O mercado de crédito privado brasileiro vive um cenário de contraste, diz a Sparta na carta mensal de outubro. De um lado, os juros elevados pressionam a saúde financeira das empresas, no entanto, a demanda por ativos de dívida de qualidade permanece muito alta.
Essa combinação resulta em spreads — diferença entre a taxa dos títulos de dívida e as taxas dos títulos públicos — comprimidos. Ou seja, os investidores recebem um prêmio menor para correr o risco, dada a escassez de oferta frente a uma demanda tão forte.
Essa demanda aumentou principalmente nas debêntures isentas de imposto de renda (IR) após a publicação da MP 1.303/25, em junho. A medida provisória visava aumentar o IR de títulos incentivados, mas perdeu a validade (e o efeito) no último dia 8 de outubro.
No entanto, a Sparta destaca que a mera discussão sobre a MP mudou o comportamento dos investidores.
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“A ampla exposição do tema trouxe ainda mais visibilidade aos instrumentos isentos, acelerando as captações nos últimos meses e reforçando a percepção de que essas oportunidades podem ser finitas”, diz o relatório.
Com isso, a Sparta acredita que o investidor passou a ser mais consciente da importância de alocar e consolidar posições em ativos e fundos isentos “enquanto há tempo”.
Não é sobre isenção de IR, é sobre juros
Mesmo após a caducidade da MP 1.303, a Sparta avalia que o apetite por debêntures incentivadas se manterá excepcional.
A gestora argumenta na carta que o principal fator que sustenta esse apetite não é a isenção de IR em si, mas o elevado nível da Selic. Com a taxa básica em 15% ao ano, o benefício da isenção equivale a cerca de 2,6% de ganho a mais ao ano.
Se houvesse uma queda relevante na Selic, o benefício da isenção seria automaticamente menor. Só assim, a Sparta acredita que haveria espaço para a demanda cair e os spreads abrirem.
“Na ponta do lápis, os incentivados seguem com retornos mais atrativos do que os tributados equivalentes, enquanto não houver queda relevante nas taxas de juros”, diz o relator.
Enquanto os juros não caírem, a gestora espera que os volumes de novas ofertas de debêntures incentivadas sigam altos nos próximos meses.
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Fechamento de fundos da Sparta
Diante do ritmo intenso e acelerado de captação nas estratégias de debêntures incentivadas, a Sparta — que tem R$ 20 bilhões sob gestão — tomou medidas para proteger a qualidade de suas carteiras.
Embora a captação de recursos seja importante para as gestoras, uma entrada de fluxo intensa exige uma alocação rápida para manter o enquadramento nas regras de alocação.
Neste momento de pressão nos mercados, a Sparta prefere a posição mais conservadora, que permite uma alocação mais estratégica. A gestora decidiu fechar o fundo Sparta Debêntures Incentivadas para novas aplicações, após a entrada de R$ 700 milhões entre junho e setembro.
Já o fundo Sparta Debêntures Incentivadas 45 está com os dias contados: o fundo fechará quando atingir R$ 800 milhões em recursos — atualmente, está em R$ 500 milhões. terá seu fechamento estabelecido ao atingir R$ 800 milhões de patrimônio.
Além desses dois fundos isentos, que ficaram fechados para captação entre março do ano passado e junho deste ano, os fundos com proteção (hedgeados) nas estratégias isentas de IR também encerraram entradas.
Fundos que ficam abertos:
- Estratégias incentivadas indexadas à inflação, como o Sparta Debêntures Incentivadas Inflação.
- Estratégias prefixadas, como o Sparta Debêntures Incentivadas Estratégico.
- O fundo Sparta Renda, que paga renda mensal.
Braskem: Sparta mantém posição
A performance dos fundos de crédito não incentivado (tributado) da Sparta foi negativamente afetada em setembro pelas remarcações nos títulos da Braskem.
A petroquímica vive um dos ciclos negativo de alto endividamento e incerteza global em relação à oferta de seus produtos. A situação ainda é agravada com problemas de gestão e governança, que levaram à reprecificação de seus títulos.
Nos últimos meses, a Braskem perdeu seu grau de classificação de risco e viu o preço dos seus títulos de dívida perder valor com a saída de investidores — mas a Sparta não foi um deles.
A gestora não acredita que a petroquímica pedirá recuperação judicial. O relatório afirma que a empresa fez um colchão de segurança no curto prazo e tem múltiplos instrumentos extrajudiciais antes de uma solução judicial.
A Sparta espera que a normalização das margens de lucro da Braskem seja gradual, estendendo-se por 2027–2028. Mas, enquanto isso não acontece, os preços atuais dos títulos de dívida da empresa (próximos de 40% do valor nominal do título), apresentam um “retorno/risco favorável”.
A gestora acredita que medidas de eficiência e negociações extrajudiciais podem destravar valor acima dos níveis atuais. Por isso, os fundos de crédito da Sparta mantêm posições de até 0,6% em Braskem aos preços atuais.
Já a Ambipar — outro “pepino” recente no mercado de dívida — está fora da carteira da Sparta desde 2023.