Brasil, China, Rússia e África do Sul responderam à ameaça do presidente dos EUA, Donald Trump, de tarifas a países que se alinharem ao Brics com uma alíquota adicional de 10%, após o bloco de países em desenvolvimento condenar a imposição unilateral de medidas de restrição comercial. A reação, no entanto, não impediu o Ibovespa de renovar mínimas e fechar o dia em forte queda, enquanto o dólar subiu quase 1%.
O principal índice de ações da bolsa brasileira perdeu os 140 mil pontos, depois de chegar à máxima histórica de 141 mil pontos na semana passada, diante da postura mais cautelosa dos investidores diante das ameaças de Trump.
Já o dólar avançou em relação ao real em ritmo mais intenso quando comparado outras moedas de economias emergentes e exportadoras de commodities.
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O Ibovespa terminou o dia com queda de 1,26%, aos 139.489,70 pontos, enquanto a moeda norte-americana subiu 0,98%, cotada a R$ 5,4778 no mercado à vista.
Lá fora, nem mesmo a indicação de que as tarifas gerais serão postergadas de 9 de julho para 1 de agosto ajudou no ânimo dos investidores. O Dow Jones caiu 0,94% enquanto o S&P 500 e o Nasdaq recuaram 0,79% e 0,92%, respectivamente.
A resposta às ameaças das tarifas: “tiro no pé”
O assessor especial da presidência da República para assuntos internacionais, Celso Amorim, nesta segunda-feira (7) que a possível imposição de uma tarifa adicional pelos EUA ao Brasil é um "tiro no pé" do governo norte-americano.
"Nós temos muita vontade de comercializar com os EUA. Aliás, o Brasil é um dos poucos países que têm déficit com os EUA, quer dizer, os EUA têm um superávit conosco. Então, acho que, digamos, sinceramente que se começarem a aplicar tarifas no Brasil, desculpe, é um tiro do pé", declarou Amorim à CNN.
Segundo ele , o Brasil tem "muita vontade" de conversar sobre o assunto com o governo norte-americano. Para Amorim, a questão tarifária não é o maior problema, mas sim a "mudança no sistema" de comércio global com a preferência por negociações bilaterais e não multilaterais.
Já o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, reiterou que o país "sempre se opôs a guerras tarifárias e comerciais, e ao uso de tarifas como ferramentas de coerção e pressão".
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"A imposição arbitrária de tarifas não está no interesse de ninguém", disse Mao, em nota publicada hoje.
Ele também defendeu o Brics como uma "força positiva e inclusiva" nas relações internacionais e acrescentou que o bloco "não está contra nenhum país".
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, também afirmou que o Brics apenas atua em torno dos seus próprios interesses, compartilhando uma "visão comum" de cooperação global, mas "não está, e nunca estará, direcionado contra países terceiros".
Por sua vez, o porta-voz do Ministério do Comércio da África do Sul, Kaamil Alli, disse que o país ainda pretende negociar tarifas com Trump e esclareceu que não possui uma postura "anti-americana".
"Ainda esperamos uma comunicação formal dos EUA em respeito ao nosso acordo comercial, mas as conversas seguem construtivas e frutíferas", disse ele à Reuters.
Trump acusa Brasil de caça às bruxas
No caso específico do Brasil, Trump defendeu o ex-presidente Jair Bolsonaro do que chamou de "caça às bruxas", sem citar nominalmente quem estaria por trás da suposta perseguição.
"Eu tenho observado, assim como o mundo, como eles não fazem nada além de persegui-lo, dia após dia, noite após noite, mês após mês, ano após ano", escreveu em publicação na rede social Truth Social, em que denuncia uma "coisa terrível no tratamento" de Bolsonaro.
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O republicano elogia o ex-presidente como um "líder forte" e um "negociador muito duro" nas questões de comércio internacional. "Ele não é culpado de nada, além de lutar pelo seu povo", escreveu.
Trump disse ainda que as eleições de 2022, em que Bolsonaro foi derrotado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi "muito apertada" e acrescentou, sem apresentar números, que Bolsonaro lidera pesquisas eleitorais.
O presidente norte-americano ainda traçou paralelos com os julgamentos que ele próprio enfrentou na justiça norte-americana e sugeriu que Bolsonaro é alvo de um "ataque a um oponente político".
"O único julgamento que deveria acontecer é um julgamento pelos eleitores do Brasil — chama-se eleição. Deixem Bolsonaro em paz!", concluiu.
Na coletiva ao fim da cúpula de líderes do Brics, no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se recusou a comentar sobre o assunto.
"Eu não vou comentar essa coisa do Trump e o Bolsonaro, tenho coisa mais importante pra comentar do que isso. Esse país tem lei, esse país tem regra, esse país tem um dono, chamado povo brasileiro. Portanto, dê palpite na sua vida e não na nossa", disse Lula.