O risco de shutdown do governo americano apenas se soma a uma série de turbulências advindas da maior economia do mundo desde o início do ano.
Todavia, nada disso impede que o S&P 500 acumule ganhos de +14% year to date, seguindo a locomotiva das Big Techs.
Só para citar um dos casos mais icônicos, as ações de Nvidia registram alta vistosa de janeiro para cá, da ordem de +35%.
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Esses lucros de dois dígitos em meio a um tiroteio de notícias e de redes sociais nos trazem uma importante lição de grace under fire: a percepção de risco, em seu senso comum, não implica necessariamente um aumento da aversão técnica ao risco.
Podemos estar, simultaneamente, mais preocupados com tudo e mais ricos.
Ainda assim, precisamos seguir nos beliscando se a Bolsa americana, as Big Techs, as Mag7 e a febre de AI não se aproximam de algum grau de saturação.
Esse é um debate legítimo, não apocalíptico, e para tratá-lo com o devido rigor devemos já estabelecer uma diferença relevante face ao crash da dotcom bubble no início do milênio.
O gráfico esquerdo, compartilhado em grupos de Whatsapp da Faria Lima nerd (sim, existem financistas nerds) qualifica a exuberância irracional de Alan Greenspan, por meio da qual o preço dos ativos de tecnologia fora gravemente amplificado em relação aos forward earnings.
Já do lado direito, contemporâneo, acompanhamos a trajetória pari passu (e até mesmo defasada, em alguns momentos) entre preço e lucros esperados.
Daí, podemos depreender que se tratam de fenômenos genuinamente díspares, com perfis de risco quase que incomparáveis. Ambos, naturalmente, derivam de inovações tecnológicas, mas isso não basta para colocá-los em uma mesma caixa; o Global IT Sector dos anos 1990 não é uma boa proxy deste Global IT Sector de 2025.
Porém, isso não significa que devemos já descartar completamente a hipótese de uma “Bolha de AI”; é uma hipótese fraca com os dados até o momento, mas não inconcebível.
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Ainda que uma bolha de preços per se pareça improvável diante do gráfico à direita, uma bolha de lucros continua sendo possível.
Os belíssimos lucros auferidos em torno da AI nos últimos cinco anos se baseiam na premissa de que o capex trilionário com AI no mundo trará grandes ganhos de produtividade e ROIC, mas essa relação só poderá ser testada e verificada continuamente, empiricamente.
Uma eventual bolha de lucros talvez tenha primazia ética e moral sobre a tradicional bolha de preços, pois não se lastreia em irracionalidades tão exuberantes. Contudo, a dor que ela causaria sobre os nossos bolsos seria igualmente explosiva.