Falta pouco mais de duas semanas para o primeiro turno das eleições e a campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, encontra-se diante de uma questão existencial: o que resta fazer para garantir um segundo turno contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)?
Não se pode dizer que Bolsonaro não tenha tentado. Ainda antes do início da campanha, promoveu desonerações, reajustou o Auxílio Brasil e distribuiu recursos a aliados do Centrão por meio do chamado Orçamento Secreto.
Com o início oficial da campanha, em 16 de agosto, os adversários passaram a denunciar o uso, pelo presidente, de eventos oficiais para promover sua candidatura - inclusive os atos de 7 de Setembro, quando foi celebrado o bicentenário da Independência do Brasil.
Bolsonaro paz e amor?
Se você tem acompanhado o dia a dia da campanha, deve ter notado também uma mudança de postura por parte de Bolsonaro. As declarações polêmicas cada vez mais dão lugar a falas moderadas e até mesmo a recuos em relação a temas antes caros ao presidente.
Em entrevista concedida no início da semana, Bolsonaro admitiu ter perdido a linha em relação a algumas de suas falas durante a pandemia. “Lamento o que eu falei, não falaria de novo”, disse ele. Na sequência, fez questão de chamar a atenção dos mais desatentos: “Você pode ver que de um ano para cá meu comportamento mudou. Minha cadeira é um aprendizado”.
Até mesmo os persistentes ataques ao sistema eleitoral — mais precisamente às urnas eletrônicas — e afirmações como “só Deus me tira daquela cadeira” deram lugar a uma sinalização de que “vai passar a faixa” e se “recolher” se for derrotado em outubro.
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No caso de intimidação de um deputado bolsonarista contra a jornalista Vera Magalhães, um dos filhos do presidente apressou-se em repudiar publicamente o episódio - embora num passado recente tanto o pai quanto sua numerada prole tenham protagonizado atos de hostilidade contra a profissional de mídia.
Entretanto, o efeito sobre as pesquisas foi limitado. Até houve uma reação nas intenções de voto do presidente, mas não o suficiente para impedir a campanha de Lula de sonhar com uma vitória já em 2 de outubro.
Com a rejeição mais alta entre todos os candidatos, Bolsonaro pode conquistar a vaga para o segundo turno não por méritos próprios, mas com o avanço de Ciro Gomes e Simone Tebet na preferência do eleitor. Porém, as últimas pesquisas mostram estagnação da chamada terceira via.
Lula e o voto útil
A pouco mais de duas semanas para as eleições, Lula flerta com a possibilidade de vitória em primeiro turno em pesquisas como as do Ipec (ex-Ibope) e do Datafolha, mas dentro da margem de erros das sondagens.
Embora a intenção de votos no ex-presidente esteja também estacionada, ela se encontra muito próxima da metade do eleitorado e pode ganhar o impulso de uma incipiente campanha pelo chamado “voto útil”.
No Ipec, Lula teria 51% dos votos válidos, contra 35% de Bolsonaro. No Ibope, o petista alcançaria 48%, ante 36% do candidato à reeleição.
Uma aposta no medo
Com pouco tempo para reagir, Bolsonaro passou a investir em um dos mais primitivos sentimentos humanos: o medo. Afinal, o medo da reeleição de Bolsonaro é apenas um pouco maior que o medo da volta do PT ao governo, segundo as pesquisas que abordam o tema.
Nos últimos dias, Bolsonaro e seus aliados — mais notoriamente o ministro da Economia, Paulo Guedes — usaram e abusaram de frases nas quais buscaram associar Lula e o PT ao “capeta”, ao “demônio” e demais nomenclaturas do cramunhão.
A aposta no antipetismo apresenta-se como a última cartada da campanha de Bolsonaro para garantir um segundo turno contra Lula e reconfigurar a disputa.
Resta saber qual medo vai prevalecer.