De um ano para cá, o Nubank saiu da condição de incógnita a grande estrela do setor financeiro na bolsa. E não é para menos, já que o banco digital apresentou resultados em crescimento acelerado e uma rentabilidade que deixou os concorrentes tradicionais comendo poeira.
Os analistas que cobrem o Nubank hoje são praticamente unânimes sobre as perspectivas para o banco digital, até mesmo aqueles que não recomendam a compra das ações.
Mas a XP decidiu destoar do consenso e publicou um relatório no qual questiona a sustentabilidade dos resultados do banco digital do cartão de crédito roxo.
Nos últimos 12 meses, as ações do Nubank acumulam alta de mais de 130% na Bolsa de Nova York (Nyse). A fintech também possui recibos de ações (BDRs) na B3, com o código ROXO34.
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Nubank: mais lucro, mais risco
O Nubank deixou a era de prejuízos em 2022 e registrou um lucro líquido de US$ 1,031 bilhão em 2023. A rentabilidade (ROE, na sigla em inglês) atingiu 23% no quarto trimestre de 2023. No Brasil, onde as operações do banco estão mais consolidadas, o ROE já bateu a marca dos 40%.
Mas esse resultado veio a partir de uma tomada de risco maior. Isso porque o Nubank ampliou a carteira de cartões de crédito exposta a juros, de acordo com a XP.
Isso significa que uma parcela maior de clientes do banco não paga o valor total da fatura e precisa entrar em algum tipo de modalidade com juros, como o rotativo ou o parcelamento.
O percentual da carteira do Nubank exposta a juros subiu de 20% para 30% ao longo do ano passado. Ao mesmo tempo, a média do sistema financeiro recuou 26% para 23%, ainda de acordo com a XP.
"Essa trajetória inversa para o NU, apesar de gerar mais receita no curto prazo, também acende um sinal de alerta, refletindo maiores riscos de inadimplência no futuro", escreveram os analistas.
Inadimplência "diferente"
De fato, os índices de inadimplência do Nubank aumentaram em meio ao cenário de juros altos e expansão das operações. Mas o temor de parte do mercado de um descontrole dos calotes até o momento não se concretizou.
Aliás, a inadimplência mostrou enfim estabilidade e encerrou o ano em 6,1%.
Mas a XP chama a atenção para um detalhe: desde junho de 2022, o Nubank começou a baixar os empréstimos inadimplentes após 120 dias, ao contrário dos bancos tradicionais, que mantêm os créditos em atraso por 360 dias no balanço.
"Embora isso esteja totalmente em conformidade com a regulamentação, leva a um índice de inadimplência mais baixo. Assim, essa prática torna a comparação entre eles injusta", escreveram os analistas Bernardo Guttmann, Matheus Guimarães e Rafael Nobre.
Por fim, a XP avalia que a administração do Nu pode priorizar os ganhos de curto prazo em detrimento de iniciativas que impulsionariam a criação de valor sustentável. "Não gostamos da assimetria nos níveis de valuation atuais e reiteramos nossa recomendação neutra."