Conhecido entre os países ocidentais como o homem que acabou com a Guerra Fria, Mikhail Gorbachev morreu nesta terça-feira (30), aos 91 anos, sem ver o fim da guerra entre Rússia e Ucrânia — ou pelo menos uma sinalização de paz entre os dois países.
Se, deste lado do mundo, Gorbachev deixou sua marca por encerrar a disputa — pelo menos às claras — entre o bloco capitalista, liderado pelos EUA, e o comunista, encabeçado pela então União Soviética, do lado russo, ele ficou conhecido por provocar o colapso da URSS com reformas ousadas de abertura do estado.
“Mikhail Sergeevich Gorbachev morreu esta noite após uma doença grave e prolongada”, informou o Hospital Clínico Central da Academia Russa de Ciências.
A agência de notícias oficial Tass informou que Gorbachev será enterrado no cemitério Novodevichy, em Moscou, ao lado de sua esposa.
Gorbachev, perestroika e glasnost
Mikhail Gorbachev, cujo governo tumultuado foi associado aos termos perestroika e glasnost (reforma e abertura), foi o último presidente da União Soviética antes de sua dissolução.
Ele entrou no comitê central do Partido Comunista em 1971 e, em 1979, foi promovido ao Politburo, maior autoridade da União Soviética.
Gorbachev viajava constantemente pelo mundo, e na década de 1980 se encontrou com líderes como a premiê britânica, Margaret Thatcher; o premiê canadense, Pierre Trudeau, e o presidente norte-americano, Ronald Reagan.
Não por acaso seu nome é associado aos termos perestroika e glasnost, de reforma e abertura do regime.
Em 1985, após a morte de Konstantin Chernenko, Gorbachev foi eleito Secretário-Geral do Politburo, mesmo sendo o mais jovem da organização.
Com a reorganização que incluiu um novo Congresso, a União Soviética teve em 1989 as primeiras eleições desde 1917. Gorbachev foi eleito presidente e tomou posse em 1990, ano da queda do muro de Berlim.
A cortina de ferro de Gorbachev
Nos pouco mais de seis anos tumultuados de governo, Gorbachev levantou a Cortina de Ferro, alterando decisivamente o clima político do mundo.
Ele prometeu e deu maior abertura ao se preparar para reestruturar a sociedade e a economia vacilante de seu país.
Não tinha a intenção de liquidar o império soviético, mas cinco anos depois de chegar ao poder, Gorbachev presidiu a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Um quarto de século após o colapso, Gorbachev disse à Associated Press que não havia considerado o uso da força generalizada para tentar manter a URSS unida porque temia o caos em um país nuclear.
“O país estava carregado até a borda de armas. E isso teria imediatamente empurrado o país para uma guerra civil”, disse ele.
A relação de Gorbachev e Putin
Segundo fontes próximas a Gorbachev, nos últimos meses ele estaria consternado por presenciar o trabalho de sua vida “destruído” pelo atual presidente russo, Vladimir Putin.
O próprio Gorbachev afirmou em entrevista que a grande causa da sua vida foi a perestroika e a guerra de Putin na Ucrânia estava levando a Rússia para o caminho oposto.
Na visão de Gorbachev, Putin mergulha a Rússia no autoritarismo e na agressão militar e a guerra na Ucrânia tem contribuído para uma Rússia cada vez mais isolada do Ocidente.
A origem de Gorbachev
Mikhail Gorbachev nasceu em 2 de março de 1931, na cidade de Privolnoye, na Rússia, membro de uma família de imigrantes russo-ucranianos.
Ele perdeu duas irmãs e um tio durante um período de fome no país em 1933. Seus pais eram agricultores e ele ajudou-os no sustento durante a adolescência.
Formou-se em Direito em 1955, pela Moscow State University, e em Economia em 1967, pela Faculty of Economy.
Ainda na universidade, Gorbachev conheceu Raisa Titarenko, com quem se casou em 1953. Raisa morreu em 1999 em decorrência de leucemia. Os dois tiveram uma filha, Irina Mikhailovna Virganskaya, em 1957.
Em 1952, ingressa no Partido Comunista da União Soviética e trabalha em vários cargos no partido pelas próximas duas décadas.
Já em 1970, Gorbachev torna-se deputado do Supremo Soviético, o mais alto órgão legislativo da União Soviética, e no ano seguinte vira membro do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética.
*Com informações do G1 e do Estadão