O mercado financeiro aguarda com ansiedade pelos dados da inflação oficial que devem ser divulgados amanhã (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas mesmo sem a leitura de abril já é possível cravar que os preços, enfim, estão desacelerando o ritmo de alta.
A inversão da tendência dos últimos anos pode ser sentida já nos números do primeiro trimestre de 2023, atacando justamente um dos setores que mais se beneficiaram da pressão inflacionária nos últimos tempos — o varejo alimentar.
O motivo pela preferência dos investidores era simples: com a renda das famílias comprometida, os consumidores deixaram de consumir bens duráveis e considerados supérfluos, mas não alimentos. Além disso, a preferência pelo setor de atacarejo, com preços mais acessíveis, impulsionaria as vendas de empresas como Assaí (ASAI3), Atacadão (CRFB3) e Grupo Mateus (GMAT3).
Mas depois da bonança, os balanços trimestrais começam a mostrar uma desaceleração nos ganhos — justamente em um momento em que as companhias lidam com os custos de uma Selic a 13,75% ao ano e o financiamento de um agressivo processo de expansão.
Assim, os números apresentados pelo Assaí e Atacadão decepcionaram e as ações das companhias apresentaram queda expressiva após os resultados — mas o mesmo não acontece com os papéis do Grupo Mateus (GMAT3). Isso porque, ao contrário de suas principais concorrentes, a empresa apresentou números que surpreenderam os analistas.
Por volta das 14h, os papéis GMAT3 subiam cerca de 8,03%, a R$ 6,46. No ano, a empresa acumula ganhos de mais de 6%. Acompanhe a nossa cobertura completa de mercados.
Grupo Mateus (GMAT3): os números do 1T23
- Receita Líquida: R$ 6,6 bilhões ( +27,5% ante 1T22)
- Performance mesmas lojas: (11,3%)
- Margem Bruta: 21,1% (+0,7 p.p)
- Ebitda: R$ 411 milhões
- Margem Ebitda: 7% (0,4 p.p)
- Lucro líquido: R$ 240 milhões (+20,3%)
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O que pensa o mercado?
Assim como os investidores, os analistas gostaram bastante dos números apresentados pelo Grupo Mateus.
A Genial Investimentos aponta que apesar da redução da margem bruta — um efeito colateral do crescimento do braço de atacarejo da companhia —, a empresa conseguiu ir na contramão dos demais rivais, que sofrem com os custos de grandes aquisições, e diluir suas despesas operacionais.
E apesar da Selic elevar os custos financeiros, impactando o lucro líquido, o ciclo de caixa mostra grande capacidade da companhia em elevar a sua rentabilidade — ponto elogiado também pelo Itaú, Santander, BTG Pactual e Safra.
Para o Itaú BBA, a companhia possui fatores positivos suficientes no curto e longo prazo para se sustentar como a preferência do banco no varejo alimentar, incluindo a dinâmica favorável do setor, melhorias do custo de capital e níveis de endividamento — nos cálculos dos analistas da instituição, o valuation atrativo pode levar os papéis a terem 50% de prêmio potencial.
Apesar do processo de expansão da companhia ser mais lento do que os vistos nas demais empresas do setor, a companhia abriu 20 novas lojas nos últimos 12 meses, com seis delas no último trimestre do ano. Para o Safra, esse é um bom começo para 2023, ditando o ritmo para os próximos trimestres.
Os bons números, no entanto, não escondem uma dúvida — ventilada principalmente pelos analistas do Bradesco BBI —, a de se as receitas vindas de operações adicionais, e que foram relevantes neste trimestre e vindas principalmente da atividade de trade marketing, irão se manter em ritmo aceitável nos próximos períodos de análise.
Ainda que a inflação esteja caindo e mudando a dinâmica do setor, os analistas do BTG Pactual acredita que a boa execução apresentada reforça a resiliência da operação do Grupo.