Frustrados após mais um balanço decepcionante, os investidores não hesitaram em vender as ações da Qualicorp (QUAL3) no pregão desta quarta-feira (9). Os papéis estiveram entre as maiores baixas do dia no Ibovespa e encerram a sessão com queda de 15,6%, a R$ 6,87.
A principal razão para esse movimento está no lucro líquido apresentado pela empresa no terceiro trimestre deste ano: um total de R$ 49 milhões, 55,4% abaixo do que foi visto no mesmo período do ano passado.
Com a missão de analisar os resultados da Qualicorp (QUAL3) e compreender as demais razões para tanta decepção, a maioria dos analistas apontam que o momento da empresa é bastante desafiador. Ainda que os números ruins sejam um retrato do trimestre passado, nada indica que os meses seguintes ou 2023 serão melhores.
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Entre as principais preocupações estão a restrição de renda da população brasileira, que hoje direciona a maior parte de seus gastos para alimentação e o pagamento de dívidas e deixa a ideia de ter um plano de saúde para depois. Assim, a alta dos preços e a procura fraca pelos serviços ainda deverá assombrar as empresas do setor por algum tempo.
A própria Qualicorp reconheceu que o nível atual da taxa de juros e a inflação são os principais vilões dessa história, que interferem na capacidade de pagamento dos clientes.
Taxa de cancelamento da Qualicorp (QUAL3) preocupa
A taxa de cancelamento (churn) da Qualicorp (QUAL3) acendeu um alerta nos investidores. A leitura é de que os aumentos de preços dos planos e, por consequência, mais cancelamentos, abalaram os resultados.
Vale lembrar que no caso da Qualicorp, o terceiro trimestre do ano concentrou os ajustes de preço, com alta de 23%.
“O churn veio bastante alto com uma perda líquida orgânica de 75 mil beneficiários nos planos. Apesar dos ajustes de preços, a receita por beneficiário médio aumentou apenas 1,4% na base anual, 5,8 pontos percentuais abaixo da inflação, o que sugere a continuidade da tendência de baixa de planos de saúde”, escreveram os analistas do Credit Suisse em relatório.
Para a equipe, outro ponto de atenção está nas margens da companhia, apesar do esforço para administrar os custos.
O banco tem recomendação neutra para QUAL3, com preço-alvo de R$ 9,00 — potencial de alta de 10,5% considerando o fechamento de terça-feira (8).
O Goldman Sachs, também em relatório, manteve postura semelhante. A equipe destacou o desempenho fraco das adições líquidas ao portfólio da Qualicorp, fruto do reajuste elevado.
O banco tem recomendação neutra para as ações, com preço-alvo de R$ 13 para os próximos 12 meses — potencial de alta de 59,7%.
"Os cancelamentos continuam sendo um problema para o portfólio de vidas, que neste trimestre ficaram em -180k. As adições brutas (vendas) também não ajudaram, com apenas 104 mil novos beneficiários orgânicos, o menor número desde o primeiro trimestre de 2021. As adições líquidas no trimestre foram de -70k vidas no 3T22 e o nível de reajustes altos foi o principal catalisador dessa dinâmica", escreveram os analistas da Genial Investimentos.
Eles destacam, ainda, que o alto nível de sinistralidade das operadoras de saúde ainda é preocupante e pode perpetuar o aumento nos preços.
Mas, tendo em vista que os resultados vieram dentro do que era esperado, a Genial manteve sua recomendação de manutenção do papel, com preço-alvo de R$ 14,00 — potencial de alta de 71,99%.
Para o Itaú BBA, os resultados também vieram dentro do esperado e, por isso, o banco parece ver a Qualicorp com um viés um pouco mais positivo.
Eles destacam que, apesar dos impactos da alta de preço, que causou o cancelamento de contratos, houve naturalmente um aumento do ticket médio dos clientes. Entre o segundo e o terceiro trimestres deste ano, a alta foi de 8%, deixando as receitas e o Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da companhia compatíveis com as projeções que haviam sido feitas.
Assim, o Itaú BBA manteve sua recomendação "em linha com o mercado" para QUAL3, com preço-alvo de R$ 12 para o fim deste ano — potencial de alta de 47,4%.