A combinação de dados negativos do terceiro trimestre abalaram as estruturas da Tenda. Resultado: as ações TEND3 caíram quase 10% na primeira hora das negociações desta sexta-feira (04).
Os papéis reduziram as perdas e fecharam o dia com queda de 5,74%, a R$ 5,91. No ano, as ações acumulam baixa de 66% e de 13,5% no mês.
Uma das maiores operadoras do Casa Verde e Amarela (CVA) encerrou o terceiro trimestre com prejuízo líquido consolidado de R$ 210,4 milhões ante lucro de R$ 6,4 milhões no mesmo período de 2021.
Mas não foi só essa a reversão de resultados. O Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado ficou negativo em R$ 121,9 milhões, depois do dado positivo de R$ 48,6 milhões um ano antes.
A construtora e incorporadora viu ainda a receita encolher 20,5%, indo para R$ 573,2 milhões, enquanto a margem bruta ajustada e consolidada diminuiu 16,9 pontos porcentuais na comparação anual, para 5,6%.
Segundo o Santander, a Tenda reportou outro conjunto de resultados mais fracos do que o esperado, impulsionados principalmente pela contínua fraqueza das margens, refletindo uma combinação de:
- custos de construção acima do orçado, principalmente relacionados ao forte aumento nos preços do concreto;
- maior provisionamento para devedores duvidosos, liderado por uma combinação de maior carteira de crédito e maior alavancagem do consumidor;
- outros itens não recorrentes no valor de R$ 64 milhões — como redução do valor recuperável de terrenos.
Vale ponderar que as ações da Tenda vêm de forte alta nos últimos pregões, com os investidores animados com os planos do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva de estimular a moradia para a população de baixa renda. Mesmo assim, as ações TEND3 acumulam perda da ordem de 60% neste ano.
Tenda (TEND3) concentra piora
A construtora e incorporadora divide seu balanço entre números da marca Tenda, que ergue residenciais de concreto, e da Alea, nova operação do grupo, baseada em madeira.
A piora dos números foi concentrada na operação da própria Tenda, que gerou prejuízo de R$ 187,7 milhões no terceiro trimestre. A margem bruta ajustada desta unidade ficou em 8,1%, contração de 15,1 pontos percentuais na comparação anual. Já a Alea gerou prejuízo de R$ 22,7 milhões.
A queima de caixa operacional consolidada do grupo foi de R$ 47,6 milhões no trimestre.
A companhia teve um resultado financeiro negativo de R$ 61,7 milhões, devido ao aumento do custo da dívida — a dívida líquida do grupo saltou para R$ 786,9 milhões no fim do terceiro trimestre de 2022, alta de 164,1% em um ano, enquanto os recursos disponíveis em caixa ficaram em R$ 716 milhões, queda de 31%.
O BTG Pactual vê esses números com preocupação em meio ao prejuízo e à queima de caixa da companhia, ressaltando que o desempenho da Tenda foi mais fraco do que o esperado.
Ainda teve efeito extraordinário
A Tenda reportou um total de R$ 156 milhões de perdas oriundas de efeitos classificados como extraordinários no balanço do terceiro trimestre de 2022.
Só a linha de aumento de custos gerou um impacto de R$ 76 milhões — ou 48% do total —, sendo R$ 45 milhões por inflação de materiais e R$ 31 milhões por ineficiências.
A companhia explicou que, apesar de a cesta de insumos estar em linha com o Índice Nacional de Custos da Construção (INCC), quando se olha a variação de preço item a item, o peso do cimento e do concreto é de 13,2%, enquanto no INCC esses insumos representam 5,1%.
Ou seja, a disparada no custo dessas matérias-primas teve um impacto relativo maior para a construtora.
A Tenda também admitiu que a escolha da tipologia de edifícios de 25 andares em São Paulo se mostrou mais complexa do que inicialmente previsto, o que gerou desvios de custos por ineficiência. Por consequência, a Tenda decidiu abandonar essa tipologia nos projetos futuros.
A companhia também registrou como efeito extraordinário o montante de R$ 16 milhões de provisões para devedores duvidosos (PDD), dada a alta da inadimplência dos consumidores.
Na verdade, a PDD atingiu o recorde de R$ 44 milhões — os R$ 16 milhões classificados como extraordinários dizem respeito apenas ao que ficou acima do esperado para o período.
A administração observou que a combinação de inflação recente elevada e o cenário de crédito mais restritivo vem impactando o poder de compra das famílias.
Tenda (TEND3): ter ou não ter?
O terceiro trimestre não foi apenas de notícias negativas para a Tenda (TEND3).
Segundo o Bradesco BBI, as novas vendas foram o principal destaque positivo do período — apresentaram margem bruta de 32,1% em setembro, alta de 10 pontos percentuais ante janeiro deste ano, e de 30,6% no trimestre, levemente acima do visto um ano antes, “refletindo a assertiva estratégia de preços da empresa”.
Diante desse cenário, o banco manteve recomendação neutra para as ações TEND3, com preço-alvo de R$ 7,00 — o que representa um potencial de valorização de 12% com relação ao fechamento de quinta-feira (04).
O BTG e o Santander também têm indicação neutra para os papéis da Tenda, com preços-alvo de R$ 6,00 e R$ 9,00, respectivamente. No caso do Santander, representa um potencial de valorização de 43,5%, mas o BTG vê uma desvalorização de 4,3% sobre o fechamento de ontem.