A última vez que Vladimir Putin pisou na China, voltou para casa com a promessa do presidente Xi Jinping de uma parceria “sem limites”. Menos de um mês depois, o líder russo invadiu a Ucrânia.
Nesta quarta-feira(18), Putin retornou a Pequim com um mandado de prisão internacional expedido, questionado internamente e necessitando tanto do apoio econômico da China como de uma rota para sair do isolamento político provocado pela guerra no leste europeu.
O encontro entre os dois presidentes, no entanto, foi inevitavelmente ofuscado pelo conflito de Israel com o Hamas — e pela visita do presidente norte-americano, Joe Biden, a Tel Aviv no meio do fogo cruzado.
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Xi, um querido amigo
Com a imagem e a economia fragilizadas pela guerra na Ucrânia, Putin não se intimidou na hora de passar o chapéu em busca de recursos.
No discurso que se seguiu ao de Xi, o presidente russo chamou o líder chinês de seu “querido amigo” e elogiou a Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, em inglês) por unir o mundo.
“A Rússia poderia desempenhar um papel fundamental no renascimento moderno da antiga Rota da Seda na China”, disse Putin.
Putin também convidou o investimento global na rota do Mar do Norte, que, segundo ele, poderia aprofundar o comércio entre o Oriente e o Ocidente.
“A Rússia não apenas oferece aos seus parceiros a utilização ativa do potencial de trânsito [da rota do Mar do Norte]… convidamos os estados interessados a participar diretamente do seu desenvolvimento, e estamos prontos para fornecer navegação, comunicação e abastecimento”, disse Putin.
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Os recados de Xi ao mundo
Xi recebeu duas dezenas de líderes mundiais e mais de uma centena de delegações em um evento que marcou o 10º aniversário da Iniciativa Cinturão e Rota – um empreendimento ambicioso porém controverso para aumentar a conectividade e o comércio em todo o mundo com projetos de infraestrutura chineses.
Dirigindo-se aos convidados estrangeiros em uma sala ornamentada no Grande Salão do Povo de Pequim, Xi elogiou a sua iniciativa por fornecer um modelo de desenvolvimento alternativo para o mundo, dizendo que “estabeleceu um novo quadro para a cooperação internacional”.
Xi não abordou o conflito no Oriente Médio no discurso, mas aludiu a uma aparente mudança no poder e na liderança globais. “Mudanças no mundo, nos nossos tempos e com significado histórico estão se desenrolando como nunca antes”, disse ele.
“A China está se esforçando para se transformar em um país mais forte e rejuvenescer a nação chinesa em todas as frentes, prosseguindo a modernização chinesa. A modernização que procuramos não é apenas para a China, mas para todos os países em desenvolvimento através de esforços conjuntos.”
Em um recado velado aos EUA, o líder chinês disse que a China se opõe a sanções unilaterais, à coerção econômica, à dissociação e à interrupção da cadeia de abastecimento.
“O confronto ideológico, a rivalidade geopolítica e a política de bloco não são uma escolha para nós”, disse ele. “Ver o desenvolvimento dos outros como uma ameaça ou assumir a interdependência econômica como um risco não melhorará a própria vida nem acelerará o seu desenvolvimento”, acrescentou.
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China, uma alternativa
Xi tem intensificado esforços para projetar a China como um líder alternativo aos EUA — com uma visão de como a segurança e o desenvolvimento globais devem ser garantidos.
Receber líderes em Pequim é uma parte fundamental do esforço para apresentar essa visão às nações com as quais estabeleceu laços estreitos ao longo da última década.
O encontro, no entanto, também surge em um momento no qual a China enfrenta grandes desafios internos, com uma economia em desaceleração, um elevado desemprego e uma série de recentes abalos inexplicáveis nos escalões superiores do Partido Comunista.
Para driblar esses desafios, Xi também propôs um plano de ação em oito partes sobre a iniciativa Cinturão e Rota, incluindo a remoção total das restrições ao investimento estrangeiro na indústria chinesa e uma iniciativa sobre gestão global da inteligência artificial.
*Com informações da Bloomeberg, da Reuters e da Asia Financial