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Investidor ainda está machucado e apetite pela bolsa é baixo — e isso não tem nada a ver com a tarifa do Trump, avalia CEO da Bradesco Asset

Bruno Funchal, CEO da Bradesco Asset, fala sobre apostas da gestora para bolsa brasileira, dólar e juros.

Bruno Funchal, CEO da Bradesco Asset, fala sobre apostas da gestora para bolsa brasileira, dólar e juros.

Ainda com as cicatrizes dos fracos desempenhos da bolsa brasileira e dos fundos multimercados nos últimos anos, os investidores brasileiros seguem com um apetite contido por ações. E, segundo Bruno Funchal, CEO da Bradesco Asset e ex-secretário do Tesouro Nacional, isso tem mais a ver com o contexto atual do mercado do que com as tarifas de Donald Trump.

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“Ainda não vemos os investidores muito animados com a bolsa. Apesar de as ações locais terem subido bastante em 2025, as pessoas não têm capturado isso, porque não estão comprando. Até o brasileiro está fora da bolsa”, disse, em entrevista ao Seu Dinheiro.

Funchal, responsável por um patrimônio de quase R$ 950 bilhões em ativos, ressalta que o crédito continua sendo o principal motor de crescimento da Bradesco Asset. 

Em 2025, o apetite por renda fixa voltou a ganhar espaço nas carteiras dos investidores, que começaram a abrir posições mais consistentes nesse segmento.

Contudo, a bolsa brasileira segue no escanteio, com posições em renda variável local ainda muito marginais, de acordo com o executivo. 

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“Agora vemos um movimento dos clientes de tomar risco via renda fixa. O próximo passo será multimercado e ações”, afirmou.

Por que a bolsa brasileira ainda não empolga os investidores?

Para Funchal, a falta de interesse pela bolsa brasileira é resultado de um longo período de incertezas nos mercados.

“Como você teve anos de percepção ruim com a bolsa, não há demanda. Ainda não vemos essa vontade do investidor de voltar a investir em ações. Foram muitos anos de investidores mais cautelosos com bolsas e com multimercados, então não sei se a retomada vai acontecer de uma hora para outra”, afirmou o executivo.

O CEO da Bradesco Asset destaca que o elevado nível de juros aumenta a aversão ao risco, o que reflete diretamente na liquidez da bolsa brasileira. 

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Dada a baixa alocação dos investidores, qualquer pequeno movimento de entrada de recursos estrangeiros já causa um impacto significativo nos preços das ações e faz a bolsa andar bastante. 

“Quando você tem juro alto, o que vai atrair mais é crédito, menos equity. No momento que o juro começar a cair, podemos estar entrando em um bom momento para as ações”, projetou. 

A gestora prevê que os primeiros cortes da Selic aconteçam entre o primeiro e o segundo trimestres de 2026, o que abriria um cenário mais favorável para os ativos de risco, incluindo a bolsa.

Contudo, esse cenário positivo para os juros e a bolsa depende, em grande parte, do desfecho da guerra comercial entre os EUA e o Brasil. 

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Na noite da última terça-feira (15), o escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR) iniciou uma investigação comercial contra o Brasil a pedido de Trump, alegando práticas desleais que prejudicam empresas americanas, especialmente no setor de mídia social e comércio digital.

Isso tende a complicar a situação para o Brasil, que perde poder de negociação com os EUA, já que a potência norte-americana sinalizou com a investigação que as tensões poderiam escalar para motivos além do comércio.

E, a depender de como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidir retaliar, as consequências podem ser desastrosas. Um tiro no pé, segundo Funchal.

*A entrevista foi realizada antes de a investigação comercial dos EUA contra o Brasil se tornar pública.

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