Impasse. Esta é a melhor definição para o rescaldo das eleições gerais realizadas no domingo na Espanha.
Antes da votação, pesquisas de intenção de voto indicavam que o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE, centro-esquerda) seria varrido do poder.
As sondagens apontavam para uma vitória convincente do Partido Popular (PP, conservador), mas sugeriam que a legenda teria que formar uma coalizão com o Vox.
Se concretizado o prognóstico, a extrema-direita retornaria ao seio do poder na Espanha pela primeira vez desde o fim da ditadura de Francisco Franco (1939-1975).
Reviravolta na Espanha
Abertas as urnas, a surpresa.
O PP assegurou 136 cadeiras no Parlamento. Ganhou, mas não levou.
O Vox, de extrema-direita, fez 31 deputados. Juntos, ficaram a nove assentos da vitória.
“Foi uma vitória de Pirro para o Partido Popular, que não consegue formar governo”, disse a analista política Verónica Fumanal à agência Associated Press.
Já o PSOE, do primeiro-ministro Pedro Sánchez, garantiu 122 assentos.
Jogou água no chope da força opositora e ainda deixou aberta a possibilidade de permanecer no governo.
Isso porque o Sumar (esquerda) conseguiu 31 cadeiras.
O restante ficou com partidos menores, quase todos separatistas.
“Vejo um cenário de impasse no Parlamento”, acrescentou Verónica Fumanal.
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Um novo renascimento de Pedro Sánchez?
Pedro Sánchez apenas 51 anos de idade, mas tem fama quando o assunto é ressurgir das cinzas.
Em 2016, uma derrota interna no PSOE levou Sánchez a renunciar à liderança do partido e também a sua cadeira no Parlamento da Espanha.
Mas ele recuperaria a liderança do PSOE já no ano seguinte.
Isso colocou Sánchez em posição de destaque no processo que levou à queda do primeiro-ministro conservador Mariano Rajoy, em 2018.
Antecipadas as eleições, Sánchez conduziu o PSOE de volta ao poder à frente de uma coalizão de centro-esquerda.
À frente do governo, a adoção de uma pauta progressista desencadeou a reação dos setores mais conservadores da sociedade espanhola.
Simultaneamente, o Vox cresceu no país em meio a uma onda de fortalecimento da extrema-direita que nos últimos anos vem se espalhando para além da Europa.
Em maio, Sánchez antecipou as eleições gerais depois de ver seu partido sair derrotado em importantes votações regionais
Agora, afastada a perspectiva de uma derrota arrasadora no cenário nacional, Sánchez ganha a chance de um novo renascimento político.
O que vai acontecer agora na Espanha
Os veículos de imprensa da Espanha ainda tentam entender o que levou à reviravolta no domingo.
Alguns afirmam que houve uma reação a temores quanto ao retorno da extrema-direita de volta ao governo.
Outros colocam o resultado na conta de erros atribuídos ao líder do PP, Alberto Núñez Feijóo, dos dias que antecederam o pleito.
Houve quem ventilasse uma possível prejuízo à direita por causa das férias de verão, mas o número de votos por correio cresceu consideravelmente.
O fato é que nem o PP nem o PSOE teriam votos para governar sozinhos. E se PP e Vox não alcançam o número mágico de 176 cadeiras no Parlamento, Sánchez ainda tem uma chance.
Além dos 31 votos do Sumar, ele precisaria atrair partidos menores para dentro do governo. Isso incluiria acordos formais com separatistas do País Basco e da Catalunha.
Feijóo também pode tentar, mas essas legendas têm mais afinidade programática com o PSOE do que com o PP.
De qualquer modo, tais acordos são improváveis. Afinal, qual deles toparia, por exemplo, o compromisso com um referendo separatista?
No momento, o mais provável é que uma nova eleição seja convocada. Não sem antes algumas semanas de impasse enquanto os líderes políticos espanhóis tentam costurar algum acordo.
*Com informações da Associated Press.