Contabilizados oito dias, temos já uma amostra mínima para argumentar que outubro começa com o pé trocado.
Não é exatamente surpresa depois de um setembro que inspirava cautela, desconfiança, mas que acabou entregando alegrias, talvez demais da conta.
Herança maldita ou não, este mês de outubro reúne variadas razões próprias para reclamar da vida: shutdown americano, eventual bolha de AI, um pivot do Fed Pivot, farras fiscais no Brasil (?!), busão gratuito, velho ciclo eleitoral, e até mesmo a Argentina de Milei sob ameaça.
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Em meio a esse tiroteio, porém, chama atenção a apuração da Bloomberg de que os financistas globais têm reclamado de outubro principalmente por sua ausência de notícias.
“This week is probably going to be one of the quietest weeks for economic data in some time. For one thing, the calendar is always pretty light the week after a scheduled non-farm payrolls report. But also, none of the government data is coming out, so we don’t have much to work with”.
Assim, o grande problema não seria o shutdown em si, mas o efeito derivado de ele secar a fonte de gatilhos macro.
Tomando por base a definição de Mandelbrot, o mercado financeiro raramente está em equilíbrio; e, mesmo quando parece equilibrado, trata-se de um equilíbrio instável, fácil de abalar, pois seus níveis de entropia são muito elevados.
Nesse sentido, a dependência de newsflow é um fator preocupante per se: se deixado em paz, o mercado atual não encontra sua própria paz; ao contrário, ele sangra.
Dentro de poucas semanas, teremos o início da temporada de resultados corporativos do 3T25, e sabemos que eventualmente o governo americano chegará a um acordo para voltar a operar a todo vapor.
É bem provável que esses preenchimentos iminentes da grade devolvam vigor à propensão ao risco sistêmico, alimentando inclusive a clássica expressão do “rali de fim de ano”.
Contudo, ainda que isso aconteça, devemos lembrar que, estruturalmente, seguimos todos reféns da dopamina do noticiário. No news is bad news.
Não sei o quanto isso diz sobre o valuation dos ativos globais, ou o quanto diz sobre a valoração da sociedade contemporânea, absorta em pensamentos alheios.