Donald Trump vem dando sinais de que as negociações com o Brasil sobre o tarifaço não vão acontecer tão cedo. Enquanto o telefone do republicano está caindo direto na caixa postal, o governo Lula está buscando alternativas — e uma delas vem do outro lado do globo.
Após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, informar o cancelamento de uma reunião com membros da gestão norte-americana, o presidente brasileiro pegou no telefone… para falar com a China.
O telefonema foi realizado na noite de segunda-feira (11) e durou cerca de uma hora, segundo a Secretaria de Comunicação Social (Secom). Durante a conversa, o presidente chinês, Xi Jinping, defendeu o posicionamento do Brasil diante das pressões de Trump.
Vale lembrar que, até julho, as tarifas impostas aos produtos brasileiros eram de 10%. Porém, o líder norte-americano subiu a taxação para 50% citando o julgamento de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado no Supremo Tribunal Federal (STF).
De acordo com a agência chinesa Xinhua, Xi afirmou que a China “apoia o povo brasileiro na defesa de sua soberania nacional e apoia o Brasil na defesa de seus direitos e interesses legítimos”.
Além disso, o presidente chinês também “conclamou todos os países a se unirem e se oporem resolutamente ao unilateralismo e ao protecionismo”, em referência à política tarifária de Trump.
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Além de Trump: negociações entre Lula e Xi Jinping
Após o aumento da alíquota imposta aos produtos brasileiros, o governo Lula vem elaborando um plano de contingência — que deve ser apresentado até quarta-feira (13) — além de apostar na abertura de novos mercados.
Atualmente, a China já é o maior parceiro comercial do Brasil. Os dois países possuem uma Parceria Estratégica Global, que representa um nível mais elevado nas relações diplomáticas.
Ainda assim, durante a ligação desta segunda-feira, Lula e Xi se comprometeram “a ampliar o escopo da cooperação para setores como saúde, petróleo e gás, economia digital e satélites”, segundo a nota da Secom.
“Ambos os presidentes também destacaram sua disposição em continuar identificando novas oportunidades de negócios entre as duas economias”, afirmou o órgão.
Além disso, os líderes falaram sobre “a parceria estratégica bilateral” entre o Brasil e a China e “saudaram os avanços já alcançados no âmbito das sinergias entre os programas nacionais de desenvolvimento dos dois países”.
Na semana passada, Lula chegou a informar que planejava uma ligação para o presidente Xi Jinping para intermediar a venda de pé de frango para o gigante asiático, após a retomada do status de país livre de gripe aviária.
A China é o maior comprador da carne de frango brasileira, mas havia suspendido as importações após focos da doença no país.
Durante a conversa, os líderes também trocaram impressões sobre a atual conjuntura internacional e os recentes esforços pela paz entre Rússia e Ucrânia, na guerra que já dura mais de três anos.
Lula ainda reforçou a importância da participação chinesa na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que ocorrerá em Belém (PA), em novembro deste ano.
“O presidente Xi indicou que a China estará representada em Belém por delegação de alto nível e que vai trabalhar com o Brasil para o êxito da conferência”, diz a nota.
China sobre o G20 e o Brics
No auge da guerra comercial, os EUA e a China trocaram tarifas elevadas, com o governo Trump impondo taxa de 145%, enquanto as alíquotas do país asiático chegaram a 125%. Depois de uma trégua, as taxas caíram para 30% e 10%, respectivamente.
O tarifaço da Casa Branca tenta reverter a relativa perda de competitividade da economia norte-americana para a China nas últimas décadas.
Em ligação com Lula, Xi concordou com o presidente brasileiro sobre o papel do G20 — grupo das maiores economias do mundo — e do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e outros países emergentes) na defesa do multilateralismo e construção de consensos no Sul Global.
Xi também apelou aos países do Sul Global para que defendam conjuntamente “a equidade e a justiça na comunidade internacional, defendam as normas básicas que regem as relações internacionais e protejam os direitos e interesses legítimos dos países em desenvolvimento”, diz a agência chinesa Xinhua.
*Com informações do Estadão Conteúdo e Agência Brasil.