre as duas maiores economias do mundo pode ter se tornado o novo normal.
Brasil quer entrar no jogo das terras raras
Enquanto uma das maiores disputas econômicas do século ganha força no tabuleiro global, o Brasil tenta garantir seu espaço. Na semana passada, em uma cerimônia com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governo lançou oficialmente o Conselho Nacional de Política Mineral (CNPM).
O Brasil possui a segunda maior reserva de terras raras do planeta, atrás apenas da China, com estimativas entre 21 e 25 milhões de toneladas. Ainda assim, o país enfrenta dificuldades para aproveitar plenamente esse potencial, com a maior parte do recurso sendo exportada em estado bruto, sem processamento ou agregação de valor.
O órgão foi criado para planejar políticas de exploração mineral, incluindo os chamados minerais críticos e terras-raras, atualmente no centro das tensões entre China e Estados Unidos.
O Conselho será composto por representantes de 18 ministérios e presidido pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Silveira afirmou que o colegiado exercerá função semelhante à do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), decidindo sobre a direção das políticas públicas no setor mineral e implementando essas políticas.
*Com informações do Financial Times, Reuters e Agência Brasil