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Na minha última coluna de 2023, falei sobre algumas das oportunidades incríveis que o mercado nos dava no início daquele ano e sobre como era difícil ter convicção sobre elas naquele momento.
Recomendar ter 20% da carteira de Nvidia, como fizemos na Empiricus entre o final de 2022 e início de 2023 era impensável.
E de fato, o ano passado foi fantástico para o segmento de semicondutores. O SOXX — o ETF de semicondutores mais conhecido do mercado — subiu 67% em 2023.
Neste ano, porém, eu acredito que haverá um pouco mais de nuance nesse mercado.
Nvidia: quem aproveitou, aproveitou
Entre as estimativas que encontrei de consultorias para o mercado de semicondutores neste ano, as cifras totais rondam em torno de US$ 520 bilhões.
As receitas de data center da Nvidia (basicamente semicondutores atrelados à inteligência artificial) deve alcançar os US$ 46 bilhões.
Ou seja, em dois anos, o segmento de inteligência artificial já representa 10% de todos os semicondutores vendidos no mundo.
Outra maneira de olhar para esse crescimento é compreender que o segmento saiu da infância e chegou à adolescência.
A partir deste ano, mais especificamente do segundo semestre, as receitas da Nvidia começarão a mostrar taxas de crescimento muito menores que em 2023.
Simplesmente a base de comparação é muito alta.
Outro ponto assombrando os analistas de semicondutores é a questão da capacidade: a Nvidia segue desenvolvendo novas tecnologias, como o aguardado B100. Mas a realidade é que ninguém sabe o quanto de capacidade ociosa já não existe nos data centers dos maiores clientes dela. Microsoft, Google, Meta e Amazon representam mais de 50% das receitas de Data Center da Nvidia.
Dores do crescimento
Se ano passado o ímpeto do crescimento tornava grande todos os sonhos, agora as conversas são sobre pico de receitas, aumento da concorrência e outras dores do crescimento.
Somado a isso, 2024 será um ano em que a AI entrará com certeza no radar dos reguladores.
Esse é um ano de eleição presidencial nos EUA, e se houvesse um mercado de apostas para isso, eu diria que é alta a probabilidade de vermos algum escândalo nos moldes do Cambridge Analytica, envolvendo manipulação de opinião pública em redes sociais com suporte de modelos de linguagem, ao estilo ChatGPT.
Apesar de a Nvidia não ter nada a ver com isso (ela é quem fabrica os semicondutores, não quem define para o que eles são usados), esse é o tipo de evento que pode facilmente ocasionar uma contração de múltiplos nas ações.
Enfim, depois de um 2023 fantástico, Nvidia não está entre as minhas escolhas preferidas para 2024. Ao menos no curto e médio prazos, essa é uma história em que quem pegou, pegou; que não pegou, não pega mais.
Além da Nvidia: o que esperar para o resto do setor?
No geral, o sentimento é de recuperação entre os mercados mais tradicionais e decepção em outros mais incipientes.
Por exemplo, as ações da Mobileye (Nasdaq: MBLY), que é a maior empresa de semicondutores para aplicações de veículos autônomos do mundo, caíram 30% na semana passada. Os investidores reagiram ao guidance (projeção) da companhia, que mostrou números muito abaixo do esperado pelo mercado.
No segmento de memória, onde estão nomes mais tradicionais (e super cíclicos) como a Micron (Nasdaq: MU), os preços estão se recuperando em média 40% e os volumes são esperados que cresçam entre 15% e 20% neste ano, graças ao contínuo impulso da China.
Sim, desde que os EUA passaram a sancionar a compra de semicondutores otimizados para inteligência artificial e equipamentos utilizados em sua produção pela China, o país passou a investir bilhões em equipamentos conhecidos como WFE, que são utilizados na manufatura de semicondutores mais comuns.
Só para dar uma dimensão, no terceiro trimestre do ano passado, a China representou 40% de todo o volume de WFEs vendidas no mundo.
Esse ritmo, que claramente não é sustentável, ajudou a suavizar para os acionistas das empresas de memória o que seria um ciclo extremamente severo.
Eu mesmo fiquei esperando que as ações caíssem muito mais do que caíram e acabei perdendo essa oportunidade.
Além desses vetores, obviamente a inteligência artificial seguirá como o assunto central de semicondutores em 2024. Se não neste ano, imagino que em algum momento em 2025 esse mercado se tornará maior que os de PCs e Smartphones, que movimentam cerca de US$ 100 bilhões a US$ 120 bilhões anualmente.
AMD: o cavalo azarão
Da mesma maneira como encerrei 2023, a minha ideia preferida no setor de semicondutores para 2024 ainda são as ações da AMD (Nasdaq: AMD).
Além das big techs que desenvolvem cada vez mais de seus semicondutores internamente, a AMD é a única ameaça crível ao monopólio da Nvidia, ao menos no curto prazo.
Projetos grandes que forem fechados em 2024 ajudarão a reforçar essa história e a AMD sofrerá muito menos com a base de comparação neste ano que a sua maior concorrente. Além disso, as ações são também mais baratas, o que deixa algum espaço adicional para expansão de múltiplos caso o ano corra bem. Lembrando que a AMD também possui recibos de ações (BDRs) na B3, com o código A1MD34.
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