Olá, seja bem-vindo à Estrada do Futuro, onde conversamos semanalmente sobre a intersecção entre investimentos e tecnologia.
Um dos gráficos mais comuns na minha timeline — especialmente entre investidores que perderam a excelente recuperação do setor de tecnologia em 2023 —, é este a seguir.
Elaboração: autor | Fonte: Koyfin
O gráfico compila a performance do índice S&P 500 (em vermelho) e de uma versão "customizada" do S&P 500 (em preto).
Essa versão customizada atribui o mesmo peso para cada uma das 500 companhias do índice, sem fazer nenhuma diferenciação entre as maiores e as menores empresas.
Esta, porém, não é a metodologia oficial. Na prática, o S&P 500 de hoje é dominado pelas big techs.
A excelente performance desse grupo seleto de ações em 2023, fez com que boa parte da indústria de gestão de recursos ficasse para trás do benchmark.
O movimento tornou-se tão extremo que, pela primeira vez na sua história, os formuladores dos índices sentiram-se propelidos a intervir.
VEJA TAMBÉM - DÓLAR ABAIXO DOS R$ 4,50? O QUE ESPERAR DO CÂMBIO E SELIC NA RETA FINAL DE 2023
Canetada no Nasdaq
Dentro do índice Nasdaq — que é mais focado em empresas de tecnologia —, as 7 maiores empresas do setor (Amazon, Google, Apple, Microsoft, Tesla, Nvidia e Meta) representam cerca de 55% de toda a alocação do índice.
Fonte: investors.com
Obviamente, essas empresas estão onde estão devido, em maior parte, ao seu sucesso.
Por exemplo: elas representam em torno de 25% do índice S&P 500. Mas se analisarmos os investimentos (capex) que todas as empresas do índice realizam anualmente, descobriremos que as big techs investem 35% de todo o montante.
Ou seja, não é que essa concentração seja algo arbitrário. De fato, essas são as melhores empresas do mundo.
Essa concentração, porém, gera alguns efeitos colaterais.
Outro exemplo: num mercado onde os fundos de investimento passivos (os ETFs) crescem sua fatia todos os anos, isso se traduz num fluxo comprador perene para essas ações.
Esse fluxo comprador tende a suportar um movimento de expansão de múltiplos e jogar a favor da continuidade da tendência de consolidação das big techs.
Nesta semana, porém, a Nasdaq surpreendeu o mercado com a seguinte notícia: "Nasdaq 100 planeja rebalanceamento especial para diminuir a dominância das Sete Magníficas".
Fonte: investors.com
Os novos pesos não haviam sido anunciados até o momento em que eu fechei esta coluna, mas as big techs devem convergir para algo como 38,5% do índice.
Esse movimento acontecerá sem que nenhuma ação seja adicionada ou retirada dos índices. Na prática, no final deste mês, os ETFs terão que vender ações das big techs e comprar as demais ações do Nasdaq 100.
Quais as implicações disso?
Combate à desigualdade, versão Wall Street
Na prática, o que acontecerá é que o dinheiro mudará de bolsos. Uma grande quantidade de capital deixará as big techs nestes próximos meses e irá migrar para o restante do índice Nasdaq.
Deixe eu ilustrar isso com uma tabela: a seguir, à esquerda do quadro estão as melhores performances do índice Nasdaq 100 na última segunda-feira (quando foi anunciado o rebalanceamento) e à direita estão as piores performances do índice.
Elaboração: autor | Fonte: Koyfin
Na última segunda (10) o índice Nasdaq 100 consolidado subiu apenas 0,1%. Das 100 empresas que estão no índice, 88 delas apresentaram performance positiva, contra apenas 13 delas caindo.
Em resumo, praticamente só as big techs caíram e todo o restante do Nasdaq subiu, antecipando um forte fluxo comprador no restante das empresas do índice.
Essa movimentação reflete a minha interpretação: o impacto geral é neutro no índice Nasdaq, negativo para as big techs e muito positivo para o restante das empresas de tecnologia listadas.
Ou seja, esse é um ótimo momento para reler a minha coluna da semana passada, onde eu compartilho minhas principais apostas em tecnologia para o segundo semestre.