O cenário geopolítico conturbado no Leste Europeu deu gás para um rali das commodities — em especial, do petróleo. A escalada da commodity deveria ser positiva para a Petrobras (PETR3,PETR4), mas acaba trazendo junto o risco de intervenção nos preços, segundo Felipe Miranda, CIO e estrategista-chefe da Empiricus.
Os contratos futuros do Brent, referência internacional, chegaram a superar os US$ 130 por barril nos últimos dias. Com o avanço das cotações, importantes desdobramentos no Brasil e na petrolífera estatal devem ser acompanhados de perto, segundo o analista da Empiricus.
Um dos pontos de atenção por aqui é o embate de preços dos combustíveis, com inúmeras discussões rolando nos últimos dias. No governo, os debates estão ao redor da criação de um programa de subsídio aos combustíveis.
Ao mesmo tempo, o Ministério da Economia segue insistindo em um outro projeto no Senado: a mudança na cobrança do ICMS, que começaria a incidir sobre o litro do combustível, e não mais sobre o preço final.
Mesmo com a alta do petróleo, as ações da Petrobras são negociadas em queda de mais de 1% no pregão desta segunda-feira na B3.
Situação da Petrobras
Para Felipe Miranda, mesmo que PETR3 e PETR4 estejam baratas na bolsa, é necessário cautela. Isso porque existem diversos ruídos acerca da estatal, além de um embate de preços e de uma mudança anunciada no conselho de administração da petroleira.
“A temperatura está aumentando, seja por algum tipo de alteração na política de preços da Petrobras, seja por subsídio, o que fere a questão fiscal”, disse o analista da Empiricus.
Segundo o estrategista, a defasagem de preços dos combustíveis já chega a 25% na Petrobras.
“É importante tentar despersonalizar o assunto, a gasolina a R$ 10 seria inviável. É preciso observar isso com uma perspectiva objetiva, destacada de questões ideológicas”, disse Miranda, explicando que encontrar uma solução não será tão simples.
Quanto à dança das cadeiras no conselho, a companhia confirmou ontem a indicação de Rodolfo Landim, o atual presidente do Flamengo e próximo a Bolsonaro, à presidência.
Landim é um dos nomes escolhidos para substituir o almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira.
Petrobras ou 3R Petroleum?
Com o aumento dos ruídos envolvendo a Petrobras (PETR3, PETR4), o estrategista-chefe da Empiricus definiu sua recomendação: uma pequena exposição.
Por esse motivo, a empresa favorita de Felipe Miranda no setor petrolífero é a 3R Petroleum (RRRP3).
“Dado o contexto, o mercado já começa a reduzir suas posições de Petrobras e migrar para companhias como 3R (RRRP3) e PetroRio (PRIO3)”, afirmou, em uma análise publicada no site da Empiricus.
Petróleo, Rússia e Ucrânia
Os ataques russos à Ucrânia já vinham impulsionando os preços do petróleo nas últimas semanas, mas a disparada final veio no começo desta semana.
“Os catalisadores desses movimentos são a intensificação dos ataques da Rússia à Ucrânia e a declaração do secretário de Estado americano, Antony Blinken, sugerindo a possibilidade de embargo ao petróleo russo”, comentou o CIO da Empiricus.
O secretário disse em entrevista à CNN que o governo norte-americano e seus aliados na Europa estariam estudando proibir as importações russas de petróleo e gás natural.
A partir da fala de Blinken, a commodity escalou, atingindo patamares superiores a US$ 130 por barril, nível mais alto desde julho de 2008.