Quiet quitting (desistência silenciosa) e bare minimum Mondays (segundas-feiras do mínimo necessário) são tendências recentes no mundo do trabalho e compartilham o lema de combater a cultura de esforço excessivo ou sobrecarga e práticas tóxicas das empresas.
Mas essas tendências já estão no passado. A nova onda agora é o "lazy girls jobs", ou "empregos de garotas preguiçosas", em tradução livre.
A popularização dessa novidade aconteceu no TikTok, com um vídeo feito pela digital influencer Gabrielle Judge, no qual ela incentiva seus seguidores a procurarem por "lazy girls jobs".
Basicamente, o que ela defende é que mulheres podem encontrar empregos que remuneram bem - entre US$ 60 mil a US$ 80 mil por ano - e também oferecem flexibilidade de horário mais a possibilidade de trabalhar remotamente.
Gabrielle faz parte da geração Z, nascidos entre 1995 e 2010. E isso levanta uma discussão latente feita em diferentes fóruns: esses jovens não querem mais trabalhar?
Antes de aprofundar a questão, vale dizer que Gabrielle foi bastante criticada pelo uso do termo, devido ao tom sexista que transmite. Por que garotas e não pessoas ou garotos preguiçosos? A explicação é que ela direciona seu conteúdo e soluções para o público feminino.
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Deixando essa problemática suspensa na nossa discussão e aprofundando sobre o comportamento dos gen Z, é importante esclarecer que as características de cada geração podem variar muito a depender do país, sob a ótica de desenvolvimento, cultura, entre outros fatores.
Portanto, é preciso ponderação sobre as tendências gringas que decidimos surfar por aqui em águas tupiniquins. Contextos sociais e econômicos fazem muita diferença nas análises sobre as gerações.
Ao falar com o nosso querido editor Vinicius Pinheiro sobre a ideia de abordar o lazy girls jobs, ele me presenteou com um post feito no Instagram do jornalista Chico Felitti, que registra algumas mensagens, no mínimo engraçadas, feitas por integrantes da geração Z.
Separei dois relatos, só para você ter uma ideia do teor da coisa:
Embora um tanto caricatos os relatos, não faltam exemplos de amigos que me confidenciam estar preocupados com a forma que a Gen Z tem se relacionado com o trabalho.
Sempre que a discussão sobre gerações vem à mesa, me faço algumas perguntas:
1. Nós somos os mesmos e vivemos como os nossos pais?
A primeira dúvida, inspirada em Elis Regina, é sobre o quanto existe uma diferença real entre as gerações. Será que fomos realmente diferentes na forma como nos relacionávamos com o trabalho quando tínhamos a mesma idade?
Tenho a impressão de que há muita semelhança entre as gerações, a diferença estaria mais na linha cronológica da idade, em decorrência da maturidade de cada indivíduo. Ou seja, talvez repetimos ciclos parecidos de comportamentos, conforme nossa faixa etária.
Quando converso com pessoas mais velhas do que eu, tenho a sensação de que elas passaram por questionamentos muito similares na mesma idade.
Tal como a Gabrielle, hoje com 26 anos, que questiona o tipo de trabalho ideal, será que no fundo não estávamos fazendo perguntas parecidas na mesma idade?
Uma outra explicação poderia ser apenas o deslocamento de quando as indagações chegam. Com a exposição e facilidade no acesso à tanta informação, as perguntas essenciais sobre a nossa relação com o trabalho têm sido processadas mais precocemente pela Gen Z.
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2. Não seria a geração Z a primeira a escancarar o que sempre desejamos em relação ao trabalho?
Embora num primeiro momento, a minha impressão sobre a nova tendência tenha sido de que a garota era sem noção - confesso, não nego -, deixei a ideia assentar em mim e comecei a refletir sobre o que ela realmente reivindicava. Talvez a forma de comunicar me assuste mais do que a ideia em si.
Afinal, demandar um equilíbrio melhor entre vida e trabalho não deveria soar como uma exigência tão incomum.
3. A principal mudança dessa geração para as anteriores não estaria mais ligada à relação com a tecnologia e redes sociais?
É impressionante o salto que demos como sociedade no que se refere às formas e plataformas disponíveis de comunicação. Possivelmente este seja um ponto central que diferencia as gerações. Hoje, com acesso à internet e um celular em mãos, é possível ter um alcance muito maior do que as gerações anteriores tiveram.
Foi o que aconteceu no movimento do quiet quitting, por exemplo, que pregava o lema de ir se desligando da empresa de forma silenciosa, a fim de culminar com o fim do contrato. Nada novo quando comparamos com as outras gerações, afinal, desengajar do trabalho parece ser algo atemporal.
A maior diferença é que o movimento ganhou força no TikTok, uma rede social que dá voz a qualquer pessoa e pode chegar a várias outras de forma exponencial.
Como já é habitual, não quero encerrar nossa conversa sem antes fazer você refletir sobre algumas coisas que tangenciamos aqui.
- Qual é a relação ideal com o trabalho para você?
- O trabalho está balanceado de forma satisfatória com as demais dimensões da sua vida?
- Quais suas condições de satisfação para você considerar um trabalho saudável?
- Olhando somente para o que importa para você, o seu trabalho está dimensionado de forma a proporcionar uma vida feliz?
X, Y, Millennial ou Z, não importa, no fundo, todo mundo quer ser feliz.
Até a próxima.
Thiago Veras