Com três quartos dos balanços dos grandes bancos já publicados, a temporada segue rigorosamente o roteiro previsto pelos analistas: Bradesco (BBDC4) e Santander Brasil (SANB11) continuam enfraquecidos, enquanto o Itaú (ITUB4) permanece firme no topo. Mas e o Banco do Brasil (BBAS3)?
A instituição estatal, que num passado não tão distante era visto com certa desconfiança pelo mercado, dada a possibilidade de intervenção do governo, virou o principal concorrente do Itaú, tanto em termos de lucro quanto de rentabilidade. E, no segundo trimestre de 2023, a história tende a se repetir.
Segundo a média das projeções de seis casas de análise consultadas pelo Seu Dinheiro, o Banco do Brasil deve fechar o período com um lucro líquido de R$ 8,68 bilhões — o que, se confirmado, representa um crescimento de 11,3% na base anual —, com rentabilidade de 20,7%.
São números bastante próximos dos reportados pelo Itaú neste segundo trimestre, com ganhos de R$ 8,742 bilhões e rentabilidade de 20,9%. Com isso, reforça-se a percepção de que, entre os bancões, dois grupos foram formados: Itaú e Banco do Brasil em alta, Bradesco e Santander em baixa.
Dito isso, há um ponto de preocupação entre os analistas para o balanço do BB, cuja divulgação está prevista para esta quarta-feira (9), depois do fechamento dos mercados: uma possível deterioração na dinâmica da inadimplência e dos volumes provisionados.
Projeções de lucro líquido para o Banco do Brasil (BBAS3) no 2T23 (em R$ milhões)
Instituição | Banco do Brasil Estimativas de lucro no 2T23 (R$ mi) |
BTG Pactual | 8.757 |
Santander | 8.685 |
Itaú BBA | 8.718 |
Inter | 8.737 |
XP | 8.655 |
Goldman Sachs | 8.539 |
Média | 8.682 |
Banco do Brasil no 2T22 | 7.803 |
Variação a/a | +11,3% |
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Banco do Brasil (BBAS3): tudo bem, mas...
Assim como no caso do Itaú, os analistas enxergam um cenário positivo para o Banco do Brasil (BBAS3) — o que, na verdade, representa só a continuidade do bom momento da instituição, que passou por um salto na rentabilidade e nos lucros ao longo dos últimos trimestres.
"Esperamos que o banco reporte os maiores crescimentos na carteira de crédito (+3%) e nas margens (+7%) na base trimestral entre os grandes bancos, com apenas um aumento modesto na inadimplência", escrevem Pedro Leduc, Mateus Raffaelli e William Barranjard, analistas do Itaú BBA.
Para Matheus Amaral, analista do Inter, o quadro permanecerá o mesmo para o Banco do Brasil: forte desempenho em Tesouraria, ainda beneficiado pela Selic elevada e pela carteira de crédito de maior qualidade que os pares privados — o BB é particularmente forte no crédito agrícola.
No entanto, por mais que as principais linhas do balanço devam mostrar um resultado sólido, há duas questões potencialmente negativas no radar dos analistas: o aumento nas provisões e a deterioração nos índices de inadimplência — tendências que, para o Santander, serão influenciadas por dois fatores:
- A espera dos clientes pelo início do Desenrola e deixando de pagar compromissos para aproveitar as condições favoráveis de renegociação do programa federal; e
- O ambiente macroeconômico ainda difícil.
"Em conversas recentes com investidores, percebemos que parte deles já espera provisões maiores após contatos com o departamento de RI", ressaltam Henrique Navarro, Arnon Shirazi e Anahy Rios, analistas do Santander. "Isso pode limitar grandes surpresas negativas no segundo trimestre".
O efeito Americanas também é citado como potencial influenciador para a dinâmica da inadimplência: Goldman Sachs e Bank of America citam os desdobramentos desfavoráveis da recuperação judicial da varejista ao BB, além de uma certa deterioração nos segmentos corporativo e de PMEs.
"As provisões podem vir maiores que o projetado. As despesas operacionais devem crescer acima da inflação, mas permanecer sob controle", diz o Bank of America.
Projeções de rentabilidade (ROE) para o Banco do Brasil no 2T23
Instituição | Banco do Brasil Estimativas de rentabilidade no 2T23 |
Santander | 20,5% |
Itaú BBA | 20,1% |
Inter | 20,6% |
XP | 22,0% |
Goldman Sachs | 20,4% |
Média | 20,7% |
Banco do Brasil no 1T23 | 21,0% |
Variação t/t | -0,3 pp |