No filme recém lançado da Netflix “De Volta ao Baile”, Stephanie Conway acorda após 20 anos de coma e decide voltar para o ensino médio, recuperar o status de popular e ser coroada como a rainha do baile. Essa, porém, poderia ser a história das varejistas brasileiras, como Via (VIIA3) ou Americanas (AMER3) — e, em especial, do Magazine Luiza (MGLU3).
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As gigantes do varejo perderam o status de estrelas do mercado de ações para amargar perdas próximas a 90% nos últimos dois anos — período que coincide com o início do aperto monetário realizado pelo banco central brasileiro, que já monitorava o descasamento das perspectivas de inflação.
Mas, assim como a personagem do filme da Netflix, Magazine Luiza e Via ensaiam para voltar ao baile da B3 com ganhos acumulados de quase 30% no mês. A única que ainda não despertou do sono na bolsa é Americanas, que vai na contramão da alta recente das concorrentes, porém registrou uma queda menor.
Então será que as varejistas vão ser novamente coroadas como rainhas da bolsa? A resposta pode estar no balanço dessas empresas no segundo trimestre — e as três reportam seus números nesta noite.
O baile do varejo brasileiro
A tendência é que o varejo brasileiro mostre uma recuperação contínua das vendas no segundo trimestre, contrastando com o cenário de rápida deterioração para os consumidores, segundo analistas.
O Santander, no entanto, alerta que as margens operacionais pressionadas e a evolução do lucro por ação na comparação anual podem prenunciar uma piora no segundo semestre e em 2023.
“Esperamos que praticamente 60% das varejistas que acompanhamos reportem queda do lucro líquido ano a ano — devido a uma Selic mais alta e maior alavancagem financeira”, disseram os analistas Rubem Couto e Eric Huang.
Outra tendência a ser observada, segundo Couto e Huang, é a deterioração do financiamento ao consumidor, o que pode afetar negativamente algumas empresas.
Já o Citi destaca dois impulsionadores importantes de demanda para o varejo neste ano:
1) o Auxilio Brasil de R$ 600, anunciado em 15 de julho e que vai até o final de dezembro;
2) a Copa do Mundo (principalmente porque será durante o mês de Black Friday).
No entanto, o banco lembra que a persistente inflação, combinada com taxas de juros mais altas (igual a um maior custo da dívida), podem pesar no bolso dos consumidores e manter a demanda discricionária pressionada.
O que esperar do Magazine Luiza (MGLU3)?
O Magazine Luiza (MGLU3) entrou em 2022 com o pé esquerdo. As ações amargam perdas de 86% no ano e o Magalu saiu do lucro para um prejuízo líquido de R$ 161,3 milhões nos primeiros três meses do ano — muito em função do aumento das despesas financeiras no período.
O gráfico abaixo mostra o desempenho das ações do Magazine Luiza no ano:
Para o segundo trimestre, a expectativa é de que o Magazine Luiza apresente uma melhora sequencial em seus resultados, embora ainda com prejuízo.
Segundo o Itaú BBA, a divisão de unidades físicas do Magalu deve ficar estável na base anual, tanto em termos de receita quanto em vendas mesmas lojas (uma métrica importante para medir o desempenho do varejo).
Já para o comércio eletrônico, o banco espera crescimento na divisão 3P (marketplace) de 20% em base anual, que deve compensar a pressão da divisão 1P (venda própria on-line), cuja projeção é de queda de 7% em termos anuais, incluindo o Kabum — gerando um valor bruto de vendas (GMV) estável de R$ 10 bilhões.
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Abaixo a previsão de consenso para os resultados da Magazine Luiza no segundo trimestre de 2022 na comparação com o mesmo período de 2021, de acordo com a Bloomberg:
- Prejuízo líquido: R$ 86 milhões ante lucro de R$ 95,5 milhões
- Receita líquida: R$ 9,503 bilhões, alta de 5,4%
- Ebitda: R$ 463 milhões, queda de 0,45%
- Margem Ebitda: 4,9% ante 5,2%
Via (VIIA3) vai seguir os passos do Magazine Luiza (MGLU3)?
As ações da Via (VIIA3) acumulam perda de 76% no ano, mas recentemente ensaiaram uma recuperação — o ganho no mês já é de 26%.
O gráfico abaixo mostra o desempenho das ações da Via no ano:
Assim como o Magazine Luiza (MGLU3), a Via é mais exposta a eletroeletrônicos e, por isso, o cenário é naturalmente mais difícil no momento para a empresa.
Nesse ambiente, o Citi menciona a natureza altamente discricionária desses itens e a base de comparação menos favorável tanto para a Via como para o Magalu.
No primeiro trimestre, a Via teve um lucro líquido contábil — que inclui custos das provisões com processos trabalhistas — 90% menor na comparação com o mesmo período do ano anterior, de R$ 18 milhões.
Para o período de abril a junho, as projeções indicam que a dona das Casas Bahia deve encarar um prejuízo. As previsões de consenso da Bloomberg, na comparação com o mesmo período de 2021, indicam:
- Prejuízo líquido: R$ 115 milhões ante lucro de R$ 132 milhões
- Receita líquida: R$ 8,107 bilhões, alta de 3%
- Ebitda: R$ 632 milhões, alta de 30%
- Margem Ebitda: 7,8% ante 6,2%
Mas nem tudo está perdido para as varejistas. Ao contrário do Santander, que tem uma visão mais cautelosa para o futuro do setor, o Citi acredita que Magazine Luiza e Via podem ser beneficiados por comparações mais favoráveis no segundo semestre de 2022.
Embora projete uma queda considerável de vendas também em julho e agosto para a Via — de cerca de 11% e 2% em base anual, respectivamente — o banco prevê um ponto de inflexão em setembro, quando o crescimento das vendas deve ser retomado.
Americanas (AMER3): mais uma vítima das despesas financeiras
Se as despesas financeiras foram as principais responsáveis pela saída do Magazine Luiza do lucro para o prejuízo no primeiro trimestre, a Americanas (AMER3) deve assistir o mesmo filme no segundo trimestre.
Segundo a Eleven, o desempenho da varejista entre abril e junho deve ser misto, com crescimento de GMV de 11% em base anual, resultado do portfólio mais diversificado e menor dependência de produtos de linha branca.
Quanto à rentabilidade, a Eleven projeta uma expansão devido às novas políticas de comissionamento e sinergias da fusão com a B2W, mas alerta que a Americanas deve sofrer com o resultado líquido devido ao forte aumento das despesas financeiras.
Abaixo a previsão de consenso para os resultados da Americanas no segundo trimestre de 2022 na comparação com o mesmo período de 2021, de acordo com a Bloomberg:
- Prejuízo líquido: R$ 21 milhões ante lucro líquido de R$ 254,7 milhões
- Receita líquida: R$ 7,883 bilhões, alta de 14%
- Ebitda: R$ 996 milhões, queda de 7%
- Margem Ebitda: 12,6% ante 15,5%
O Citi explica que, após uma queima de caixa considerável no primeiro trimestre do ano, a Americanas deve reverter a maior parte desse desembolso no segundo semestre e entregar um fluxo de caixa operacional positivo em 2022.
No entanto, o aumento considerável das despesas financeiras à vista — impulsionado por taxas de juros mais altas — provavelmente compensará esse fluxo de caixa operacional positivo e pressionará os lucros.
A Americanas é uma das poucas varejistas que descola do grupo que viu as ações subirem recentemente. Os papéis AMER3 acumulam perda de 13% no mês e de 69% no ano. O gráfico abaixo mostra o desempenho das ações da Americanas no ano:
Comprar ou vender Magazine Luiza (MGLU3), Via (VIIA3) e Americanas (AMER3)?
Apesar de acumularem perdas próximas de 90% ano ano, as ações de Magazine Luiza (MGLU3), Via (VIIA3) e Americanas (AMER3) ensaiaram um rali recente, com ganho que chegou a 30% no mês.
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Será que é a hora de comprar essas ações? De acordo com dados compilados pelo TradeMap, Magazine Luiza tem 15 recomendações, mas nenhuma para venda. São nove para compra de MGLU3, e seis neutras.
O preço-alvo médio é de R$ 7,24, o que representa um potencial de valorização de 121% com relação ao fechamento do início da semana.
No caso da Via, das 15 recomendações, 12 são para compra e três para a venda, com preço-alvo médio de R$ 5,18 — o que representa um potencial de valorização de 77%.
Os dados do TradeMap também mostram que a Americanas tem 17 recomendações: nove de compra, oito neutras e nenhuma de venda. O preço-alvo médio é de R$ 34,56, o que representa um potencial de valorização de 143%.