Pela primeira vez desde 2014, o Zimbábue está considerando importar milho branco do Brasil. Além dele, Malawi e África do Sul também articulam acordos para conseguir driblar problemas nas lavouras regionais.
O fenômeno climático El Niño não afetou apenas as plantações da Argentina, mas também gerou uma forte seca que fez disparar o preço do cacau.
Enquanto os países do noroeste africano lidavam com os problemas na lavoura da matéria-prima do chocolate, o sul e sudeste encaravam a escassez da produção do milho.
Na região, o milho amarelo é mais comum para ração animal. Já a variedade branca é usada no preparo de alimentos tradicionais da cultura dos países produtores. O primeiro é mais fácil de ser encontrado no mercado internacional; já o segundo é um pouco mais difícil.
Essa escassez se reflete nos preços: o contrato futuro de milho branco atingiu a marca recorde de 5.518 rands (US$ 291) por tonelada no pregão da África do Sul. Desde o começo de 2024, o preço da commodity subiu 40%.
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Impacto na produção de milho branco
Malawi, Zâmbia e Zimbábue chegaram a declarar estado de “desastre nacional” devido às safras perdidas — o último país chegou a registrar uma queda de 60% na safra em relação ao ano passado.
Em situações normais as três nações são autossuficientes ou podem suprir a maior parte de suas próprias necessidades, com eventuais deficiências cobertas por importações da África do Sul, o maior produtor da região.
Porém, isso pode ser difícil este ano, já que a seca provocada pelo El Niño reduziu a safra de milho da África do Sul em pelo menos 20% no mesmo período.
“Vou liderar uma delegação a São Paulo no final deste mês para buscar mais de 300.000 toneladas de milho”, disse Tafadzwa Musarara, presidente da Associação de Moageiros de Grãos do Zimbábue.
As importações podem causar um segundo problema. O preço de transporte por navio do milho deve pressionar ainda mais a inflação do Zimbábue, que já acumula alta de 55,3% em 12 meses.
E o Brasil nisso tudo
O país que se orgulha de ser o “celeiro do mundo” tem uma vantagem competitiva em relação a outras nações.
Tanto pela capacidade produtiva quanto pela capacidade de diversificação da lavoura, o Brasil é um dos melhores posicionados para suprir essa necessidade.
Para o JP Morgan, o futuro da exportação de commodities poderia ser melhor.
Em relatório recente, os analistas do banco norte-americano afirmam que o aumento dos preços do milho e do farelo de soja poderiam adicionar ainda mais pressão à operação de uma das principais produtoras do país, a BRF (BRFS3).
Além disso, há uma projeção de que os preços do milho permaneçam mais comportados em 2024, devido à ampla oferta do grão após uma safra melhor que o esperado.
Vale relembrar que a commodity agrícola é atualmente o principal gasto da BRF (BRFS3).
*Com informações da Bloomberg