Uma eleição que não contou com alternativas reais a Vladimir Putin — o presidente enfrentou três rivais simbólicos de partidos amigos do Kremlin que se abstiveram de qualquer crítica ao governo. É assim que o russo, que já está no comando do país há 24 anos, garantiu mais seis anos no poder.
Vale lembrar que Alexei Navalny, o mais feroz inimigo político do presidente russo, morreu em uma prisão no Ártico no mês passado, e outros críticos ao regime estão ou na prisão ou no exílio.
Ainda assim, Putin quis ter certeza de que nada daria errado. As eleições na Rússia, que começaram na sexta-feira (15) e acabaram neste domingo (17), aconteceram em um ambiente rigidamente controlado, onde não são permitidas críticas públicas ao chefe do Kremlin ou à guerra na Ucrânia.
A votação ocorreu em assembleias de voto nos 11 fusos horários da Rússia, em regiões ilegalmente anexadas da Ucrânia e também online.
Putin, que subiu ao poder em 1999, agora é o líder mais antigo da Rússia em mais de 200 anos. Contagens preliminares indicam que o presidente russo se reelegeu com 87,9% dos votos.
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O fim dos que ousam desafiar Putin
Apesar do ambiente controlado, a vitória de Putin nas urnas não foi pacífica: milhares de opositores organizaram um protesto simbólico nas assembleias de voto.
A imprensa relatou vários casos de vandalismo nessas assembleias, e uma mulher chegou a ser presa em São Petersburgo depois de lançar uma bomba incendiária na entrada de uma seção eleitoral.
Várias outras pessoas foram detidas em toda Rússia por jogar antisséptico verde ou tinta nas urnas.
Dmitry Medvedev, vice-chefe do Conselho de Segurança russo presidido por Putin, pediu o endurecimento da punição para aqueles que vandalizam as assembleias de voto.
Segundo Medvedev, essas pessoas deveriam enfrentar acusações de traição por tentarem inviabilizar a votação em meio aos combates na Ucrânia.
Putin se vangloria, mas a guerra cobra seu preço
Embora a reeleição de Putin não estivesse em dúvida, dado o controle sobre a Rússia e a ausência de quaisquer adversários reais, o antigo espião do KGB quis mostrar que tem o apoio esmagador dos russos.
A eleição ocorreu pouco mais de dois anos desde que Putin desencadeou o conflito europeu mais mortal desde a Segunda Guerra Mundial, ao ordenar a invasão da Ucrânia — que ele chama de “operação militar especial”.
Putin se vangloriou dos sucessos no campo de batalha antes da votação, mas a guerra não deu tréguas para o chefe do Kremlin nem nos três dias de eleição: a Ucrânia atacou repetidamente refinarias de petróleo na Rússia, bombardeou regiões russas e tentou perfurar as fronteiras russas — um movimento que Putin disse que não ficaria impune.
O Ministério da Defesa russo informou ter derrubado 35 drones ucranianos durante a noite, incluindo quatro perto da capital russa. O prefeito de Moscou, Sergei Sobyanin, disse que não houve vítimas ou danos.
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“Um filho da puta maluco”?
A eleição da Rússia ocorreu em uma encruzilhada para a guerra na Ucrânia e para o Ocidente em geral — com o presidente norte-americano, Joe Biden, classificando o conflito como uma luta do século 21 entre democracias e autocracias.
O apoio à Ucrânia está emaranhado na política interna dos EUA antes das eleições presidenciais de novembro, que colocam Biden contra o seu antecessor, Donald Trump. O Partido Republicano de Trump no Congresso bloqueou a ajuda militar a Kiev.
O Ocidente classifica Putin como um autocrata e um assassino. No mês passado, Biden chegou a chamar o presidente russo de “filho da puta maluco”.
O Tribunal Penal Internacional de Haia acusou Putin do alegado crime de guerra de rapto de crianças ucranianas, o que o Kremlin nega.
Putin, por sua vez, classifica a guerra como parte de uma batalha secular com um Ocidente em declínio e decadente que, segundo ele, humilhou a Rússia após a Guerra Fria ao invadir a esfera de influência de Moscou.
*Com informações da AP e da Reuters