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Powell manda recado duro sobre juros nos EUA em Jackson Hole. E as bolsas reagem. Veja o que disse o presidente do Fed

Montagem de Jerome Powell em cima de um foguete rumo ao planeta chamado juros

Montagem de Jerome Powell em foguete rumo ao planeta juros

Os investidores nos quatro cantos do mundo estavam esperando por essa sexta-feira (25): o dia em que o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, falaria no Simpósio de Jackson Hole. E ele entregou um discurso duro, daqueles que Wall Street não gosta de ouvir

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O chefão do banco central norte-americano até tentou ser poético, mas não escondeu a verdade: o Fed está pronto para continuar a marcha do aumento dos juros para trazer a inflação de volta para a meta de 2% no longo prazo. 

“Como costuma acontecer, navegamos pelas estrelas sob um céu nublado”, disse Powell, em Wyoming, para uma plateia ávida por pistas sobre o futuro da política monetária nos EUA. 

Há 3,5 mil quilômetros dali, uma tempestade se formava. Wall Street demorou para digerir as palavras do presidente do BC dos EUA, mas logo uma chuva vermelha caiu sobre a Bolsa de Nova York. O Dow Jones, o S&P 500 e o Nasdaq reverteram os ganhos obtidos mais cedo e passaram a operar em baixa. 

Na contramão, os juros projetados pelos títulos do governo norte-americano de dez anos, usados como referência global, passaram a subir. 

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O recado nada poético de Powell

Embora tenha falado em estrelas e céu, Powell não foi nada poético no recado aos investidores — pelo contrário, as primeiras frases que abriram o discurso mostram o que vem por aí na política monetária norte-americana

“Apertamos significativamente a política monetária ao longo do ano passado. Embora a inflação tenha descido do seu pico — um desenvolvimento bem-vindo — continua demasiado elevada. Estamos preparados para aumentar ainda mais os juros, se for apropriado, e pretendemos manter a política em um nível restritivo até estarmos confiantes de que a inflação está desacelerando de forma sustentável em direção à nossa meta”, disse. 

E assim ele continuou: sinalizando que o Fed pode até diminuir o calibre do aperto monetário ou intercalar as altas de juros com algumas pausas, mas indicando que o trabalho do BC dos EUA está longe de ser concluído. 

“No que diz respeito às perspectivas, embora a eliminação das distorções relacionadas com a pandemia deva continuar a exercer alguma pressão descendente sobre a inflação, a política monetária restritiva irá provavelmente desempenhar um papel cada vez mais importante”, afirmou. 

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Em uma base de 12 meses, a inflação medida pelo índice de preços para gastos pessoais (PCE, na sigla em inglês) — a medida preferida do Fed para a inflação — atingiu um pico de 5,4% em fevereiro do ano passado e desacelerou gradualmente para 4,3% em julho. 

“As leituras mensais mais baixas para a inflação em junho e julho foram bem-vindas, mas dois meses de bons dados são apenas o começo do que será necessário para criar confiança de que a inflação está desacelerando de forma sustentável em direção ao nosso objetivo”, disse. 

Segundo Powell, ainda não é possível saber até que ponto estas leituras mais baixas continuarão ou em que patamar a inflação se estabilizará nos próximos trimestres. 

“A inflação dos últimos 12 meses ainda é elevada e há ainda um terreno substancial a percorrer para regressar à estabilidade de preços”, acrescentou. 

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Powell vai pagar o preço da recessão?

Muito se fala da possibilidade de a maior economia do mundo entrar em recessão com uma política monetária tão agressiva como a que o Fed vem conduzindo há mais de um ano. 

Powell sinalizou que esse é um preço que ele está disposto a pagar, se for necessário. 

“Prevê-se que a desaceleração sustentada da inflação para 2% exigirá um período de crescimento econômico abaixo da tendência, bem como algum abrandamento das condições do mercado de trabalho”, afirmou. 

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Por enquanto, a recessão não parece ser o caso. Uma série de dados brandos divulgados nas últimas semanas apontou para uma economia forte, porém em arrefecimento — o que aumentou a esperança entre os investidores de que os EUA poderiam evitar uma recessão. 

Os economistas do Bank of America, por exemplo, afirmaram em relatório recente que esperam que a economia norte-americana continue a se expandir nos próximos trimestres, com um aumento gradual do desemprego.

“As nossas revisões implicam que já não esperamos uma recessão moderada e, em vez disso, pensamos que a economia poderá conseguir contorná-la”, escreveram os economistas do Bank of America liderados por Michael Gapen.

O principal economista do JP Morgan nos EUA disse no início do mês que não espera mais uma recessão este ano.

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Observando que as projeções para os dados do terceiro trimestre sugerem que a economia dos EUA está se “expandindo a um ritmo saudável”, o titã de Wall Street disse: “Duvidamos que a economia perca rapidamente dinamismo suficiente para entrar numa contração já no próximo trimestre, como havíamos projetado anteriormente”, diz o JP Morgan em relatório. 

Quando os juros vão subir?

Embora Powell tenha sinalizado a disposição de continuar com o aperto monetário nos EUA, a pergunta que a maioria dos investidores está se fazendo agora é: quando os juros vão subir?

Uma pista do que pode acontecer vem do CME Group, que consolida as apostas dos traders sobre os juros. 

Logo após o discurso de Powell, a ferramenta apontava 47,9% de probabilidade de que os juros alcancem o nível de 5,50% a 5,75% até novembro, o que representaria uma elevação de 25 pontos-base em relação ao patamar atual. Ontem, essa possibilidade era de 43%.

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Também houve avanço na chance de uma alta ao intervalo entre 5,75% e 6,00% — de 7,1% na véspera a 9,1%. Na contramão, o cenário de manutenção dos juros durante esse período recuou de 50,6% a 45%.

Para a próxima decisão, em setembro, a curva sugere 80,5% de probabilidade de manutenção dos juros, comparado com 81% ontem. Já a probabilidade de aumento de 25 pontos-base subiu de 19% para 19,5%.

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