Amarrados à ciclotimia de um relacionamento tóxico, alternamos entre os momentos de fúria de Donald Trump e as subsequentes fases de apaziguamento das tensões.
Hoje, por exemplo, começamos o dia em clima de TACO Trade, graças à aparente evolução nos acordos comerciais com Japão e Indonésia, bem como à maturação das conversas com a União Europeia.
Naturalmente, ainda que o mercado doméstico possa compartilhar dos fluidos sistêmicos, a lógica comercial entre EUA e Brasil assumiu contornos bastante particulares desde a tarifação política, impondo uma dolorosa assimetria aos transbordamentos de humor global: meia bomba quando sobe, bomba e meia quando cai.
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Não podemos mais supor que um acerto de contas com o Japão aumenta as probabilidades de um acerto de contas local.
O próprio Governo Lula parece já ter se conformado com a adoção das tarifas de 50% a partir de agosto, e não seria surpresa acordarmos com outros tipos de sanções nos próximos dias, em troca da tornozeleira eletrônica.
O Brasil, que era um mero coadjuvante na tabela do Liberation Day, passou a protagonista dos embates geopolíticos que ditam a Trumponomics.
É triste, é revoltante, machuca… ok, já entendemos essa parte da história.
Tarcísio Trade
O que não entendemos ainda (a partir de agora, corro o risco de wishful thinking, mas Nietzsche nos ensinou que não há como desvencilhar o pensamento da vontade) é que talvez não seja um problema tão grande assim, espero, para o médio prazo.
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Explico-me.
Acho que todos havemos de concordar com a premissa de que, em caso de materialização de um Tarcísio Trade, pode ocorrer um de-risk significativo das sanções de Trump.
Bem, se esse é o caso, vale lembrar também que o Kit Brasil já está na espera do Tarcísio Trade anyways. Ele pegou a fila para comprar pão francês, presunto, queijo, e agora a esposa ligou no celular pedindo também 200 gramas de enroladinho de salsicha.
No fim das contas, trata-se de um payoff quase que binário. Assim, para médio prazo, fica meio forçado falarmos de risco aumentado a partir do recrudescimento atual nas relações entre Brasil e Trump.
Em língua portuguesa, a sigla do TACO Trade costuma ser traduzida como “Trump Sempre Amarela”.
Fast forward 15 meses, vamos descobrir se ele também verde e amarela.