O desemprego no Brasil encontra-se no menor nível da série histórica para o trimestre encerrado em agosto.
Essa é uma ótima notícia, certo? Bem, não para todo mundo, em especial para quem vê esse como um sinal de que a economia está aquecida demais.
Mas antes vamos aos dados: a taxa de desocupação entre junho e agosto ficou em 6,6%, informa o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
Trata-se de um recuo de 0,5 ponto porcentual em relação ao trimestre imediatamente anterior, de março e maio. Em relação ao mesmo trimestre móvel de 2023, a queda foi de 1,2 ponto porcentual.
A atual série histórica do IBGE teve início em 2012.
A Pnad Contínua mostra ainda que a taxa de subutilização da mão de obra caiu de 17,6% para 16,0% na comparação anual.
Além disso, o rendimento real habitual dos trabalhadores aumentou 5,1% no mesmo intervalo.
Somado à queda no desemprego, o Caged mostrou que a economia brasileira abriu 232,5 mil postos de trabalho em agosto.
A expectativa era de que o saldo de contratações e demissões ficasse positivo em 241 mil vagas.
No acumulado do ano até agosto, o saldo líquido do Caged é de 1.726.489 postos de trabalho abertos no Brasil.
Os resultados indicam uma situação próxima do chamado pleno emprego. Significa que — de modo geral — quem sai em busca de emprego encontra um posto de trabalho para ocupar.
É bom. Mas é ruim?
O fato é que a queda dos índices de desemprego costuma ser recebida como uma boa notícia.
O governo federal certamente vai comemorar o desemprego em queda.
Em janeiro de 2023, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reassumiu o Palácio do Planalto, a taxa de desemprego estava em 8,4%.
Ou seja, em pouco mais de um ano e meio, o índice caiu quase dois pontos porcentuais.
No momento atual, entretanto, os economistas de mercado e os diretores do Banco Central (BC) consideram que o mercado de trabalho “apertado” não é uma notícia tão boa assim.
- LEIA TAMBÉM: Simulador de investimentos recomenda carteira ideal para ‘turbinar’ o patrimônio; faça sua simulação gratuita
Por que o desemprego em baixa é considerado ruim pelo mercado
Em uma primeira lida, essa abordagem soa maliciosa, especialmente em um país historicamente atormentado pelas mazelas do desemprego elevado.
Para o BC e para o mercado financeiro, porém, o resultado da Pnad Contínua é mais uma confirmação de que a economia brasileira está mais aquecida do que o desejado em termos de política monetária.
Mesmo com a taxa de juros em níveis restritivos e um novo ciclo de alta da Selic iniciado na semana passada, a atividade econômica continua superando as expectativas.
Em meio a sucessivas revisões para cima das estimativas do PIB, o mercado de trabalho aquecido alimenta temores de pressões inflacionárias mais adiante.
A busca por um nível “ótimo” de emprego figura entre os mandatos do BC brasileiro na lei de 2021 que aprovou a autonomia formal. Mas Roberto Campos Neto e os diretores que formam o Comitê de Política Monetária (Copom) vêm mostrando maior preocupação com a inflação rodando perto do topo da faixa de tolerância da meta.
Embora o IPCA-15 de setembro tenha mostrado uma inesperada e bem-vinda desaceleração, ele é apenas um dado promissor em um momento no qual as expectativas de inflação ainda se mostram, segundo o jargão econômico, “desancoradas”.
Além do desemprego
Mercado de trabalho restrito e hiato de produto positivo, crescimento real dos salários acima do crescimento da produtividade, políticas fiscais e parafiscais pró-cíclicas estão entre os fatores a serem monitorados pelo BC, segundo Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica do Goldman Sachs para América Latina.
Essa conjunção “exige monitoramento rigoroso do impacto sobre a inflação de serviços e a convergência da inflação para a meta”, escreveu ele em nota a clientes.
No fim das contas, a percepção de que a economia brasileira está superaquecida pode fazer com que o BC precise elevar ainda mais os juros.
Para Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, o resultado da Pnad Contínua reforça a percepção de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC vai acelerar a alta dos juros em novembro (de 0,25 para 0,50 ponto porcentual).