Em meio a muita pressão do governo para o corte dos juros, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) acabou mantendo nesta quarta-feira (19) a taxa básica em 10,50%, em uma decisão unânime. Para quem investe, a dúvida é se a rentabilidade da renda fixa têm chance de reagir com a Selic no mesmo patamar e o Seu Dinheiro fez os cálculos para você.
A edição mais recente do boletim Focus, pesquisa semanal com analistas de mercado, mostrou que os juros devem continuar em 10,5% em 2024. Embora a expectativa é que a taxa básica siga em patamar elevado até o fim do ano, os retornos da renda fixa ainda podem diminuir no futuro próximo — de acordo com o Focus, novos cortes são esperados para 2025, quando a Selic pode cair a 9,50%.
A remuneração menor das aplicações conservadoras, entretanto, não significa que elas devam deixar a sua carteira.
Primeiro porque ter uma reserva de emergência alocada em renda fixa pós-fixada, de liquidez diária e com baixo risco de crédito é sempre fundamental, independentemente do patamar de juros.
Segundo porque, ainda que mais baixa, a taxa básica de juros no Brasil ainda é alta frente à inflação. Nos 12 meses terminados em maio, o IPCA acumulou variação positiva de 3,93%, fazendo com que o retorno real (acima da inflação) das aplicações pós-fixadas sigam atraentes.
Quanto rendem os investimentos de renda fixa com a Selic em 10,50%?
A taxa básica em 10,50% não é o suficiente para ativar o gatilho que muda a regra de remuneração da caderneta de poupança para 70% da Selic mais Taxa Referencial (TR). Esta mudança só ocorre caso os juros caiam abaixo de 8,50%.
Assim, a poupança continua pagando o tradicional 0,50% ao mês mais TR e se torna um pouco mais atrativa frente às aplicações financeiras indexadas à Selic e ao CDI.
Com a Selic em 10,50% ao ano (e supondo um CDI um pouco inferior, de 10,40%, como costuma acontecer), veja, na tabela a seguir, quanto você teria ao final de cada período caso aplicasse R$ 100 mil:
Quanto você teria ao final de | |||
1 mês | 1 ano | 2 anos | |
Poupança | R$ 100.553,30 | R$ 106.845,43 | R$ 114.159,45 |
TD Selic 2027 | R$ 100.634,37 | R$ 108.249,38 | R$ 118.389,37 |
CDB 100% CDI | R$ 100.641,63 | R$ 110.400,00 | R$ 118.599,36 |
LCI 95% do CDI | R$ 100.786,51 | R$ 109.880,00 | R$ 120.736,14 |
Parâmetros da simulação
- Para o cálculo do retorno da poupança, foi considerada a TR média mensal de 2024 (0,0533%) [Fonte: https://www.debit.com.br/tabelas/tr-bacen]
- A poupança é isenta de imposto de renda
- Para o cálculo do retorno do Tesouro Selic, foi considerada uma taxa de custódia de 0,20% ao ano sobre todo o montante investido. Além disso, imposto de renda de 22,5% ao final de 1 mês, 20% ao final do primeiro ano e 15% ao final do segundo ano
- Existe uma isenção da taxa de custódia para valores aplicados de até R$ 10 mil, o que significa que a rentabilidade do Tesouro Selic, nesses casos, é um pouco maior que a estimada nos cálculos apresentados.
- Para o cálculo do Tesouro Selic 2027, foi considerada a rentabilidade de SELIC + 0,0882% (https://www.tesourodireto.com.br/titulos/precos-e-taxas.htm)
- Para o CDB, foi considerando o CDI em 10,4% a.a. (ligeiramente menor que Selic). Para o IR, foi considerado 22,5% ao final de 1 mês, 20% ao final do primeiro ano e 15% ao final do segundo ano
- Para o cálculo do LCI, foi considerado o CDI em 10,4% a.a. (ligeiramente menor que Selic), portanto a taxa anual de 95% do CDI seria 9,88% a.a. Neste produto não há incidência de imposto de renda
A trajetória da Selic
Nas últimas sete reuniões, a autoridade monetária reduziu a taxa Selic, com seis cortes de 0,5 ponto e um corte de 0,25 ponto, na última reunião.
No entanto, com os recentes aumentos nas projeções de inflação para 2025 e 2026, a piora no cenário fiscal, a recente alta do dólar e os juros altos nos Estados Unidos fez com que as apostas majoritárias fossem de uma pausa no afrouxamento monetário pelo Banco Central, embora não fosse possível descartar totalmente a possibilidade de o Copom realizar mais um corte de 0,25 ponto percentual.
Apesar das projeções, o placar da votação entre os dirigentes do Copom foi o foco do mercado. Isso porque, na última reunião de maio, a decisão do colegiado não foi unânime, o que trouxe a possibilidade de mais uma divisão entre os membros na nova reunião sobre a Selic.