O IBGE acaba de divulgar o índice de inflação de agosto. O IPCA caiu 0,02% no mês, registrando o primeiro resultado negativo de 2024 e a primeira vez desde junho de 2023, quando o indicador caiu 0,08%.
De acordo com especialistas ouvidos pelo Broadcast, a mediana das projeções apontava para uma alta de 0,02% no IPCA, com piso negativo em 0,07% e teto positivo em 0,13%.
A inflação — ou melhor deflação — coloca mais um ponto de interrogação sobre a decisão da próxima semana sobre a taxa básica de juros (Selic).
Mas a expectativa majoritária do mercado é que Roberto Campos Neto e os diretores do Banco Central elevem a taxa.
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Os heróis do IPCA de agosto
Quem ajudou a puxar o índice de preços para baixo foram dois dos nove grupos pesquisados pelo instituto.
O maior peso veio do grupo de habitação, que contribuiu com uma queda de 0,08 pontos percentuais (p.p.). A queda nesse segmento foi influenciada majoritariamente pela redução da conta de luz em virtude da bandeira tarifária verde daquele mês.
Outro grupo que ajudou no alívio do IPCA foi o de alimentação e bebidas, que contribuiu com 0,09 p.p. para o índice geral.
Nesse segmento, o destaque vai para a alimentação em domicílio, que recuou pelo segundo mês consecutivo, puxada pela queda do preço dos alimentos.
Inflação aliviou em agosto, mas em setembro…
Contudo, se ambos os grupos aliviaram a inflação de agosto, o mesmo não deve se repetir em setembro — ao menos, não no que depender do início deste mês.
Isso porque recentemente a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) acionou a bandeira vermelha patamar 1 para setembro. Em outras palavras, o alívio nas contas domésticas não deve se repetir no mês corrente.
Além disso, as recentes queimadas que acontecem em todo Brasil neste momento devem encarecer o preço de alimentos básicos, como açúcar, feijão e carne. Sem previsão de volumes de chuvas elevados, outros insumos também devem subir.
Tanto a alta na conta de luz quanto no preço dos alimentos são reflexo da seca e das mudanças climáticas.
IPCA mais fraco chegou em boa hora?
A resposta que os investidores querem é: o IPCA mais fraco permitirá que o Banco Central (BC) mantenha os juros no atual patamar?
Recapitulando, cresceram as apostas de que o BC eleve a Selic para o patamar de 11,25% ao ano, de acordo com as estimativas do Boletim Focus desta semana.
Analistas do mercado não dão uma resposta única. Enquanto alguns defendem que o dado positivo da inflação ajude a manter a Selic no atual patamar, outros afirmam que o BC deve elevar os juros em 0,25 p.p. na reunião da semana que vem.
Enquanto isso, as opções de Copom negociadas na B3 apontam para 75% de chance de uma alta de 0,25 ponto da Selic, para 10,75% ao ano, e 14% de um aumento de meio ponto percentual. As apostas de manutenção dos juros estão em apenas 10,75%.
O que dizem os especialistas sobre a inflação
Para Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, a tomada de decisão da Selic está atrelada a diversos dados do exterior, como um possível corte de juros nos Estados Unidos.
As apostas de alívio monetário por lá aumentaram após o mais novo dado de emprego nos EUA, o que pode fazer com que os juros também sejam mantidos no mesmo patamar por aqui.
Já para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, e para Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, os números são positivos, mas chegaram “em cima da hora” para conseguir influenciar na decisão de juros, que já acontece na semana que vem.
Ainda, segundo Cruz, a casa de investimento avalia um aumento de 0,25 p.p. desnecessário no momento. “Vai ser bem estranho o Copom subir juros com essa melhora no IPCA”, escreve Borsoi. Por último, para Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research,o mais recente dado de atividade econômica seja positivo para a atividade doméstica, ele também pode gerar pressões inflacionárias ou retardar o ritmo de desaceleração visto no IPCA de hoje.