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O que o dólar ensina sobre uma das maiores armadilhas para qualquer investidor

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Por volta das 11h50 bateu o desespero: caramba, onde eu coloquei meu fone de ouvido?

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Não sou do tipo que gosta de restaurantes finos. Qualquer restaurante que sirva um prato bem feito com arroz, feijão e bife – por menos de R$ 40 na Faria Lima – já me deixa bastante feliz. Só tem um problema: o barulho. 

Com cinquenta pessoas comendo no mesmo lugar que você, silêncio não é uma possibilidade, o que torna os meus fones de ouvido quase um item de sobrevivência durante meu almoço.

Por isso o desespero – e a meia dúzia de palavrões proferidos – ao concluir que realmente tinha esquecido o maldito em casa.

Arroz, feijão e dólar

No restaurante, o de sempre: arroz, feijão e bife – e, confesso, umas batatas fritas também.

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O que mudou era o barulho. Eu não sei bem o motivo, mas as pessoas que trabalham no mercado financeiro – especialmente homens, entre vinte e trinta anos de idade – adoram falar alto, talvez para que todas as pessoas ao seu redor invejem o fato de eles trabalharem no mercado financeiro. O que eles provavelmente se esquecem é que 98% das pessoas ali fazem exatamente a mesma coisa que eles.

Enfim, sem os fones de ouvido, não tive escolha a não ser ouvir os garotos na mesa do lado. Naquele dia, depois de uma longa sequência de quedas que levou o dólar dos R$ 5,50 para os R$ 5,00, finalmente a moeda americana mostrava alguma reação positiva.

Um dos jovens barulhentos se lamentava por não ter comprado mais da moeda no dia anterior, que na visão dele já estava barata demais, o que ficava ainda mais óbvio com a forte alta daquele dia. "Poxa, era óbvio que o dólar estava barato, olha a alta hoje. Podemos comprar muito mais da moeda depois do almoço".

Desde aquele dia eu fiz questão de nunca mais esquecer meus fones, e de colocar o dólar na segunda linha do meu painel de cotações para acompanhar de perto o movimento da moeda, que logo no dia seguinte voltou a cair e desabou para baixo dos R$ 4,80 desde então.

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Arquivo pessoal

Com fones de ouvido, eu nunca mais vou precisar ouvir aquele pessoal no almoço novamente. Mas, para falar a verdade, eu até gostaria de saber o que eles estão achando do dólar nos níveis atuais.

Será que ainda pensam que o dólar mostrava uma oportunidade de compra óbvia nos R$ 5,00?

O viés de confirmação

O viés de confirmação é um dos mais traiçoeiros que existem. Ele faz as pessoas filtrarem apenas as informações que confirmam as suas teses e refutarem (mesmo que inconscientemente) as que sinalizam que elas podem estar erradas.

Por exemplo, o meu pai achava São Paulo uma cidade extremamente violenta. Adivinha qual era o seu programa preferido? Brasil Urgente! Durante as tardes, a cada 60 segundos, o Datena confirmava essa tese para ele.

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O mesmo acontece com analistas e investidores.

Um investidor que esteja pessimista demais com o Brasil pode acabar ficando obcecado pelas notícias que confirmem as suas teses negativas, e acabem descartando aquelas que indiquem uma possível melhora de cenário.

"Ah, mas o arcabouço Fiscal não resolve o problema da dívida para sempre", "ah, mas tirando o agro, o PIB foi uma porcaria", "ah, mas o Haddad é petista" e por aí vai…

O sujeito do almoço provavelmente já estava enviesado quando o dólar estava nos R$ 5,50. Ele provavelmente não se questionou em nenhum momento enquanto a moeda desabava para os R$ 5,00 se ele poderia estar errado.

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Mas depois de inúmeros pregões de queda, bastou uma única alta relativamente forte de 2% no dia do fatídico almoço para servir como um combustível para as suas convicções; deixou ele ainda mais certo de que o dólar precisava e estava prestes a subir – provavelmente ele colocou (e perdeu) ainda mais dinheiro ali.

O investidor que sobrevive e prospera no mercado financeiro tem dúvidas demais e certezas de menos. É preciso ter a cabeça aberta para que ela mude quando o cenário mudar, e para conseguir absorver tanto as informações que confirmem, quanto as que refutem a sua tese.

É muito mais fácil falar do que fazer, eu sei. Mas saber que o viés de confirmação existe já é um passo importante para você saber que pode estar deixando passar informações importantes.

Por exemplo, quando o assunto é "investimentos", o Brasil hoje é muito melhor do que o do início do ano. Ainda temos problemas, é verdade, e os juros continuam elevados.

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Por outro lado, os valuations seguem baratos e, apesar do discurso do Banco Central mais hawkish do que o esperado , a Selic deve começar a cair já em 2023, o que me faz acreditar que podemos estar no início de um longo ciclo de valorização.

Se você ainda não tem ações na carteira, vale a pena começar a comprar um pouquinho. Se, por acaso, você tem receio de investir em ações, uma maneira de estrear nesse mercado é comprando ações defensivas, de empresas líderes de mercado e que são boas pagadoras de dividendos, como o Itaú (ITUB4), que é uma das nossas preferidas na série Vacas Leiteiras.

Um grande abraço e até a semana que vem!

Ruy

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