O tempo é dos Jogos em Paris, mas quem respondeu à pergunta olímpica nesta quarta-feira (31) foi Jerome Powell, o presidente do Federal Reserve (Fed): o banco central norte-americano vai finalmente cortar os juros em setembro? E ele não correu da raia.
“Não decidimos nada sobre os próximos encontros e isso inclui setembro, mas estamos cada vez mais próximos do momento de cortar os juros”, disse Powell depois de receber uma enxurrada de perguntas sobre o assunto.
E a pressão dos jornalistas presentes na coletiva não é sem razão: setembro concentra 100% das apostas de corte de juros, segundo dados compilados pelo CME Group com base na ferramenta FedWatch — 89,6% veem uma redução de 0,25 ponto percentual (pp), 10,3% enxergam uma diminuição de 0,50 pp e 0,1%, de 0,75 pp.
As apostas acontecem depois que o Fed manteve nesta quarta-feira (31) a taxa de juros, como era amplamente esperado, na faixa entre 5,25% e 5,50% ao ano. O Seu Dinheiro detalhou os principais pontos da decisão de hoje e você pode conferir aqui.
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O teste do Fed para o corte de juros
Assim como os atletas nas Olimpíadas passam por classificação para competirem nos jogos, o corte de juros nos EUA também precisa passar pelo teste do Fed — e não é o de estresse.
“A questão do corte dos juros agora é se a totalidade dos dados darão a confiança necessária para um afrouxamento no próximo encontro. Se os dados passarem nesse teste, a resposta virá em setembro. Hoje, posso dizer que ainda não chegamos nesse ponto”, afirmou Powell.
O chefão do BC norte-americano disse que se os membros do comitê de política monetária (Fomc, na sigla em inglês) virem a inflação se movendo rapidamente para baixo e o mercado de trabalho seguir nas condições atuais, o corte de juros em setembro estará sobre a mesa.
“Estamos ganhando confiança e mais bons dados nos darão uma confiança ainda maior”, afirmou.
O Fomc volta a se reunir nos dias 17 e 18 de setembro. Neste encontro, além da decisão sobre os juros, o comitê também apresentará as atualizações das projeções econômicas — incluindo o dot plot, o famoso gráfico de pontos que indica possíveis cortes ou altas dos juros até o final do ano.
Questionado sobre o dot plot na coletiva de hoje, Powell disse: “Nosso próximo passo dependerá de como a economia evolui. Não posso dar nenhuma orientação futura além disso. Podemos ir de zero cortes até o final do ano até mais cortes se for necessário”.
POWELL VAI ARRISCAR CORTAR OS JUROS PERTO DAS ELEIÇÕES AMERICANAS?
Os obstáculos no caminho dos juros baixos
Em Paris, não basta ter um bom índice para ganhar uma medalha: é necessário superar obstáculos para chegar ao lugar mais alto do pódio — e há um paralelo na política monetária com os jogos olímpicos.
A inflação e o mercado de trabalho são os obstáculos do Fed no processo de afrouxamento monetário. “Pesamos a inflação e o emprego do mesmo jeito. Se acontecer no emprego o que não queremos, estamos prontos para agir. Nosso foco não é apenas os preços”, disse Powell.
A declaração acontece depois de dados recentes do mercado de trabalho nos EUA mostrarem um desaquecimento, com a taxa de desemprego passando de 4% e o ritmo de aumento dos salários perdendo força.
“Não olhamos apenas para a taxa de desemprego. Olhamos para os salários, a participação [da força de trabalho], demissões e contratações. Acreditamos que estamos perto das condições de 2019 e ali não tínhamos uma situação inflacionária”, afirmou Powell.
A eleição é outra barreira?
Além dos próprios indicadores econômicos, outra barreira ao corte de juros é a eleição presidencial norte-americana, marcada para 5 de novembro.
O mercado passou a se questionar se o Fed será capaz de mexer nos juros em meses tão próximos da votação. Questionado sobre o assunto, Powell foi categórico: "Não nos interessa quem vai vencer a eleição, o compromisso do Fed é com o mandato duplo e com os dados".
A pergunta acontece em um momento no qual o Donald Trump aparece com cada vez mais chances de voltar à Casa Branca. O republicano colocou Powell à frente do BC dos EUA quando era presidente, mas terminou o mandato com críticas pesadas aos movimentos do Fed na ocasião.
Agora, como candidato republicano, Trump volta a atacar o banco central norte-americano e ameaça trocar o presidente da instituição caso vence as eleições deste ano.