As contas em moeda estrangeira proliferaram no Brasil nos últimos anos, mas quase todas são contas em dólar americano. A exceção é a Wise, antiga TransferWise, cuja conta pode ser carregada em até 53 moedas diferentes e movimentada por um cartão de débito.
Isso quer dizer que, além do dólar e do euro, a conta multimoedas da Wise também possibilita a conversão de reais para moedas como a libra esterlina, o dólar australiano ou canadense, o peso argentino, o iene e por aí vai.
Além disso, alguém que passe por inúmeros países de moedas diferentes em uma única viagem pode carregar sua conta com todas as divisas necessárias e até converter de uma moeda para a outra se precisar, quando já estiver na estrada.
Mas mesmo no que diz respeito ao dólar americano e ao euro, a conta Wise apresenta uma vantagem: é uma das opções mais baratas do mercado.
Como todas as contas em moeda estrangeira, ela também utiliza a cotação comercial da moeda - e não a turismo - e o IOF de 1,1% para converter de reais para a moeda estrangeira e 0,38% para converter o dinheiro de volta.
Por isso, essas contas são, no geral, mais baratas do que as formas tradicionais de comprar moeda estrangeira, como a aquisição de papel-moeda e cartões pré-pagos, bem como as compras com cartão de crédito internacional, como mostramos aqui.
Mas a taxa de conversão da Wise atualmente é mais baixa que o spread cobrado na maioria das outras contas, como mostramos nesta outra matéria.
Mas o que mais a Wise oferece? Quais seus prós e contras? E a conta é segura? Apresentamos tudo isso a seguir:
O que a conta Wise oferece
A conta Wise não é uma conta-corrente bancária internacional, como as demais, mas sim uma conta de dinheiro eletrônico para pessoas físicas maiores de 18 anos.
É uma conta multimoedas - isto é, você pode carregá-la com valores em diferentes moedas - movimentável por cartão de débito. Não há tarifa para abertura de conta ou emissão desse cartão. Também não há taxa de manutenção nem de inatividade, o que é importante para quem não viaja para o exterior com tanta frequência.
Custo do câmbio
Para carregar a conta na moeda desejada, o usuário deve pagar uma taxa percentual que varia de acordo com as moedas envolvidas na conversão e o tipo de transferência de dinheiro para a conta.
O custo para carregar a conta pode ser simulado na página da Wise sobre as recentes mudanças nas tarifas, no item “conta multimoeda”. Os valores já incluem o IOF de 1,1% quando o cliente é residente no Brasil e está carregando a conta em reais.
Como exemplo, veja como fica a Tarifa “conta multimoeda” para carregar a conta com dólares ou euros a partir de depósitos em real (IOF já incluso em todos os casos):
Real-dólar | Real-euro | |
Adicionar dinheiro - transferência bancária ou pela conta Wise | 2,17% | 2,14% |
Adicionar dinheiro - boleto | R$ 1,47 + 2,17% | R$ 1,47 + 2,14% |
Adicionar dinheiro - transferência rápida e fácil | 5,12% | 5,09% |
Converter entre moedas | 2,17% | 2,14% |
Enviar dinheiro da conta multimoeda | R$ 1,98 + 2,17% | R$ 1,42 + 2,14% |
O custo da Wise é um dos menores entre as contas em dólar e o menor entre as contas em euro, além de ser bem mais em conta do que a compra de papel-moeda ou de um cartão pré-pago.
Cartão de débito e saques
Para movimentar a conta, o cliente recebe um cartão de débito nas versões física e virtual, sem anuidade e com bandeira Visa, para compras presenciais e online, cadastro em carteiras virtuais (como Google Pay, Samsung Pay e Apple Pay), além de saques em caixas eletrônicos no exterior.
É possível emitir até três cartões virtuais de mesma titularidade, mas cartões adicionais (com outros titulares, mas ligados à mesma conta) não estão disponíveis.
O cliente tem direito a até dois saques gratuitos por mês em caixas eletrônicos que aceitem a bandeira Visa. A partir do terceiro saque, a tarifa é de R$ 6,50 por transação.
Mas há também um limite de valor para fazer valer a gratuidade. Embora seja possível sacar até R$ 5 mil por transação, R$ 11,5 mil por dia e R$ 30 mil por mês (ou o equivalente em moeda estrangeira), os dois primeiros saques do mês só são gratuitos caso o usuário saque até R$ 1.400 no mês. Acima deste valor, há cobrança de 1,75% sobre a quantia excedente. A rede de caixas eletrônicos também pode ter tarifas próprias.
O limite para compras em lojas físicas é de R$ 20 mil por transação, R$ 75 mil por dia e R$ 225 mil por mês (ou o equivalente em moeda estrangeira).
Já para compras online no exterior, os limites são de R$ 75 mil por transação, R$ 75 mil por dia e R$ 225 mil por mês (ou o equivalente em moeda estrangeira).
Caso necessário, o cliente Wise consegue fazer pagamentos no cartão e saques em moedas diferentes daquelas carregadas em sua conta, desde que haja saldo em alguma moeda estrangeira, isto é, desde que não haja apenas reais carregados na conta.
Nesse caso, é usada a taxa de conversão percentual tradicional da Wise. O valor será retirado da moeda com a menor taxa de conversão.
Transferências
É possível fazer transferências gratuitas de uma mesma moeda entre diferentes contas Wise. Também é possível transferir recursos em uma mesma moeda da conta Wise para uma conta bancária de outra pessoa, mediante o pagamento de uma tarifa fixa.
Para receber dinheiro na conta Wise, em algumas moedas, é possível gerar dados de conta bancária e compartilhá-los com a pessoa ou empresa que deseja enviar dinheiro.
Para quem reside no Brasil, é possível gerar dados de conta nas seguintes moedas: dólar americano, dólar australiano, libra esterlina, dólar canadense, euro, florim húngaro, dólar neozelandês, zloty polonês, dólar de Cingapura e lira turca.
Essa modalidade de recebimento é gratuita para todas as moedas, com exceção do dólar americano, que tem um custo de US$ 4,14 por transação.
Em todos os casos citados, o usuário pode realizar a conversão entre moedas na sua conta multimoeda, com a mesma conversão de câmbio já descrita.
A tarifa fixa para fazer transferências para contas bancárias no exterior varia de acordo com as moedas envolvidas na conversão.
O custo pode ser simulado na página da Wise sobre as recentes mudanças nas tarifas, no item “enviar dinheiro”. Os valores já incluem o IOF de 1,1% quando o cliente é residente no Brasil e está fazendo uma transferência para uma conta de sua própria titularidade no exterior. Caso a transferência seja para a conta de outra pessoa, o IOF é de 0,38%, então o custo total será menor do que o mostrado na simulação da Wise.
Como exemplo, veja como fica a Tarifa “enviar dinheiro” para transferir e converter quantias em real para dólar e euro (IOF de 1,1% já incluso em todos os casos):
Real-dólar* | Real-euro | |
Transferência bancária ou pela conta Wise | R$ 4 + 2,17% | R$ 3,69 + 2,14% |
Boleto | R$ 5,47 + 2,17% | R$ 5,16 + 2,14% |
Transferência rápida e fácil | R$ 4 + 5,12% | R$ 3,69 + 5,09% |
Pontos fracos: não há conta investimento nem proteção de um equivalente ao FGC - mas há sim uma garantia
Diferentemente de outras contas em moeda estrangeira, a Wise não oferece conta para investir no exterior para os usuários que moram no Brasil.
Além disso, por não se tratar de uma conta-corrente bancária tradicional, ela não está protegida pelo equivalente ao Fundo Garantidor de Créditos (FGC) em nenhum país.
Mas isso não significa que a Wise não seja regulada ou não conte com um sistema de proteção.
A Wise é regulada no Brasil pelo Banco Central como corretora de câmbio. Nos EUA, é regulada também pela Financial Crimes Enforcement Network, agência do Tesouro Americano que combate a lavagem de dinheiro e os crimes financeiros, e, no Reino Unido, pela Finance Conduct Authority (FCA), como instituição de dinheiro eletrônico, um tipo de provedor de serviço de pagamentos.
Segundo a regulamentação britânica, provedores de serviços de pagamentos são instituições não bancárias e, portanto, não protegidas pela Financial Services Compensation Scheme (FSCS), o FGC britânico.
Em vez disso, diz o site da FCA, elas têm o dever de proteger o dinheiro dos clientes por meio de um processo regulado de salvaguardas, que é de responsabilidade da instituição de dinheiro eletrônico, como é o caso da Wise. Caso a salvaguarda não seja feita corretamente, alerta a FCA, o cliente pode perder todo o dinheiro deixado na instituição.
O processo de salvaguarda exige que a instituição coloque o dinheiro dos clientes numa conta bancária separada ou proteja os recursos com uma apólice de seguro ou garantia similar.
Segundo a FCA, caso a instituição quebre, o cliente precisará entrar em contato com o liquidante ou administrador da empresa, que será o responsável por devolver os recursos. A instituição insolvente deverá informar quem eles são.
A FCA alerta ainda que a recuperação dos recursos salvaguardados pode levar mais tempo do que se eles estivessem protegidos pelo FSCS e pode não ser integral, uma vez que pode haver custos envolvidos no processo. Mas o órgão diz que o cliente deve conseguir reaver a maior parte dos seus recursos salvaguardados corretamente.
A Wise diz utilizar dois métodos de salvaguardas: o depósito do dinheiro em instituições bancárias e o investimento dos recursos em ativos líquidos emitidos por governos, principalmente títulos públicos.
Como exemplo, a empresa conta, no seu site, como salvaguardou o dinheiro dos clientes no Reino Unido até 25 de junho de 2021: por meio de depósitos em bancos como o JP Morgan, o Barclays e o Citi e do investimento em títulos públicos britânicos e americanos.
A Wise lembra ainda que as instituições financeiras onde são feitos os depósitos não são as responsáveis por gerenciar o dinheiro nas contas de salvaguarda ou em garantir que o montante correto esteja sendo salvaguardado. Esta responsabilidade é da própria Wise.
A instituição explica ainda que diversifica as instituições financeiras para reduzir o risco, além de analisar seus históricos de crédito.
Finalmente, diz a Wise, os recursos salvaguardados são inacessíveis aos seus credores, bancos ou terceiros. Mais informações sobre o processo de salvaguarda podem ser encontradas no site da Wise.
Se você quiser saber mais sobre outras contas em moeda estrangeira, no vídeo a seguir eu faço um apanhado sobre elas: