A temporada de balanços é um grande desfile das empresas brasileiras, que se vestem com seus melhores números (ou tentam empurrá-los para debaixo do tapete vermelho) para impressionar os investidores. Mas, quando a Vale (VALE3) chega não tem para mais ninguém: a mineradora rouba os holofotes e atenção de todo o mercado.
O problema é que, no segundo trimestre, os holofotes jogam luz sobre resultados nos quais a companhia preferiria manter a discrição. O lucro líquido das operações continuadas, por exemplo, recuou 49,7% ante o mesmo período do ano anterior e ficou em US$ 4 bilhões. Já a receita líquida de vendas recuou 32,44%, para US$ 11,1 bilhões.
A derrapada do Ebitda (Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado foi ainda maior, na mesma base de comparação, e chegou a 53,1%. O indicador fechou o trimestre em US$ 5,2 bilhões e, segundo a Vale, refletiu a queda do minério de ferro e do cobre no mercado internacional.
Despesas crescem
Houve alta em uma linha do balanço, mas a notícia não é de se comemorar: os gastos com indenizações de Brumadinho e outros custos relacionados à descaracterização de barragens ficaram em US$ 280 milhões, ante US$ 185 milhões no segundo trimestre do ano passado.
Ao menos as intervenções nas estruturas com o objetivo de reincorporá-las ao meio ambiente têm dado resultado. A Vale informou que concluiu em junho as descaracterizações de duas das cinco barragens a serem eliminadas neste ano e avança nas obras das outras três.
As despesas com pesquisa e desenvolvimento e outros gastos também cresceram, elevando o custo operacional total da companhia para US$ 834 milhões, cifra 15,5% superior à do 2T21.
Vale (VALE3) anuncia dividendos
Além do resultado do segundo trimestre, a Vale (VALE3) também anunciou o pagamento de mais de R$ 16 bilhões em dividendos e juros sobre o capital próprio (JCP).
A bolada, que equivale ao valor bruto de R$ 3,572056566 por ação, será destinada aos detentores de ações da companhia em 11 de agosto. Para quem possui ADRs, recibos de ações negociados nos Estados Unidos, a data de corte é no dia 15 do mesmo mês.
Vale lembrar que, após essas datas, as ações serão negociadas "ex-direitos" e passarão por um ajuste na cotação referente aos proventos já alocados. Então você pode optar por comprá-las agora e receber os dividendos ou esperar a data de corte e adquirir os papéis por um valor menor, mas sem o direito ao dinheiro.
O pagamento está marcado para 1º de setembro, no caso das ações VALE3, e 9 de setembro para os ADRs. Até lá o valor por ação informado pode sofrer alterações em decorrência do programa de recompra da companhia, que altera o número de papéis em tesouraria.
Por falar nisso, a Vale também anunciou o cancelamento de pouco mais de 220,1 milhões de papéis que estavam por lá. O capital social da mineradora não será alterado e agora passa a ser composto por 4.778.889.251 ações ordinárias e 12 ações preferenciais de classe especial, todas sem valor nominal.
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Vale (VALE3) vende participação em siderúrgica que tinha o selo de Lula
Mais cedo, a mineradora já havia sido destaque do noticiário com o anúncio da assinatura do contrato de venda da participação na Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) para a ArcelorMittal.
Trata-se de um gesto emblemático e que pode ter repercussões políticas, já que o investimento na siderúrgica, em 2008, foi defendido pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na época, a entrada da Vale no setor provocou polêmica. Isso porque a decisão teria sido tomada por uma possível interferência do governo na companhia, e não por questões técnicas.
A mineradora passou para a iniciativa privada ainda nos anos 1990, mas manteve por vários anos fundos de pensão estatais entre os principais acionistas.
A Vale possui uma participação de 50% da CSP e tem como sócias as coreanas Dongkuk (30%) e Posco (20%). Do ponto de vista financeiro, o investimento na siderúrgica cearense de fato não parece ter sido dos melhores para a Vale.
A CSP fica no município de São Gonçalo do Amarante e ocupa uma área de 571 hectares do Complexo Industrial e Portuário do Pecém. A siderúrgica possui capacidade instalada de 3 milhões de toneladas de placas de aço por ano.
A ArcelorMittal avaliou a companhia em aproximadamente US$ 2,2 bilhões (R$ 11,6 bilhões, no câmbio atual). Mas a Vale não verá esse valor entrando no caixa, já que os recursos irão para o pagamento antecipado do saldo da dívida líquida de aproximadamente US$ 2,3 bilhões da CSP.
“Esta transação reforça a estratégia da Vale de simplificação de portfólio, com foco nos principais negócios e oportunidades de crescimento, pautados pela alocação de capital disciplinada”, informou a companhia, em comunicado. Por fim, o negócio ainda depende da aprovação dos órgãos reguladores.